Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]

portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

Homens de mundos abolidos

João Gonçalves 16 Ago 14

 

Passei grande parte do feriado religioso a rever os sete episódios de A Toupeira - no original de Le Carré, Tinker, Tailor, Soldier, Spy -  protagonizados por Alec Guiness no papel de George Smiley. Na véspera, consolora-me no cinema (o termo é inadequado para as "histórias" de Carré porque não existe consolo algum nas suas personagens principais) com Um homem muito procurado, um dos derradeiros trabalhos de Seymour Hoffman. Smiley é um homem sem ilusões quanto à vida privada e profissional. A mulher trai-o, os colegas também. Numa conversa com um "fiel" que escolhe para o ajudar a descobrir a "toupeira", Smiley admira-se por aquele ainda não ter sido "corrido" como ele fora. "Você é uma boa pessoa, leal e discreto. Como é que não o demitiram?". Gunther/Hoffman trabalha praticamente na clandestinidade, com meia dúzia de confiáveis, para, conforme lhe tinha explicado uma hipócrita burocrata da CIA que o trairía uma segunda vez, prosaicamente "tornar o mundo um lugar melhor'. Estes grandes solitários, Smiley e Gunther, guiam-se por uma "moral" incompreendida que nem as vidas íntimas ou, muito menos, as de trabalho em geral consentem. Suportam a traição com um estoicismo simultaneamente desencantado e profissional. Smiley será bem sucedido, Gunther não. São homens de mundos abolidos. Ainda há alguns, poucos, por aí  sempre dispostos a tentar e a fracassar. E a tentar de novo e a fracassar melhor. São homens, nas palavras de Le Carré sobre Gunther/Hoffman, que circulam «à volta da Lua sete vezes por cada vez que nós o fazemos», que se perguntam, sem nunca conseguirem encontrar resposta, «em que ponto exactamente é que eu perco todo o sentido de moderação? Por que é que insisto em continuar com tudo isto quando bem lá no fundo sei que apenas pode acabar em tragédia?»

Recuar para tomar balanço

João Gonçalves 16 Ago 14

 

O dr. Passos usou expectavelmente o calçadão de Quarteira para dar início à sua campanha eleitoral. Jurou pela "ética", pelo "nojo" em relação à promiscuidade entre a política e "os negócios" e prometeu aos pensionistas não os voltar a maçar, pelo menos até às eleições, com a "reforma da segurança social" (como se tivesse produzido uma) já que os ditos cujos não podem estar sujeitos - disse ele sem se rir - a uma permanente "incerteza" (perpetrada por ele) jurídico-constitucional. Votou ao desprezo aquela "gente" (sic) que não o deixa "mudar" a pátria em paz e sossego o que presumivelmente deve incluir os juízes do TC, a oposição e os "velhos do Restelo" (esta é do Marco António) que teimam em não enxergar a beatitude salvífica do exercício geral. Um editorial viu nestas facécias um Passos "desistente". É não entender uma molécula da peça. Como passava a vida a dizer um seu antigo muito próximo colaborador (e, em certa medida, "criador"), "só recuo para ganhar balanço". Ora o dr. Passos é desta "escola" em refinado. Se sugeriu, pela enésima vez, um "acordo" ao PS sobre a segurança social antes das eleições, é porque sabe que não o vai ter e que pode explorar isso a seu crédito. Se sossega os reformados, e outras espécies que não "contribuem" para a "mudança", é porque algures arranjará uma via "indirecta" para "aquela gente" que o atrapalha não julgar que ele brinca em serviço ou em eleições. Tudo isto pode ser lido, por exemplo, no Portugal Contemporâneo, do Oliveira Martins, com as devidas adaptações: não há militares com "aspirações" (aliás, não há militares), os "pares" do "reino" são outros, embora não menos rapaces e analfabetos, e a presunção redentora do "chefe" provisório é idêntica. Para o ano há mais.

 

foto LUÍS FORRA/LUSA

Pesquisar

Pesquisar no Blog

Últimos comentários

  • João Gonçalves

    Primeiro tem de me explicar o que é isso do “desta...

  • s o s

    obviamente nao é culpa do autor ter sido escolhi...

  • Anónimo

    Estou de acordo. Há questões em que cada macaco se...

  • Felgueiras

    Fui soldado PE 2 turno de 1986, estive na recruta ...

  • Octávio dos Santos

    Então António de Araújo foi afastado do Expresso p...

Os livros

Sobre o autor

foto do autor