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"Os tempos são ligeiros e nós pesados porque nos sobram recordações". Agustina Bessa-Luís
João Gonçalves 28 Fev 15
O dr. Passos Coelho foi entrevistado por um semanário. São quatro longas páginas de conversa. As dedicadas à economia e às finanças são previsivelmente insuportáveis. Há, aliás, uma "confissão" curiosa quando o primeiro-ministro assume poder ter existido medidas e cortes "cegos" (designadamente na saúde) mas era preciso apresentar a conta-corrente, de três em três meses, à "consideração superior". Devia ter "encaixado" aí o regresso, já em Maio, aos PEC's sobre os quais não profere uma palavra. Quanto à parte "política", Passos sai-se bem salvo nos elogios indirectos a dois ministros pseudo "reformistas" que inexistem há muito. Demonstra a sua autoridade sobre o governo (e a maioria), desmitifica a "alternativa" Costa (a qual, aliás, se tem encarregado de "desmitificar" a si próprio com denodado método e uma notável persistência) e pede uma maioria para continuar a governar. Se ela não vier, o presidente do PSD não fecha as portas nem sequer à sua permanência à frente do partido ou como lugar-tenente de um hipotético "bloco central". O "estudo de opinião" sobre as eleições que o mesmo semanário edita parece dar-lhe razão. Sessenta e tal por cento dos inquiridos revê-se no "arco da governação" com uma ligeira tendência de supremacia favorável ao PS. Numa palavra, e apesar de o "estudo" ser simpático para a coligação, Passos, ao contrário de Costa, só ganha se ganhar absolutamente. Ora quer um quer o outro estão longe dos 116 deputados para o efeito embora a Costa sirva perfeitamente "chegar na frente" com cerca de cem ou menos. À coligação só serve os cem mais os dezasseis. Abaixo disso acabou-se. Não faço ideia como é que Passos tenciona gerir a apresentação eleitoral da maioria por forma a que o país torne a confiar nele. Talvez lhe conviesse chamar às listas independentes de centro-esquerda e críticos do "pensamento único" destes últimos quatro anos que, apesar de tudo, rejeitam a falácia Costa. E menos das figuras cabisbaixas e quase nulas provenientes da intendência partidária. Não estará tudo em aberto. Todavia nem tudo estará completamente fechado. Fica nas mãos dele.
João Gonçalves 27 Fev 15
A Comissão Europeia - que faz de preboste na execução do estúpido tratado orçamental, a verdadeira "constituição europeia" - veio lembrar a um dos seus melhores alunos, o governo português (em funções ou outro qualquer por vir), que o PEAF não só não chegou como da sua aplicação resultaram "desequilíbrios excessivos" (como se estes estupores não soubessem o que é que ia "resultar" na periferia) tais como o aumento da dívida, do desemprego e da pobreza. No fundo a Comissão escreveu o prefácio do primeiro PEC do governo do dr. Passos o qual entrará já em vigor na saison primavera-verão e em plena pré-campanha eleitoral doméstica. Ou seja, o "arco da governação" não pode ter outro programa a não ser o que lhe vai ser imposto pelas "entidades" do costume que resultam do dito tratado. É esse, também, o engulho do dr. Costa e menos a sabujice circunstancial a terceiros. O resto são jogos florais.
João Gonçalves 26 Fev 15
O sr. Melo do CDS - que Paulo Rangel tem andado a promover a inteligente - esgaravatou e deu de caras com um clip com o dr. Costa. Era no casino da Póvoa e o secretário-geral do PS falava para uma plateia composta fundamentalmente por cidadãos chineses. Celebravam, parece, o início do "ano da cabra". Costa, como lhe competia, disse aos que o escutavam o que eles queriam ouvir. Amanhã, se estiver diante de marcianos, fará exactamente o mesmo: elogios. Sugeriu um país "diferente" do de há quatro anos, presumivelmente "melhor" também por causa daqueles magníficos cidadãos. O sr. Melo, e atrás dele uma pequena multidão de serventuários menores da maioria, achou que isto era imperdível para a glorificação do exercício governativo. Não se enganou. Conseguiu colocar um candidato a primeiro-ministro no lugar de candidato a, por exemplo, secretário de Estado do dr. Portas. A "conversa" de Costa não andou longe das arengas de feira nacional ou internacional tão do agrado do senhor vice. Chapeau.
