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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

É isto

João Gonçalves 12 Out 14

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Após uma maratona tântrica, o conselho de ministros terá aprovado o orçamento para 2015. Percebe-se. Os ministros mal falam uns com os outros, o primeiro-ministro e o seu insondável vice falam apenas o indispensável, o vice e a ministra das finanças nunca verdadeiramente relevaram o episódio de Julho de 2013 e, aos olhos de alguns membros daquele conselho, há alguns outros membros que já não deviam estar lá sentados. É, porém, desta caldeirada turva que precisava emergir um orçamento "misto": eleitoralista e dito de "rigor". Qualquer coisa a meio caminho entre o Terreiro do Paço, o Caldas, a Lapa e São Bento. O ambiente geral, com o BES, a PT e outras trapalhadas mal explicadas a aumentar a desconfiança e a indiferença, é mau. Por ser tão mau, os mortos-vivos do dr. Costa são recebidos sem surpresa como "novidades" e "esperanças". E no PSD "agitam-se" - alguém agita - os tradicionais tigres de papel como o dr. Rio que, talvez pela sua educação alemã, vê-se mesmo que é um homem dado a "compromissos". Em suma, e como diria o protagonista de Platoon, estamos na merda mas estamos vivos o que não deixa de ser uma fraca consolação. «Uma pessoa abre o jornal e começa logo pelo primeiro-ministro. O primeiro-ministro insiste em não dizer quanto recebeu sob a equívoca forma de “despesas de representação”, sem na aparência lhe ocorrer que entre as “despesas de representação” dele e as da rainha de Inglaterra pode haver uma ligeira diferença. Vem a seguir a inefável doutora Paula Teixeira da Cruz, que decretou uma reforma do mapa judiciário, mas não se lembrou de verificar a tempo e horas se ela funcionava e conseguiu desta maneira simples que os tribunais total ou parcialmente parassem – resolveu a coisa pedindo desculpa a meio mundo, na presunção de os portugueses perante esse acto de humildade a desculparem a ela como já tinham outrora desculpado Egas Moniz. Também o dr. Crato, que passa por ministro da Educação, aproveitou o precedente e se precipitou para o parlamento com as suas “desculpas”. Qualquer dia o governo inteiro chega a S. Bento com a corda ao pescoço. Uns por isto, outros por aquilo: todos com um odor a santidade. O dr. Crato, por exemplo, não conseguiu ainda, à sétima tentativa, “colocar” os professores que se “colocam” sempre na mesma altura do ano, que ele, a Pátria espera, conhece muito bem. Consta que um funcionário se enganou numa “fórmula”. Mas não consta que o dr. Crato a tivesse visto e, com o seu olho matemático, corrigido. O sr. Primeiro-ministro acha estes “percalços” normais e abraçou efusivamente o homem em público, para o país ficar a saber. Se continuássemos no Estado, não parávamos. Felizmente que o sector privado não nos priva de escândalos. A falência do banco Espírito Santo (ou de um bocado dele), que prejudicou ou liquidou a vida a muitos milhares de ingénuos, não nos recusou o seu quotidiano fornecimento de angústia. O caso (mesmo na cabeça dos responsáveis) tomou as proporções da queda dos Rothschilds. Os patetas do costume, de que Portugal tem uma gloriosa reserva, declararam rapidamente a sua imorredoira amizade por Ricardo Salgado; e o primeiro-ministro almoçou com José Maria Ricciardi, para presumivelmente o reintroduzir na excelsa seita dos beneméritos do povo. Entretanto, cresceu a intriga e a hesitação no governo e no Banco de Portugal, que os peritos discutem ardorosamente na televisão. A vil ralé, que assiste a este colectivo espectáculo, só gostava que eles todos, do sr. Ricciardi ao primeiro-ministro, se calassem e desaparecessem. Mas já está cansada e com pouca esperança.  (Vasco Pulido Valente, Público)». É isto.

Um casal comum

João Gonçalves 12 Out 14

 

 

A "putinesca" Netrebko perpetrou na tarde de sábado em Nova Iorque - em directo para o fim de tarde e princípio de noite lisboetas da Gulbenkian, o oásis de sempre no meio da cloaca em que permanentemente chafurdamos - uma Lady Macbeth extraordinária. Está quase sempre bem calada, isto é, quando apenas canta e não se põe com gracinhas nos intervalos. Já o Macbeth propriamente dito - Zeljko Lucic, faltam uns acentos que este teclado não possui -, quando foi entrevistado antes dos 3º e 4º actos, afirmou que tinha acabado de endoidecer (a personagem) e que daí em diante a circunstância era imparável. Francesco Maria Piave adaptou Shakespeare para o libreto verdiano e Macbeth, musicalmente falando, "antecipa" (como referiu o maestro Fabio Luisi) muito do que se seguiu. Todos temos um pouco deste casal divinamente demoníaco. No clip, Lady Macbeth/Netrebko está já completamente louca (sorte dela) e caminha para a morte depois de ter feito o que achava que lhe competia fazer. Deixa um lastro de sangue, volúpia e ambição realizados até ao paroxismo. Macbeth e a sua Senhora sobrevivem-nos enquanto sublimes representantes da eternidade do mal  - na peça do inglês e na ópera de Verdi. Ou julgam que isto de andar por aqui é só miosótis e óculos de sol?

 

Adenda: «De onde emana tanto talento? À opulência vocal junta-se a fisicalidade que destila sexo. Na cama, no chão, fodendo o marido, manejando uma lâmpada crua e encandeando-nos, ou sonâmbula, a atravessar uma correnteza de cadeiras, não há obstáculos que a impeçam de casar o vocalismo com a psicologia do papel. Basta observar a maneira como atravessa o palco para se perceber o que lhe vai na alma e na mente.» (Jorge Calado, Expresso, 11.10.2014)

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