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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

A "homenagem"

João Gonçalves 8 Ago 14

Segundo uma "breve" no Correio da Manhã, o Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) apoiou com 7 mil e quinhentos euros um "torneio" de futebol infantil denominado "Dr. António Costa" organizado por um clube com sede perto de Lisboa. A justificação - não sei se do IPDJ se do clube - consiste em "homenagear" o referido António Costa, «autarca de Lisboa, agora candidato a líder do PS». O dr. Emídio Guerreiro, o secretário de Estado do Desporto e Juventude, praticamente na clandestinidade desde que tomou posse, por interpostos IPDJ e futebol infantil, será "simpatizante" de Costa? Uma coisa é dar um subsídio, outra diferente é acompanhar o subsídio de uma "homenagem" nas presentes circunstâncias do homenageado. O que é que falta? Sentar o dr. Costa numa bicicleta a cinco metros da meta final da Volta a Portugal?

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O "verão" é propenso à inutilidade informativa salvo em casos de emergência como os banquinhos bom e mau ou o ébola. Por isso os jornais e as revistas gastam páginas e páginas com beautiful people. Quer com aqueles e aquelas em efectividade de funções, vitais ou não vitais, quer com aqueles e aquelas que declinam irreversivelmente. E que não têm ninguém que caridosamente lhes explique que o tempo passa. Isto é particularmente aflitivo no caso de algumas "vedetas" femininas. As cãs nos homens, reais ou disfarçadas por uma cor comum a uma data de gente, são porventura mais aceitáveis. Por outro lado, debitam menos para esses jornais e revistas salvo uma meia dúzia de casos muito precisos e facilmente identificáveis pela paloncice crassa. Com as mulheres a "concorrência" é mais dura e mais cruel. É fácil entrar nos "entas" mas é impossível, por mais que se disfarce, sair deles. Ora quem vive da "imagem" acaba por ir perdendo "competitividade" à medida que o tempo e as espertinhas menos "adiantadas" avançam. A exposição nos jornais e nas revistas, às tantas, passa a ter um efeito inversamente proporcional ao desejado. Talvez por isso, e algo perversamente, esses "meios" insistem em "expor": a vida privada, a pública, a real, a imaginada e, por fim (um fim sem final), os restos mortais de ambas. Dizia-se que Madame de Staël se divertia a atirar os amigos para dentro de água só pelo prazer de os tirar de lá. O pior é quando eles ou elas já não conseguem sair.

«Patriotismo»

João Gonçalves 8 Ago 14

«Menino, sabes o que é a Pátria?”, perguntava o Livro da Terceira Classe; mas depois não ficou para ouvir a resposta. A resposta que qualquer menino lhe teria dado é a de que a pátria é a causa daquilo que identificamos como patriotismo. Como definir, no entanto, ‘patriotismo’? A teoria quase unanimemente aceite é a de que o patriotismo é uma série de convicções ou actividades que se propagam pela atmosfera, e que impregnam os habitantes de uma determinada área geográfica. Tem porém defeitos. À ideia de um conjunto de pessoas acreditarem nas mesmas coisas porque vivem no mesmo sítio falta sempre a explicação do modo como um sítio pode causar uma convicção. Se um sítio causasse uma convicção, todos os que nele vivessem acreditariam nas mesmas frases e possivelmente fariam as mesmas coisas. Esta noção é falsa. Um poeta romano observou que é doce e decente morrer pela pátria; mas se todos os romanos tivessem acreditado no que é decente e doce a queda do Império Romano teria tido lugar muito mais cedo, causada por excesso de patriotismo e falta de romanos. E nessa altura a sobrevivência do Império Romano terá sido causada por falta de patriotismo. Uma ideia a meu ver melhor de patriotismo é defini-lo como equivalente da lista daquilo que cada pessoa não está disposta a fazer em relação ao que identifica como pátria, pelo menos em circunstâncias normais. Tais listas variam muito. Para alguns incluem a recusa de decisões momentosas como vender a cidade do Porto ou comprar fruta importada. No meu caso, é a ideia de mudar de nacionalidade que acho inimaginável. Aos devotos da Terceira Classe o meu patriotismo parece de menos; como para o Rei Lear, tudo o que não seja lacrimoso lhes é suspeito. Os raros não-devotos, no entanto, invocam o argumento mais sério de que as nossas experiências e memórias são independentes da nossa nacionalidade: e, claro, são. A não ser num sentido trivial, poderia ser quem mais ou menos sou se o meu passaporte fosse outro. Acontece porém que não é invulgar que o passaporte que temos faça parte do conteúdo das experiências e memórias que nos acontecem. O facto será trivial: mas tal não significa que nos seja indiferente. Talvez por essa razão uma mudança de passaporte seja para mim uma possibilidade ociosa, como uma liposucção ou uma ida ao Brasil: só em circunstâncias muito extremas é que a encararia. Fosse eu um menino filosoficamente inclinado teria respondido ao Livro da Terceira Classe, e com firmeza, que tinha uma ideia do que era a pátria. Mas depois não tinha ficado para a discussão.»

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