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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

PPC, o evangélico dos pequeninos

João Gonçalves 24 Out 14

 

«O primeiro-ministro resolveu agora pedir “paciência” aos portugueses, como se não soubesse que a “paciência” se esgotou em definitivo no país. Pior ainda, adoptou um tom paternal e carinhoso para explicar à populaça por que razão era preciso que ela continuasse na miséria; e, falando baixo, insinuou que só a sua alta sabedoria podia perceber o que verdadeiramente se passava. Da sua boca saía a verdade límpida e salvífica, da boca da oposição a babugem nojenta da mentira. Veio também a cena de heroísmo, muito típica destes melodramas. Passos Coelho jurou em público, numa tirada de filme “b”, que nunca abandonaria Nuno Crato. “Até à morte ou à vitória, pela nossa honra, S. Jorge e Portugal”, disse ele aproximadamente ao abananado matemático. A audiência quase que chorava. O dr. Passos Coelho e os seus fiéis julgam que fizeram uma grande obra. Já se esqueceram que a troika os forçou a fazer o que fizeram. Como se esqueceram, com certeza por intervenção do Altíssimo, que não cumpriram o programa (aliás, duvidoso) a que se tinham comprometido. Aumentaram a receita do Estado, sem inteligência ou perícia; e fugiram de reformas substanciais com vigarices, com pretextos e com uma insondável indolência. Quando o dr. Passos Coelho, lá para Outubro, for delicadamente posto na rua, o Governo seguinte com um bocado de papel e uma caneta arrasará numa hora tudo ou quase tudo o que ele deixou. Entrou provavelmente na cabeça do primeiro-ministro a ideia perigosa de “deixar um exemplo”. E deixou. Deixou um exemplo de trapalhada, de superficialidade e de ignorância. Ou seja, nada de original.»

 

Vasco Pulido Valente, Público

Maior que nós

João Gonçalves 24 Out 14

 

A Fundação Mário Soares, culminando uma série de sessões que intitulou "Vidas com sentido", homenageou o José Medeiros Ferreira. Tremi quando constatei que uma das oradoras era a Maria João Seixas mas o seu bonito improviso surpreendeu-me pelo "retrato" breve que deu do seu antigo "controleiro" da RIA.  Eduardo Paz Ferreira transmitiu, pelas "histórias" que contou dele, a felicidade que irradiava sempre de qualquer tipo de convívio com o Medeiros, desde os seus juvenis 17 anos em São Miguel até ao fim. Estas "vidas" da Fundação eram de pessoas que estiveram ligadas ao Partido Socialista e, talvez por isso, Paz Ferreira não se referiu ao "interregno" reformador e ao PRD na sua intervenção. Mário Soares resumiu bem a relação com Medeiros Ferreira desde os respectivos exílios, passando pelo seu governo onde ele foi MNE e culminando nos tempos mais recentes em que a intimidade política de ambos se reforçou. Na altura, as coisas que os separaram tiveram um peso a que hoje Soares já se refere como não tendo tido, sic, "a menor importância". A "história" de Medeiros com o PS integra o lastro da autonomia intelectual e da liberdade de acção que presidiu ao seu "longo curso": foi sempre Soares quem "procurou" o Medeiros e nunca o inverso. A dada altura, e inexplicavelmente como Paz Ferreira indicou, o PS "desperdiçou" o Medeiros como se tivesse uma mão cheia de gente da craveira dele para exibir. O país também, como ele confessou com aquela sua ironia, porventura mais amarga que o costume, quando numa das últimas entrevistas deixou cair que "Portugal não soube aproveitar-me". O Medeiros (era assim que ele queria que eu o tratasse) e eu encontrámo-nos, ao vivo ou pelos meios comunicacionais disponíveis, muitas vezes nesta derradeira década. Falávamos de grandes e de pequenas histórias, do quotidiano, de livros, de blogues, de ópera e, sobretudo, ríamos muito. As gargalhadas do Medeiros, por dá cá aquela palha, eram inesquecíveis. A sua morte reforçou o meu isolamento mental e a minha solidão intelectual. Não foi apenas mais um interlocutor que perdi, neste caso fisicamente, já que a outros os tenho perdido (ou eles a mim) estupidamente em vida. Foi, em certo sentido, um mundo que hoje em dia só já só posso reviver em alguns livros, nas passagens de umas crónicas ou na superfíicialidade de uma conversa ou duas sem destino. Parte desse mundo aparecerá no depoimento que escreverei (respondendo à instância amiga e gentil da Maria Emília Brederode dos Santos) para o livro em sua homenagem a lançar por ocasião do colóquio a ser-lhe dedicado durante dois dias na Fundação Gulbenkian, em Fevereiro de 2015. Quando "entrei" para o gabinete de um ex-ministro do actual governo, trocámos uns mails. Quis que ele soubesse que a sua expressão "código genético" (do Estado Democrático) aparecia no preâmbulo do programa do dito governo, "furtada" por mim. Respondeu-me: «eu vi logo que não era a malta do «estado mínimo»! De qualquer maneira é um aceno simpático no meio de um terreno adverso.» O Medeiros era assim. Sempre maior que nós.

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