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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

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João Gonçalves 4 Out 14

«Não me interessa o que digam ou quão frequente ou persuasivamente o digam: ninguém poderá alguma vez convencer-me que a vida é um brinde maravilhoso, recompensador. Porque a verdade é esta: a vida é catástrofe. O facto básico da existência - de andarmos por aqui a tentar alimentar-nos e encontrar amigos e todas as outras coisas que fazemos - é a catástrofe. Esqueçam todo este ridículo e tonto sentimentalismo do que toda a gente diz: o milagre de um recém-nascido, a alegria de uma só flor a desabrochar, Vida, És demasiado Maravilhosa para Te Compreendermos, etc. Para mim - e persistirei em repeti-lo até morrer, até cair de borco sobre o meu mal-agradecido rosto niilista e estar demasiado fraco para o dizer: melhor nunca ter nascido do que nascer nesta cloaca. Abismo de camas de hospital, caixões, e corações partidos. Sem libertação, sem apelo, sem «transformações», para empregar uma palavra favorita de Xandra, sem caminho para a frente a não ser a idade e a perda, e sem saída a não ser a morte (...) Nós não podemos escolher o que queremos e o que não queremos e essa é a dura verdade solitária (...). O que quer que nos ensine a falar connosco próprios é importante: o que quer que nos ensine a cantar para sairmos do desespero (...) Mesmo que talvez nem sempre nos sintamos contentes por estarmos aqui, a nossa tarefa é mergulhar, de qualquer maneira: passar a vau por ela, pela cloaca, com os olhos e o coração abertos. E no meio do nosso processo de morte, enquanto nos erguemos do orgânico e voltamos a afundar-nos ignominiosamente no orgânico, é uma glória e um privilégio amar aquilo que a Morte não toca.»

 

O "superior interesse nacional"

João Gonçalves 4 Out 14

 

O Expresso, que em tempos designei pela "bíblia do regime", fornece-nos na edição deste sábado um extraordinário retrato do dito regime. Sem nunca verdadeiramente ter abandonado a "democracia", a plutocracia domina. Do "caso BES" ao "caso submarinos/Pandur", do "caso "Tecnoforma/CPPC" ao "caso Citius" passando por esse descalabro inominável que responde pela sigla Crato, dá ideia que a coligação - que é, pormenor porventura secundário, o "governo de Portugal" - entrou num declínio irreversível apesar da generosa teimosia do dr. Passos. Até uma comissão parlamentar de inquérito veio ampliar o buraco negro em que a "situação" vive, com um relatório de 400 páginas apenas destinado a fingir que nada se passou de extraordinário em matéria de "aquisições militares" e de contrapartidas de há cerca de catorze anos para cá. Especialmente há dez quando o dr. Portas morava no Forte de São Julião da Barra com vista para o Tejo e tudo. Julgo que até o dr. Nuno Melo, cuja prestação na comissão de inquérito parlamentar ao BPN foi amplamente meritória, esteja corado de vergonha com esta publicidade política indirecta ao velhinho "Omo lava mais branco" presidida pelo seu correlegionário Telmo Correia. Depois, como se o país estivesse "bem, muito obrigado, e recomenda-se", PSD, CDS, primeiro-ministro, vice e ministros aliviam-se na praça pública, directamente ou por interpostos jornalistas amigos, uns contra os outros. "Não queres baixar o IRS? Então toma lá mais um bocadinho de Tecnoforma". "Andas a falar de mais em reduzir os impostos mesmo com essa treta da "moderação fiscal"? Toma lá com o Trident e um Pandur para amostra". Edificante, não é? Como se isto não bastasse, um secretário de Estado, o dr. Castro Almeida dos "fundos", entregou a privados a escolha dos gestores que hão-de encarregar-se da distribuição da boda como se a administração pública, de que ele faz parte enquanto gestor político, não existisse. Não muito longe desta peça, o artigo de Miguel Sousa Tavares sobre o livro "Os Facilitadores", de Gustavo Sampaio, parece tragicamente comentá-la. Finalmente, e depois de uns tímidos sinais emitidos em pequenas comarcas (5%), o Citius prossegue, de mãos dadas com a dra. Teixeira da Cruz, o seu caminho das pedras. De Crato nem vale a pena falar porque os factos criados por ele falam por si. O Doutor Cavaco, quando o apertam com estas "minudências" (a falência trágica de um sistema e de um regime à conta destas mesmas "minudências"), costuma esclarecer que só se move pelo "superior interesse nacional". Onde é que o Doutor Cavaco vislumbrará o "superior interesse nacional" nas manobras alarves desta gente?

Quem vem com ele

João Gonçalves 4 Out 14

 

«Com certeza não ocorreu a Costa que os portugueses queriam remover Seguro da sua vida, mas também estavam fartos das personagens secundárias, que desde 1976 ajudam à missa. O apadrinhamento de Costa pelas relíquias do PS (Mário Soares, Almeida Santos, Jardim e Alegre) não anunciava nada de bom. A pesca miraculosa de amigos de muitas famílias, que só se distinguem na vida pública pela sua idade e pelo sossego com que atravessaram a democracia, piorou as coisas. Quando a procissão sair do adro com a velha tropa à frente, tropeçando e tossindo, não haverá um único cidadão activo que lhes conceda a mais remota confiança. “Lá voltam eles!”, dirão desconsoladamente os basbaques do costume. “Isto não muda”. Como, aliás, no PSD, não se ouve no PS um nome conhecido pela sua importância autónoma. Parece que nem um médico, nem um advogado, nem um arquitecto, nem um empresário jamais se dignou a pôr os pés no casarão do Largo do Rato. E parece pior. Parece que o mundo do Largo do Rato não comunica com o mundo do cidadão comum. Existia uma esperança, embora ténue, de que a Câmara de Lisboa tivesse transmitido a Costa uma noção do que sucedia cá fora. Seguro até garantiu que ele não largava “a janela”. Talvez não largasse. O pior é que o “novo rumo” com que ele sonhava era a manifestação de “carbonários”, que, em 1910, para nosso mal, proclamou a República. O cozinhado de facções que António Costa esta semana perpetrou (e se prepara para continuar) não anima ninguém. A mediocridade ganhou.»

 

Vasco Pulido Valente, Público

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