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portugal dos pequeninos

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Da indigência

João Gonçalves 6 Nov 14

«O ministro da Economia, António Pires de Lima, considerou hoje que a recuperação do investimento "é como "'Ketchup' e golos do Ronaldo", já que assim que começa "vem em golpes mais fortes".» Foi para chegar a esta indigência que removeram o Álvaro Santos Pereira? Ou para o pequeno Adolfo do turismo aparecer provincianamente na CNN como mero ersatz político de uma vulgar agência de viagens? Bom proveito.

 

Manuel Maria Carrilho escrevia ultimamente às quintas-feiras no Diário de Notícias. A "renovação" a que se entregou aquele jornal - é dos mais "renovadores" desde os tempos do Doutor Salazar, passando pelo PREC, idos recentes e chegando aos ambíguos dias de hoje - determinou a sua saída. Muitas vezes as referi aqui e, como não leio praticamente nenhum dos incumbentes uma vez que quem lê um, se conseguir, lê todos, sinto a sua falta. É claro que num "espaço público" quase inteiramente tomado pela trivialidade, pela suspeita, pelo ressentimento e pela frivolidade (seja qual for o "sector" abordado já que estão todos tão imprudente quanto perversamente misturados), pensar em qualquer coisa de forma diversa chega a ser insultuoso para a doxa. Não é só a filosofia que incomoda a estupidez como dizia G. Deleuze. Agora é o confronto da estupidez consigo mesma, enquanto "narrativa" global, que incomoda, ou talvez não, porque se instituiu progressivamente como uma "prática" dos vários poderes fundidos numa mesma obsessão comunicacional tosca. Ao arrepio desta preocupante tendência, sempre surpreendi Carrilho (cito-o de agora em diante) «mais interessado em responder aos novos desafios que o mundo apresenta do que em participar em necrófilos rituais de autoconsolação». Se, por exemplo, um representante do poder político não conhece o seu lugar nem se dá ao respeito, há o risco do grotesco em política tal como o definiu M. Foucault, isto é, «aquilo que se revela quando "a maximização dos efeitos de poder acontece a partir da desqualificação de quem os produz".» Mas, «como vivemos a folhetinizar tudo, acontecimentos e idiotices, catástrofes e efemérides, escândalos públicos e vidas privadas, escapa-nos tanto o sentido da história que explica como o pressentimento do futuro que mobiliza. E o presente torna-se, assim, numa interminável e pura actualidade, ora mais gelatinosa ora mais granítica, mas sempre cega e sem contexto, reduzida a protagonismos, a conflitos e a fait-divers. A informação conta muito, claro. Foi de resto um jornalista, Jean-François Kahn, quem melhor caracterizou a ideologia mediática hoje dominante (quase apetece dizer: a ideologia do "partido dos media") como um cocktail de infantilismo, de liberalismo e de conformismo. Cocktail que transforma, como já uma vez escrevi, o espaço público português num espaço sufocante de lérias, lamúrias e larachas, que a alternância entre a banalidade e a boçalidade procura converter num simulacro informativo. O atordoamento da sociedade portuguesa resulta, em boa parte, disto: da nossa submissão a uma actualidade que se vive como incontornável mas, ao mesmo tempo, sem sentido.»

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