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portugal dos pequeninos

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Retrato de um misericordioso que ri

João Gonçalves 3 Fev 15

 

O jornal i entrevistou o senhor presidente da União das Misericórdias Portuguesas, Manuel Lemos. Ficámos a saber, como se isso interessasse para a prova de Deus, que a criatura ocupa o cargo «depois da junção de uma série de factores: estava divorciado e, por isso, com mais disponibilidade, os filhos tinham o percurso encaminhado e reunia experiência na área social, acrescendo ao facto de ser católico». Um bonzinho, portanto, por natureza votado a obras de misericórdia - casar-se, divorciar-se e "encaminhar" os filhos. Só na avaliação da pobreza é que se desvanecem as bem-aventuranças. De acordo com Lemos, a pobreza "é uma questão de auto-estima, acima de tudo" que também chegou àquela aquela "casta" - criada pela novilíngua política - dos que "vivem acima das suas possibilidades: «estamos a falar da classe média que comprou casa e carro, fazia férias no estrangeiro e, de repente, se viu sem nada disso. Isso entra num plano íntimo das pessoas que se manifesta numa agressividade latente, no ar triste do dia-a-dia, nos insultos ao governo e, agora, até à oposição.» Pelo contrário, Lemos fez o que pôde: «quanto à natalidade, devíamos ter 2,1 filhos [o que será 0,1 filho?] para garantir a renovação das gerações e eu, como tenho dois filhos, já dei a minha contribuição (risos).» Revela-se um homem para qualquer estação: «Face às pessoas, este governo foi uma desilusão, tendo em conta que lhes cortou reformas, subsídios, etc. Em relação às instituições, este governo foi exemplar, porque se sentou a conversar connosco. O governo percebeu que, sem nós, tínhamos tido uma situação muito pior. Quando se diz que somos a almofada social, nós somos a almofada, o travesseiro, o edredão, o colchão com penas. É um apoiante deste governo? É comum dizerem isso, mas eu não apoio o governo, apoio as Misericórdias. Se o governo quer conversar comigo sobre isso, claro que me interessa, mas se o governo me vem dizer o que fazer, já não me interessa. Eu sei que é fácil bater em Passos Coelho, mas atendeu-me sempre que eu precisei. Não é muito cool dizer isto, mas é verdade (...) O PS tem uma tradição fantástica e única de ligação ao sector social que o PSD e o CDS estão a recuperar.» E fominha, em geral? Responde o misericordioso-mor: «Em algumas zonas urbanas e bairros sociais é um problema, sim. Mas também digo que, em Portugal, só passa fome quem quer. Há quem passe fome por desconhecimento da presença das cantinas sociais e temos também os casos de pobreza envergonhada que preferem não pedir ajuda. Mas não é por falta de resposta. » Também não lhe falta a resposta quanto ao seu próprio futuro. «O seu nome é apontado como o mais certo para substituir Silva Peneda no Conselho Económico e Social. Como tem sido abordado o tema? Não me tenho preocupado nada com isso. Fiquei muito surpreendido, mas não entra na minha equação. Não pensa aceitar o cargo? Esse cargo é de exclusividade. Não seria compatível com a presidência da União das Misericórdias. Entre os dois cargos, qual escolheria? A União das Misericórdias. Uma coisa é fazer uma substituição pontual de um presidente e ficar lá uns meses. Para ajudar, estou sempre disponível, mas para ficar em permanência não. Quem acha que seria a pessoa ideal? (risos) Pergunte ao dr. Passos Coelho ou ao dr. António Costa.» É caso, porém, para perguntar a ele: ri de quê?

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