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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

Acto falhado

João Gonçalves 5 Out 14

 

Outra tragédia nacional é a RTP. Ou melhor, o que resta da RTP depois das infelicidades a que tem sido sujeita pela pusilanimidade dos poderes públicos, por um lado, e pelos seus poderes corporativos internos, por outro. Foi um acto falhado em que participei (mais um) e do qual me afastei voluntariamente quando percebi de que "material" eram, afinal, feitos quer o presidente do conselho de administração que Miguel Relvas erradamente escolheu, quer o "camarlengo" que indicou para director-geral de conteúdos para o "compensar" de deixar de ser administrador. Precisamente os conteúdos que é o que separa o serviço público de televisão de outra coisa qualquer. O "ponto de situação" feito pelo Eduardo Cintra Torres é dramaticamente correcto. «A clique dirigente da RTP só pensa em si mesma. "Serviço público" é hoje uma anedota de que se ri nas nossas costas enquanto verte por ele lágrimas de crocodilo em entrevistas e discursos, a empresa costumava ser defendida pela camarilha, pois era uma garantia do seu próprio poder. Chegou-se agora à situação em que não há nem serviço público nem empresa.»

A cerimónia do adeus

João Gonçalves 5 Out 14

 

O regime, em cerca de uma hora, comemorou melancolicamente o "5 de Outubro". Não merece mais. O que se passou nos anos seguintes até 1926 e, depois, por razões inteiramente distintas, entre 1926 e 1974, basta para evidenciar a nossa endémica improbabilidade histórica. Os quarenta anos que entretanto levamos "disto", a avaliar pelo que disse Cavaco e pela realidade, prolongaram sob outras formas essa improbabilidade. O pequeno evento na sede da Câmara de Lisboa serviu apenas para António Costa encerrar com umas trivialidades de circunstância - Costa aparenta ter um medo que se pela do "futuro" - o seu mandato camarário. Aliás, tratou-se em geral de uma autêntica cerimónia do adeus. No próximo glorioso "5 de Outubro", Cavaco falará pela derradeira vez como PR e, dadas as limitações constitucionais impostas aos finais de mandato, ninguém lhe prestará a menor atenção. Os olhos estarão postos nos candidatos ao seu lugar. Costa ou já estará sentado em São Bento, ou para lá caminha talvez mesmo nesse inesquecível feriado a repôr. Passos ou ficou pelo caminho em Maio ou Junho, ou comparecerá praticamente a título de figura de corpo presente. A dra. Esteves, se ainda existir politicamente, pode fazer como hoje e pura e simplesmente desaparecer. O regime estará tão irreformável e desprovido de "compromissos" (essa coisa esquisita que tanto apoquenta o Doutor Cavaco) como agora salvo em alguns arranjos tácticos circunstanciais em que o dr. Costa é perito. O que quer dizer que não evoluímos muito neste século e picos de "República". No fundo, a "história" destes anos pode resumir-se nesta prosa de domingo de Vasco Pulido Valente, o único que escreveu um livro de jeito sobre a memorável "revolução". «Em 1911, a Assembleia Constituinte da República resolveu que iria passar a ser a primeira assembleia legislativa do regime. Nada a autorizava a isso, mas ninguém se importou. Afonso Costa não tinha ainda tomado conta do partido “histórico”, que fizera o 5 de Outubro, e meia dúzia de facções andavam em guerra para eleger – no Parlamento e no Senado – o seu Presidente. Escolheram Arriaga, um velho meio senil e pouco esperto, supondo que ele não incomodaria ninguém. Coisa em que, de resto, se enganaram. Antes de se demitir, à força claro, andou aos trambolhões de uma ilegalidade para a outra e acabou por estabelecer uma ditadura militar, depressa varrida pela Carbonária e pelos bombistas de Afonso Costa. Bernardino Machado substituiu Arriaga, com a duvidosa legitimidade dessa zaragata. Depois de Bernardino, veio Sidónio Paes (em 1917) também trazido por uma insurreição da tropa. Sidónio revogou a constituição de 1911, inventou outra mais conveniente à sua situação e à sua política, e convocou eleições directas para a Presidência da República. Ganhou por à volta de 500 000 votos, num clima que roçava o terror. Não lhe serviu de muito. Em 1918 foi morto na estação do Rossio por um admirador de Afonso Costa. Por uns tempos, durante a guerra civil de 1919, Canto e Castro, um monárquico convicto, designado pelo governo, conseguiu manter a ficção de que a República existia. Mas quando se restaurou um mínimo de ordem, e prudentemente mudada a constituição, o Parlamento e o Senado alçaram António José de Almeida, um demagogo de feira, à Presidência para acalmar a balbúrdia e conciliar a direita. O “António José”, como lhe chamavam, assistiu à tortura e ao assassinato do seu primeiro-ministro e cumpriu o seu mandato até ao fim, uma façanha de que se gabou muito. Para substituir esta personagem, o estado-maior do partido Democrático (palavra de honra!) chamou Manuel Teixeira Gomes, pedófilo, diplomata e escritor, que não aguentou os sobressaltos de Lisboa e se refugiou nos costumes mais brandos da Argélia francesa. No lugar dele, reapareceu o indestrutível Bernardino, de que o 28 de Maio em definitivo livrou a Pátria. Os sucessivos chefes da Ditadura não tinham nem de facto, nem de direito a menor semelhança com um presidente da República. Como a não tiveram os protegidos de Salazar (Carmona, Craveiro Lopes, Tomás). Só Eanes, Soares, Sampaio e Cavaco merecem o nome. E, a propósito, não se percebe o que sucedeu à nossa tresloucada Assembleia da República para lhe sair do crânio a ideia eminentemente imbecil de uma exposição de bustos (dizem que horríveis) dos nossos “Presidentes”. Inconsciência? Ignorância? Ou simples prazer de gastar o dinheiro do Estado?»

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