João Gonçalves 25 Fev 15
«Em política, Pavlov reina como mestre de cãezinhos. É tudo tão previsível, tão fácil de identificar, tão rudimentar, tão… pavloviano. Grite-se Sócrates, Costa, Boaventura, Syriza, Bagão, Louçã, Manuela, eu próprio, os gregos, Varoufakis e logo uma pequena multidão começa a salivar nas redes sociais, nos blogues, nos "porta-vozes" oficiais e oficiosos do PSD e do CDS. Muita desta raiva vem do desespero. Os melhores dias já estão no passado e as perspectivas são sombrias. É verdade que muitos aproveitaram estes anos de ouro para se incrustar em lugares de nomeação ou influência governamental. E vão continuar lá. Claro que há de vez em quando uns pequenos grãos na engrenagem. Jardim, por exemplo, do "je suis Syriza", ou Marcelo que dá uma no cravo e outra na ferradura. Mas para estes pequenos propagandistas não pode haver hesitações. É o combate final e não há "mas", nem meio "mas", é tudo a preto e branco. Ou se é grego ou alemão. Animam-se com o facto de as manifestações pró-gregas terem pouca gente, mas ignoram as sondagens que mostram que muita gente ultrapassou os argumentos mesquinhos de Cavaco e Passos e tem simpatia pelos gregos. À direita e à esquerda, porque toda a gente precisava de um assomo qualquer de dignidade nacional numa União Europeia manietada pela elite política mais autoritária e escassamente democrática que chegou ao poder nestes últimos anos. Enganam-se se pensam que são os esquerdismos do programa do Syriza que mobilizam as simpatias. É por isso que há pouca gente nas manifestações, porque elas são miméticas desse esquerdismo. Mas o que faz as sondagens maioritárias pró-gregos, a "maioria silenciosa", é a afirmação nacional, a independência, a soberania, a honra perdida das nações resgatada por um povo. É uma gigantesca bofetada nos patriotas de boca e empáfia que aceitaram tudo, assinaram tudo, geriram o "protectorado" com zelo e colaboração, e terminam o seu tempo útil servindo para fazer o sale boulot alemão.»
João Gonçalves 24 Fev 15
Quem conheceu um pouco por dentro a "coligação" só pode ser contra a reedição dela nas próximas legislativas. Sem capacidade de alargamento para o centro-esquerda, viciada em remoques internos puramente taticistas, descoordenada e alheada da vida das pessoas, prisioneira ora da vaidade de uns ora da inépcia de outros, mantida pelo decurso do tempo e pelo exercício do poder, refém de um passado contraditório e austeritário (o "peso" carregado pelas costas do dr. Passos como Gaspar salientou quando saiu), a coligação terminou politicamente com a finalização "técnica" do PAEF. Pela sua parte, como aliás lhe compete, o dr. Portas será o que for preciso para se manter quer à frente do seu partido quer ao lado de quem lhe der mais jeito. É essa a essência do seu tão admirado "pragmatismo" que mereceu das mais altas instâncias do Estado a devida vénia aquando da sua promoção a vice-PM, coisa impensável em qualquer das anteriores AD's. No voto também se julgam carácteres. E assim será, uma vez mais, em relação aos principais protagonistas das próximas legislativas, às direitas e às esquerdas. A emergência de outras coisas não brotará do acaso.
João Gonçalves 22 Fev 15
Um conselheiro nacional do CDS escreveu uma carta aos companheiros (não sei se é assim que eles se tratam entre eles). Provavelmente não valerá de nada num partido unipessoal em que o líder define, em exclusivo, quem é quem e onde é que pode ser alguma coisa. Portas "acumula" a função de presidente do partido com todas as outras funções do partido. É o mais antigo dirigente partidário no activo descontando a pequena intermitência do sr. Castro. Talvez por ter pensado um bocadinho neste caldo cujo futuro assenta, no essencial, num passado autosuficiente e autocomplacente - os três ou quatro acólitos directos do chefe limitam-se a alimentar acefalamente este estafado egocentrismo - e numa lata infinita, o militante colocou pelo menos as suas mãos na ferida narcísica nunca assumida. "Quando foi chamado a reformar o Estado não estava lá", "nunca o CDS pareceu estar, como devia, confortável nesta coligação”, foi obrigado "a meter as suas ideias na gaveta, depois de terem perdido parte das suas competências ou de terem de nomear boys para cargos da administração pública quando haviam jurado que jamais o fariam”, "deve ser, na verdade, muito desconfortável! Mesmo para o presidente do partido que, apesar de tudo, logrou ver reconhecido o seu lugar na sequência do seu próprio pedido de demissão", etc, etc. O conselheiro revela adequadamente o "estatuto" deste, afinal, velho CDS na coligação depois da farsa do "irrevogável": disposto a tudo para sobreviver.
