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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

O céu é o limite

João Gonçalves 27 Ago 14

 

Com quase trinta anos de serviço público (tropa incluída no tempo em que ela era viva), estas coisas deviam-me parecer mais cómicas do que trágicas (leia-se o derradeiro parágrafo com alguma da "biografia" da nova reguladora da aviação civil: «A até aqui técnica especialista para o sector aeroportuário do ministério de Pires de Lima esteve neste cargo apenas em 2013 e 2014, tendo antes sido assessora nas áreas da aviação civil na mesma tutela. Antes foi estagiária na Direcção-Geral das Actividades Económicas, professora voluntária de inglês num centro da Santa Casa da Misericórdia, consultora de uma empresa de media e técnica da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista.»). Mas ao contrário de Gil Vicente, continuo a preferir cavalo que me leve a asno que me derrube.

Ninguém falará de nós quando morrermos

João Gonçalves 27 Ago 14

 

Estava a folhear o primeiro livro de Eduardo Prado Coelho, O Reino Flutuante, quando, pela badana, reparei que teria completado setenta anos em Março último se fosse vivo. Posso não ter dado por isso mas não vi em lado algum - e, se calhar, não tinha de ver - qualquer "lembrança" dele. O que não deixa de fazer algum sentido na falta de sentido que tudo tende a levar. Anos a fio, nos jornais, nas revistas ou nas televisões, Eduardo aparecia com a frequência adequada ao seu "estatuto", praticamente isolado, do académico que preferiu prestar mais atenção ao mundo do que à academia. Naquela estonteante prolixidade, naquele entusiasmo ora álacre ora exausto, muitas vezes brilhava a "pequenina luz bruxuleante" do verso de Sena e que distingue as coisas. Nem sempre Eduardo era "justo", se o termo se pode aplicar, nessas distinções. Ou, então, errava deliberadamente nelas porque era "preciso" distinguir aquele ou aquela naquele momento, ou não distinguir aquele ou aquela a seguir. Perdia-se aqui ou ali no labirinto da facilidade do "ter de estar sempre actualizado", na prisão superficial de um quotidiano geralmente medíocre em relação ao qual ele persistia narrar um qualquer esplendor. Mas, repito, mesmo que escondida, a "pequenina luz" teimava em brilhar. Se me lembro dele é sobretudo porque muito poucos já se lembram dele. Não é possível, salvo em dois ou três casos, reter-se um nome ou sequer uma frase da multidão debitatória presente nos media actuais. Pouca "luz" tem ocasião para brilhar nesta torrente demencial de palradores e de escrevinhadores de "redacção única". Eduardo por fim escrevia todos os dias (como com certeza lia), é certo, mas separava. Esta gente não separa - que é a origem do termo "criticar" - porque não tem nada para separar ou que os separe. Ninguém falará de nós quando morrermos.

 

Foto: Luísa Ferreira

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