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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

1995-2015

João Gonçalves 6 Set 14

 

O dr. Marques Mendes - cuja infalibilidade ultrapassa a do meramente pedestre Papa Francisco - garantiu a vitória de António Costa no PS. "E nem sequer é à tangente", acrescentou. A interlocutora ainda tentou introduzir o termo "lealdades" mas aí Mendes foi ainda mais peremptório: "não existem lealdades passadas, só há lealdades para o futuro". Tem razão até porque desde pequenino que sabe do que fala. Daqui a sensivelmente um ano e alguns meses, tudo indica que andaremos duas décadas para trás. Regressaremos, com a benção teimosa do dr. Passos, as contas da dra. Maria Luís e a pusilanimidade do dr. Portas, ao sistema "uma minoria, um governo, um presidente". O Doutor Cavaco, então em fim de carreira, obrigará a que a "minoria" se transforme num consenso glorioso que perpetue o seu múnus em futuras histórias concisas de Portugal. Para isso, entrará em funções um "novo PSD" e, porventura, o mesmo dr. Portas. Pacheco Pereira oficiará como "conselheiro informal" da nova nomenclatura - a socialista com a "adesiva" da direita - depois de ter passado anos a transmitir semanalmente a famosa "visão estratégica" do dr. António Costa. Tudo estará bem quando acabar em bem. Como em 1995.

O estado de choque

João Gonçalves 6 Set 14

 

Ontem, depois da leitura de um acórdão, uma pessoa que foi condenada a cinco anos de prisão efectiva manifestou-se "em estado de choque". É um direito dela como o de recorrer deste veredicto. Não se trata, porém, de uma pessoa qualquer. Nestes quarenta anos de regime, foi deputado, secretário de Estado, ministro e administrador da banca comercial e pública. Ou seja, o regime democrático confiou-lhe responsabilidades, deveres e direitos acima dos do cidadão comum. O que por consequência essa pessoa deve perguntar-se, quando refere a sua "circunstância", é se soube estar à altura dela. Se não soube, quem tem de ficar em "estado de choque" é o regime e a democracia. Não é ele.

O "conceito"

João Gonçalves 6 Set 14

 

A política portuguesa, já em plena rodagem para o longo calvário eleitoralista de mais de um ano, segue previsível e, de uma maneira geral, medíocre. Agora foi-lhe adicionado um "condimento" que, na coligação existe desde o início e que no PS começou em Maio com o "assalto" de António Costa: o taticismo traiçoeiro. Mas, para isto, mais vale ler "romances" de, por exemplo, John Le Carré. Vem lá tudo explicadinho por outras tramas, por outras personagens, por outras ambientes. Ou então rever os três Padrinhos ou a tetralogia do Wagner. Qualquer coisa destas é muito mais agradável e verosímil do que as peripécias paroquiais. Entretanto em França, a, como agora se diz, "ex-companheira" do sr. Hollande, Valérie Trierweiler, publicou um livro com 200 mil exemplares à cabeça. Para se aliviar da traição conjugal onde o presidente da França a trocou por uma actriz deslavada mas com aquele arzinho alegadamente sexy do bed style. Presumivelmente a vida íntima de um político com outra pessoa (não a sua vida privada em sentido mais amplo) não deve ser lavada no tanque de água suja da opinião pública. Trierweiler, a quem assiste todo o direito do mundo a se "vingar" como entender, acabou afinal sentada na mesma lambreta ridícula na qual Hollande ia ter ter com a outra. Os "pormenores" que achou por bem "revelar" não alteram significativamente a "imagem" que tínhamos de Hollande - a de um homem médio, com poder, sem grande densidade política e, instintualmente, pouco diferente do rapaz do talho ou do liceu. A graçola dos "desdentados" constitui um argumentário político para o qual manifestamente Trierweiler não tem talento. O livro que se segue, do até há pouco ministro da economia, será porventura mais preocupante para o presidente do que a dor de corno em letra de forma da jornalista do Paris Match. Até na alcova a França perdeu grandeza. Salvo De Gaulle e, talvez, Pompidou pelo menos quanto a mulheres, os presidentes da V República sempre mantiveram vidas privadas muito "liberais". Mitterrand, por exemplo, "escondeu" até quando entendeu uma filha e a mãe dessa filha que por acaso até era directora de um dos mais conspícuos museus de Paris. Sarkozy divorciou-se e casou-se chefe de Estado. Nada disto os perdeu significativamente embora a leviandade do último presidente da direita não o tivesse ajudado nas outras coisas. O sem jeito de Hollande, que inclui o deslumbramento adolescente por uma actriz chocha, incomparável a Valérie ou a Royal, acaba por não ser propriamente uma "novidade". Trierweiler provavelmente não leu Le Carré que talvez a tivesse poupado, e a Hollande, a esta exibição mediático-comercial sem particular interesse político. Aqui é um "ele" a falar de uma "ela" mas podia ser ao contrário, um "ele" sobre outro "ele" ou uma "ela" sobre outra "ela". O essencial, para o caso - para qualquer caso - é o «conceito». E passo a citar, com os itálicos da tradução da Europa-América. «Ela amava-me enquanto conceito. Não como uma figura talvez, um corpo, um espírito, uma pessoa, nem sequer como parceiro. Enquanto conceito, um adjunto necessário à sua plenitude pessoal e humana (...) Não há factos. Há apenas duas pessoas. Não há factos numa coisa como esta. Em casamento nenhum. É o que a vida nos ensina. As relações são inteiramente subjectivas.» Percebeu o conceito, sra. Trierweiler?

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