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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

Um retrato a dois tempos

João Gonçalves 30 Out 14

 

1. «Se a introdução do "amor" na política resolve as dificuldades conjugais reveladas nestes anos de coligação entre o PSD e o CDS, é cedo para se perceber. Os humores na coligação são como o tempo nos Açores: quando persiste uma bruma cerrada dá-se esporadicamente a ingerência de um raio de Sol. As ilhas do canal estavam sob bruma cerrada e nenhum desanuviamento sobre a renovação dos votos com o CDS para as próximas legislativas atravessou o pensamento de Passos Coelho. O assunto vem "a destempo", importa apostar "na reforma do Estado", o tal dossiê que tinha sido entregue a Portas. Passos Coelho, primeiro-ministro e líder do partido mais forte, não facilitará a vida ao parceiro mais frágil: de resto, ao longo deste tempo no governo, nunca facilitou. "Sei que daqui a um ano há eleições", diz Passos Coelho (não foi "o Pedro" a dizer isto, foi o líder do governo que humilhou Portas no Orçamento e que negociará o acordo de coligação que melhor sirva os interesses do PSD). Há mantras que podem tramar um primeiro-ministro. A insistência na "inovação" levou a uma situação absolutamente cómica. Passos é recebido na Câmara da Madalena do Pico pelo grupo etnográfico da Candelária, uma freguesia da ilha. Passos dá os parabéns ao grupo que recolheu os cantares tradicionais do Pico e pede-lhes "inovação".

- Isso não podemos fazer, senhor primeiro-ministro. O nosso trabalho é mesmo preservar as músicas tradicionais.

- Mas devemos pôr inovação em tudo o que fazemos.

Inovação, só a ideia do primeiro-ministro. Mas a tradição ensina: "Eu fui ao Pico, piquei-me/Ai sim, piquei-me, piquei-me lá num picão/O pico nasce da silva/ Nasce da silva e a silva nasce do chão."»

 

Ana Sá Lopes, i

 

2. «A promessa de reposição dos salários dos funcionários públicos em 2016 durou exactamente duas horas. Às dez da manhã, no discurso de abertura da discussão sobre o Orçamento do Estado, Passos Coelho prometia uma “reversão de 20% em 2015 e integral no ano seguinte” para os salários da Administração Pública superiores a 1500 euros. Com uma ressalva que não constava do texto escito: “Se outras propostas não forem feitas entretanto”. Demorou apenas duas horas. Ao meio dia, em resposta a uma intervenção de Os Verdes, Passos contraria o seu próprio discurso e diz que, se for primeiro-ministro em 2016, voltará a propor que a reversão no corte dos salários seja de 20%. “Como se sabe o Tribunal Constitucional não permitiu que se pudesse, em 2016, prosseguir com uma devolução de 20%. Se eu for primeiro primeiro-ministro não deixarei de apresentar novamente essa proposta e proporei que essa reversão seja de 20%”. Ou seja, não haverá ainda devolução integral de salários.»

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