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"Os tempos são ligeiros e nós pesados porque nos sobram recordações". Agustina Bessa-Luís
João Gonçalves 12 Ago 14
Leio nos jornais que "Portugal perdeu meio milhão de jovens". Dito assim, suscita-se uma série de dúvidas. Perdeu como? Morreram em alguma catástrofe natural? Andam embarcados entre o norte de África e a costa italiana? Mudaram-se para a Nigéria ou para a Libéria? Na dúvida, fui ler as 22 páginas do INE. Trata-se da faixa etária compreendida entre os 15 e os 29 anos e reportam-se à última década. Poucos nascimentos, ou nenhuns, em alguns concelhos há uma data de tempo, concomitantemente com o envelhecimento da população, explicam o fundamental da coisa. Pelas contas do INE, emigraram nos últimos anos à volta de 26 mil destes jovens mas, em compensação, entraram mais de cem mil, na maioria de nacionalidades brasileira, cabo-verdiana e romena. Alguns borrifaram-se para os "estudos" e, dos que estudaram "superiormente", uns integram o lote que saiu e outros o lote do desemprego ou do emprego temporário. Tendem a não casar - como se casar fosse obrigatório - e a ficar até mais tarde na casa dos pais ou, nalguns casos "desviantes" devidamente apontados, nos antigos "reformatórios". É pena o relatório não mencionar, por exemplo, os países onde os jovens emigrados "mais qualificados de sempre" aterraram. De certeza que, salvo um ou outro que acredita estupidamente na salvação do homem, não viajaram para o "corno de África", o Iraque ou a faixa de Gaza. Cada vez que ouço na rádio um jovem "emigrado", invariavelmente fala-me a partir da Europa - da Inglaterra, muitos -, da América do Norte e do Sul ou de algum país dito emergente onde o capitalismo "democrático" floresce como cogumelos venenosos. A terem saudades de alguma coisa é da comida e, mais remotamente, dos amigos e da família com quem afinal podem contactar facilmente pela via electrónica. Não tenho um átomo de pena desta geração e destes jovens: a "solidariedade intergeracional" é uma falácia. Os que cá ficam, novos ou velhos, podem até morrer de amargura e da penúria dos fundos de segurança social, privada ou pública, que estes jovens emigrados estão-se nas tintas. Serão "exemplares" mas acima de tudo para si próprios. Uma maneira interessante de "celebrar" esta trupe "mais qualificada de sempre" era escrever um livrinho (logo agora que está em moda escrever livros a pretexto da "crise") sobre o destino dos filhos e das filhas das "elites" nacionais na faixa do estudo do INE e com mais uns anitos, até aos 35. Dificilmente os iremos encontrar nas filas do IEFP, agarrados a um PC a enviar currículos sobre currículos para a estratosfera, a caminho de um call center ou num comboio ou barco da periferia para Lisboa para pastar melancolicamente a vaca. Num país a "perder-se" todos os dias, o meio milhão de jovens numa década é uma gota. Até pode ser de sangue, mas não deixa de ser uma gota.
João Gonçalves 12 Ago 14
Quando ouvi num noticiário da rádio o modo da morte do actor Robin Williams, lembrei-me imediatamente de outro Williams, Tennessee, que saiu daqui da mesma maneira. Robin era talvez mais conhecido pelos seus papéis ditos cómicos, como A Gaiola das Loucas ou Mrs. Doubtfire. Mas nas interpretações ditas dramáticas, Williams foi extraordinário - no solitário empregado de uma loja de fotografias que "vivia" por interpostas imagens de famílias que exalavam a felicidade que ele apenas podia recriar na sua imaginação depois da revelados os rolos, no improvável assassino numa remota cidadezinha no Canadá onde o sol nunca se punha ou no professor do premonitório "clube dos poetas mortos". Pessoas como Robin ou Tennessee pertenciam àquela noite do mundo da qual nunca conseguiram sair nem sequer pelo efeito histriónico da representação. É-lhes insuportável encarar até ao fim o espectáculo patético da vida mesmo que, em momentos fulgurantes, tenham conseguido fazer do espectáculo uma vida. Parece que aquele sorrriso escondia, afinal, uma dor profunda e uma impossibilidade vital. Diz-se que há duas coisas que o homem não consegue encarar de frente: o sol e a morte. É falso. Há seres maravilhosos, como Robin ou Tennessee, "o pássaro glorioso" de Gore Vidal, que tiveram a coragem de os enfrentar. Porque um não vai sem a outra. Não adianta explicar.
Primeiro tem de me explicar o que é isso do “desta...
obviamente nao é culpa do autor ter sido escolhi...
Estou de acordo. Há questões em que cada macaco se...
Fui soldado PE 2 turno de 1986, estive na recruta ...
Então António de Araújo foi afastado do Expresso p...