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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

Democracia liberal, democracia adversarial

João Gonçalves 14 Set 14

 

Estou de acordo com  Eduardo Cintra Torres. Os mais de duzentos mil "simpatizantes" que se inscreveram para escolher o candidato do PS a 1º ministro são uma prova de vitalidade de uma democracia liberal, isto é, do confronto adversarial sem o qual essa democracia não passa de um pastelão ressequido. O que significa que Seguro teve razão em convocar as "primárias" quando Costa pretendia o poder "outorgado". O PS - ao contrário da ruminação dominante que teria preferido a saída de Seguro pela porta dos fundos, em Maio, e a entrada triunfal do seu Bonaparte da Praça do Município pela porta grande - sai reforçado deste processo como saiu de anteriores. Logo em 1974, na Aula Magna da UL, Manuel Serra desafiou Soares a "esquerdizar" o partido. O PS acabou "social-democratizado" e apto a vencer as duas primeiras eleições livres. Entre 1979 e 1981, o partido dividiu-se entre "soaristas" e o chamado "secretariado" que se revia em Zenha. Dois anos depois Soares ganhava as eleições de Abril de 1983 e formava o "bloco central" com Mota Pinto. Em 1985, a "esquerda" apresentou três candidatos a Belém, dois deles- Zenha e Soares - oriundos do PS "histórico". Soares passou à segunda volta, e a Presidente, com o apoio de Zenha e Pintasilgo que ficaram para trás. Em 1991, o "choque" da humilhação eleitoral por que passara Sampaio em Outubro contra Cavaco, levou ao embate feroz com Guterres. Entre 1992 e 1995, Guterres preparou-se para São Bento e Sampaio para Belém. A partir de 1996 e até 2001, o país político era todo "cor-da-rosa". Em 2004, depois da vitória singular de Ferro Rodrigues nas europeias a que se seguiu uma não menos singular demissão por causa de Sampaio, o PS apresenta, na oposição, três candidatos distintos a secretário-geral. Em Setembro "passa" Sócrates que em Março do ano seguinte é primeiro-ministro com maioria absoluta. Nas presidenciais de 2006, o PS tem dois candidatos e o "dissidente" Alegre, que nunca abandonou o partido, supera brutalmente o "oficial" Soares. Com a derrota de Sócrates, apenas Seguro se dispôs a reunir os cacos. De lá para cá, ganhou à coligação as duas únicas eleições que entretanto ocorreram. E, fique ou saia depois das "primárias" e do congresso, o PS dificilmente não será responsável pela liderança do processo político depois das próximas legislativas. O governo é já só um cadáver que ainda não entrou em funções mas que se esforça, com método e perseverança diários, por entrar o mais rapidamente possível. Como escreve o Eduardo, «os debates abriram um precedente que espero se torne habitual. É muito melhor para os portugueses, e em especial para os que elegerem o candidato do PS a chefe de governo no dia 28, conhecer melhor os candidatos e o que nos puderem e quiserem dizer, por pouco que digam. Os debates elucidaram mais sobre o carácter do que sobre políticas? Sim, mas, a meu ver, o carácter de um eventual primeiro-ministro é tão importante como as políticas. O caso Sócrates deveria ter vacinado todos os comentadores sobre este assunto. Fernando Pessoa escreveu em 1919 que "o voto popular não é uma manifestação de opinião; é uma expressão de sentimento. "Os debates, mesmo sem ideias, permitem avaliar o carácter para além do blá-blá. Assim, percebe-se a táctica de Seguro a que Costa chamou "ataques pessoais". Seguro quis transmitir uma versão do seu carácter e uma versão do carácter de Costa. Costa saiu-se mal, a meu ver, nesta questão, porque tinha de facto mais a perder na avaliação pública do seu percurso político e porque numa luta homem a homem, como esta é, o que Seguro fez foram ataques políticos em ligação com o homem seu adversário. Não se pode separar totalmente o político do homem quando se enfrenta um homem político. Por isso, Costa não queria debates. Discordo doutro argumento da maioria comentatória, o de que Costa é o "challenger", quem desafia o líder instalado. Tecnicamente, é. Mas Seguro é o verdadeiro "challenger", pois diz que Costa representa o "projecto de interesses" (os Sócrates, Almeida Santos e outros instalados no sistema). Na prestação mediática, Costa está na TV como em casa, ou não fosse ele um "quadraturo" há anos; não tem nem faz propostas por ser uma variante do sistema, bastando-lhe comentar, com inegável desenvoltura; em Seguro apresenta-se como o acossado pelo sistema, incluindo o mediático. Vendo os debates neste prisma, é Seguro o desafiador — do sistema.»

O rosto e as máscaras

João Gonçalves 14 Set 14

 

 

É preciso fazer alguma "justiça"ao dr. Marques Mendes. Apesar de ter anunciado a venda do Novo Banco para daqui a duas ou três semanas - seis no máximo -, e, como ontem confirmou, estar perfeitamente a par dos "rumores" da eminente saída dos três administradores liderada por Vítor Bento (viriam desde 23 de Agosto, repara-se na precisão da data) que achou que lá deviam ter ficado a fazer a figura de ursos que eles se recusaram a fazer, o dr. Mendes acabou por reconhecer que o governo foi hipócrita e, também neste assunto, já só pensa nas eleições. Mas se pensa pelos vistos anda a pensar mal. Porque a partir de agora, a "pressa em vender" vai transformar-se em "pressa em vender porventura mal" e a patacos. Do dr. Costa, do BdP, nem vale a pena falar. O sorrisinho permanente do dr. Constâncio - com que ele se deita, levanta e passa a ferro aos fins de semana para estar pronto às segundas-feiras logo pela fresquinha - fala por ele. A "fadiga fiscal", para usar um termo do venerando prof. Moreira, tem as costas largas e é nela que presumivelmente parte desta historieta cinzenta de recorte latino-americano há-de acabar. Como escreve a Leonete Botelho, «a duplicidade do Governo vai mais longe. Temos o lado A, com a ministra das Finanças a repetir a afirmação de que não há qualquer interferência na gestão e administração do dossier BES e o primeiro-ministro a ofender-se com notícias sobre recados dados, a seu tempo, para o afastamento de Ricardo Salgado. E temos o lado B, onde um sorridente Governo indica para o Banco de Portugal o seu antigo secretário de Estado Helder Rosalino e coloca na pasta da supervisão António Varela — que antes indicara, qual bombeiro de serviço, para o Banif aquando da entrada do Estado no capital do banco. Onde um distraído Governo deixa ir para a administração do Novo Banco José Honório e Moreira Rato, ambos com ligações ao Executivo e ambos próximos de Ricardo Salgado. E onde, por fim, o Governo deixa claro, pela voz do ministro da Economia, que a estratégia a seguir no Novo Banco é a sua venda o mais depressa possível. Qual plano de sustentabilidade, qual autonomia de gestão? O Governo dá indicações para a estratégia e para o supervisor. Está omnipresente no processo BES/GES e tão activo quanto lhe permite o seu espartilho liberal. Para já, apenas por trás das máscaras, ali, onde a mão se mantém invisível. Até ter que meter a mão na massa.»

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