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"Os tempos são ligeiros e nós pesados porque nos sobram recordações". Agustina Bessa-Luís
João Gonçalves 12 Dez 14
O senhor vice PM, num jantar de natal do seu partido, mostrou-se deveras indignado com o eventual exercício do direito à greve por parte de doze sindicatos da TAP. "Uma greve de quatro dias, em cima do fim do ano, é evidentemente um prejuízo enorme para uma empresa que não vive dias fáceis. É um sarilho e uma complicação para a vida das famílias e pessoas que tinham viagens marcadas. É um dano para aquelas regiões do país que precisam absolutamente do transporte aéreo", afirmou aparentemente sem se rir. O seu delegado para o turismo também fez umas continhas e "apontou" para qualquer coisa acima de 140 milhões de euros que não "entrariam" já que o dr. Lima estava ausente desta feita em Boston. Tudo somado, porém, a coisa fica longe dos custos de outro "sarilho", de outra "complicação" e de outro "dano" de efeitos nacionais prolongados. Refiro-me às consequências da "demissão irrevogável" - não configurou "um acto de egoísmo"? - dos primeiros dias de Julho de 2013, devidamente avaliadas no final do ano passado: «esta crise no Governo fez com que a bolsa perdesse 2,3 mil milhões de euros.» Parafraseando o sábio Millor Fernandes, mais vale estar calado e passar por um moralista dissimulado do que abrir a boca e acabar com as dúvidas.
João Gonçalves 12 Dez 14
«Acompanhei com interesse os últimos acrescentos à lista do património imaterial da humanidade, e muito especialmente o caso do pão caseiro na Arménia. Temos a ideia razoável de que tudo aquilo que é humano neste sentido elevado deve ser muito antigo, e até imemorial. Àquilo que fazemos com regularidade chamamos costumes ou hábitos; e as histórias que contamos acerca dos nossos hábitos são histórias em que costumamos colocar-nos na posição de seus herdeiros. Há o hábito de afastar o mais possível do nosso tempo a origem desses costumes. Um historiador demonstrou que, pelo menos até 1917, a única coisa que se comia na Arménia era salada russa. O conceito de património imaterial é vulnerável a estes percalços. De facto, depende de evidências; mas as evidências têm uma tendência desafortunada para serem materiais. Mal começamos a reconstruir as evidências materiais do património imaterial, a origem de tudo aquilo que achamos que se perde na noite dos tempos aproxima-se assustadoramente da semana passada. A alegação de hábitos, costumes e tradições não ganha assim muito em ser escrutinada, a não ser quando o motivo e a empresa são de humilhação e castigo. Um conhecido poeta arménio observou que o pão caseiro é o nada que é tudo. Agir como se o nada fosse alguma coisa equivale a querer pedir certificados de autenticidade para as ideias que costumamos ter, e a pedir a terceiros que garantam que sempre as tivemos. É a importância que para nós têm certas ideias que nos leva a ir bater à porta das sociedades e instituições especializadas na certificação de fenómenos imateriais. Esta diligência inaugura porém uma série de infelicidades. A certificação das nossas ideias preferidas requer evidências; abre a porta à possibilidade de aparecer alguém que as irá enxovalhar, e explicar que aquilo que nos parece importante é trivial, e que aquilo que nos parece antigo é recente. Ao contrário do que possa parecer não se trata de um problema ou de um defeito da historiografia ou da cultura; trata-se de uma característica da espécie a que alguém chamou animais racionais e dependentes. Tais animais, pessoas exactamente como nós, inclinam-se a pensar que as suas ideias e actividades tiveram todas origem em tempos muito remotos; esta inclinação, porém, quase nunca resiste a um escrutínio hostil. Uma vida inteira de Verões passados na Nazaré são afinal oito anos; um costume secular, pouco mais de cinquenta e quatro. É preciso distinguir as nossas ideias importantes das nossas fantasias de certificação, as coisas imateriais das coisas imemoriais. As nossas infelicidades com aquilo que é imaterial indicam que o que é material no fundo não nos interessa muito; e as nossas infelicidades com a noção de imemorial indicam que somos animais desmemoriados.»
Primeiro tem de me explicar o que é isso do “desta...
obviamente nao é culpa do autor ter sido escolhi...
Estou de acordo. Há questões em que cada macaco se...
Fui soldado PE 2 turno de 1986, estive na recruta ...
Então António de Araújo foi afastado do Expresso p...