João Gonçalves 21 Fev 15
Não acompanho a "tese bipolarizadora" do autor - na substância equivale a uma mera mudança, ou nem isso, nas mãos que embalam o "arco da governação" que persistiria inerme - porque, ao contrário do que aconteceu nesta legislatura, espero que a próxima tenha duas partes e seja menos "simplificada": uma turbulenta e animada pelo atomismo dos resultados eleitorais e uma segunda, negociada e ponderada, que reflicta politicamente mais as necessidades do país do que as das suas estafadas "elites". De resto, Pacheco Pereira "bate no ponto". «Aquilo que se tem chamado a “ditadura dos mercados” é a forma moderna de fusão dos interesses económicos com a política, que já não permite a caricatura dos capitalistas de cartola, senhores do aço e das fábricas de altas chaminés, mas sim os impecáveis banqueiros e altos consultores vestidos de pin stripes, assessorados por uma multidão de yuppies vindos das universidades certas com o seu MBA, que num qualquer gabinete do HBSC movem dinheiro das ilhas Caimão para contas numeradas na Suíça. Entre os perdedores não está apenas quem trabalha, no campo ou nas fábricas, ou a classe média ligada aos serviços e à função pública, mas estão também os interesses económicos ligados às actividades produtivas, ao comércio que ainda não é apenas uma extensão de operações financeiras, e à indústria. A rasoira que tem feito na Europa, usando com grande eficácia as instituições da União Europeia, não é da “política” em si, porque o que eles fazem é política pura, mas sim de qualquer diversidade política, tendo comido os partidos socialistas ao pequeno-almoço, com a ementa do Tratado Orçamental. É por isso que, nestes anos do “ajustamento”, o PS foi muito mais colaborante no essencial do que os combates verbais pré-eleitorais indiciam, com os socialistas europeus domados pelos governos do PPE como se vê na questão grega. Os partidos socialistas e sociais-democratas têm de facto a “honra perdida”. O PSD penará por muitos anos o ter-se tornado não apenas um partido do “ajustamento”, mas o partido do “ajustamento”, o mais alemão dos partidos nessa nova internacional política dos “mercados”. Fez o papel que o CDS sempre gostaria de ter feito e desagregou-se em termos ideológicos, perdeu a face e a identidade. O seu destino próximo será recolher os votos necessários para manter uma frente conservadora, muito à direita, com um CDS que por si só não tem os votos necessários para governar. É mais instrumental do que confiável pelas mesmas elites que ajuda a servir, que consideram a sua partidocracia como muito incompetente, e perdeu há muito o mundo do trabalho, as universidades, a juventude estudantil, os genuínos self-made men.»
João Gonçalves 20 Fev 15
Mesmo que ao de leve a "Europa" recuperou o lastro negocial, de boa tensão, que a instituiu. Até o "eixo franco-alemão", presentemente uma caricatura do que foi noutras alturas, se manifestou pela "segurança" do euro e pela permanência do Eurogrupo na sua presente configuração. O dr. Passos, aliás, já estava atrasado em relação a este "eixo" (ou à parte que lhe é mais simpática nele) quando, no parlamento, se pronunciou sobre países-membros que tem por pouco atiladinhos. Mesmo assim o nosso, apesar de mostrado ao mundo como "exemplar" cumpridor de programas ditos "indignos" e como pagador certinho de reembolsos a credores, não consegue sair do "lixo" da Moody's. Constou que, entre outros, se teria "empertigado" contra as mais recentes decisões encontradas no Eurogrupo com outro Estado-membro. Também constituiria uma forma de "lixo".
João Gonçalves 19 Fev 15
Agora é que se vai ver se a "Europa" passou a ser um diktat contabilístico Unter den Linden ou se ainda se concebe como uma união política de soberanias. E também se vai ver, ou rever, até onde chega a capacidade de agachamento de alguns Estados-membros. Quanto às "instituições" tipo Comissão Europeia, o mea culpa farsolas do sr. Juncker só será válido se corresponder, como se diz no direito, a uma declaração séria no meio do monte do estrume que representa, desde as eleições helénicas, o princípio e o fim da conversa não democrática alemã. Não há mapas cor de rosa.
João Gonçalves 18 Fev 15
Decorre entre amanhã e sexta-feira, na Fundação Gulbenkian (Auditório2), a conferência José Medeiros Ferreira, O cidadão, o político, o historiador, com entrada livre. Participarei num dos painéis e, do depoimento que escrevi para o livro da foto editado na circunstância deste debate, deixo aqui um excerto a propósito dos dias que correm. «Ponderava, como poucos, as funções de soberania no Estado moderno democrático e falava disso com a vivacidade lúcida e informada de quem conhecia bem a história contemporânea portuguesa. Há apenas quatro anos, informado da minha colaboração com o programa do XIX Governo Constitucional no qual recorri a um título seu, brincou a sério: «eu vi logo que não era a malta do «estado mínimo!» Em Medeiros Ferreira surpreendi constantemente aquela inquietação intuitiva que separa os políticos de métier dos homens que encaram a política como uma cibernética, entre a reflexão e a acção, que calibra, em ambiente de contingência e de forma contínua, a ininterrupta conversa democrática mesmo quando “lançada” de um “exílio interior”.»
Primeiro tem de me explicar o que é isso do “desta...
obviamente nao é culpa do autor ter sido escolhi...
Estou de acordo. Há questões em que cada macaco se...
Fui soldado PE 2 turno de 1986, estive na recruta ...
Então António de Araújo foi afastado do Expresso p...