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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

Não é pouco

João Gonçalves 7 Dez 14

 

Mário Soares celebra hoje o seu 90,º aniversário. Numa entrevista de 1984, afirmava nunca ter dado «uma excessiva importância aos debates ideológicos» e sempre ter condicionado «muito mais a minha acção pelas relações políticas e tácticas no terreno, por forma a, pragmaticamente, levar a água ao meu moinho.» Julgo que nunca se definiu tão bem. As "polémicas" dos últimos anos - o parlamento europeu, a terceira candidatura, o radicalismo - podem ser lidas à luz daquela afirmação. Soares é o político puro. Conheci-o pessoalmente em Julho de 1985, no Hotel Altis, num acto singelo e quase clandestino em que um grupo de cidadãos, não  afectos ao Partido Socialista, “apelava” à candidatura presidencial do então primeiro-ministro. Dessa fantástica odisseia de meses e meses recordo dois momentos. O primeiro, em Alhandra, onde o candidato Soares passava num fim de tarde de sábado entre insultos e ameaças do “povo comunista". Não se intimidou com o tradicional “vai-te embora” ou com as pancadas nos automóveis da caravana. Sem medos e de megafone na mão, falou e foi escutado em silêncio. Já na segunda volta, houve um encontro, no Solar do Vinho do Porto, com “intelectuais” e jornalistas. A maioria tinha "chegado" das candidaturas de Zenha e de Pintasilgo. Eduardo Prado Coelho perguntou-me o que é que estava ali a fazer (nessa altura eu colaborava no Semanário). Respondi que já lá estava, eles é que acabavam de chegar. Dois dias depois Soares era eleito Presidente. Com ele, contra ele, outra vez com ele ou outra vez contra ele (ou ele sozinho contra o "mundo"), a política doméstica não o dispensa desde que, muito novo, ingressou no Partido Comunista. Convém não esquecer que Soares passou mais tempo na oposição do que propriamente no “poder”: fez cinquenta anos em 1974. Talvez  seja "assim" porque, estruturalmente, nunca poderia ter sido de outra maneira. A Mário Soares, entre outros civis e militares, devemos o lance da liberdade e a tentativa europeia. Não é pouco.

 

Foto: Impresa

Só os criados

João Gonçalves 7 Dez 14

 

«Durante a Monarquia Constitucional o feriado que sobre todos comemorava o regime era o “24 de Julho” de 1833, dia em que as tropas do duque da Terceira atravessaram o Tejo e tomaram Lisboa a D. Miguel. Na segunda metade do século, ninguém se lembrava do “1 de Dezembro” e os críticos do regime de Ramalho Ortigão aos republicanos desprezavam e ridicularizavam a “Sociedade 1º de Dezembro” (que não sei se ainda existe), como centro de propaganda da corte e dos Braganças. Só os criados se metiam nessa fantasia, que o grosso do país letrado não levava a sério. Os republicanos, logicamente, não continuaram os festejos da dinastia (agora no exílio) e os monárquicos para se poupar a maçadas também não. O próprio Salazar, embora restaurasse o feriado, nunca fez um alarido à volta do caso e deixou a “Sociedade” agonizar no Rossio com a maior indiferença. A República escolheu para seu feriado o “5 de Outubro”, que o terrorismo do regime não permitia que fosse uma data nacional. E a Ditadura inventou o “10 de Junho”, sem raízes, nem conotações políticas desagradáveis, para se tornar dona e senhora do maior símbolo da “Raça e do Império”. O bom povo nunca espontaneamente participou nesta aberração. O “25 de Abril” adoptou o “25 de Abril” para celebrar a vitória do MFA, e não tocou na série de feriados já estabelecidos; ou nos feriados da Igreja; ou sequer nos santinhos regionais, que muitas vezes se juntam e continuam por semanas. Claro que a trapalhada vigente precisava de uma reforma radical. Mas com certeza que não merece no meio da miséria de Portugal uma única palavra.»

 

Vasco Pulido Valente, Público

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