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portugal dos pequeninos

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Um grande escritor sobre um grande actor

João Gonçalves 7 Ago 14

«Philip estava sempre a avaliar tudo em profundidade. Era uma tarefa dolorosa e extenuante, e que provavelmente no fim o condenou à desgraça. O mundo era demasiado brilhante para que ele o conseguisse suportar. Ele tinha que desactivar os seus olhos ou ser fascinado até à morte. Tal como Chatterton, circulou à volta da Lua sete vezes por cada vez que nós o fazemos, e cada vez que se ia embora nunca tínhamos a certeza se iria regressar, o que, creio eu, é algo que alguém disse acerca do poeta alemão Holderlin: sempre que saía da sala, receávamos que seria a última vez que o víamos. E se isto parece algo que podemos dizer agora que sabemos o que lhe aconteceu, não é o caso. Philip estava a consumir-se mesmo em frente dos nossos olhos. Ninguém conseguiria viver àquele ritmo e aguentar toda a corrida, e em alguns surpreendentes assomos de intimidade percebia-se a necessidade que ele sentia de que nós o soubéssemos (...). Agora é difícil escrever com distanciamento sobre a forma como Philip interpretou um homem de meia-idade desesperado e fora de controlo, ou a maneira como definiu o percurso de autodestruição da sua personagem (...). Philip teve que ter esse diálogo consigo próprio, e deve ter sido um diálogo bem mórbido, recheado de questões como: Em que ponto exactamente é que eu perco todo o sentido de moderação? Por que é que insisto em continuar com tudo isto quando bem lá no fundo sei que apenas pode acabar em tragédia? Mas a tragédia atraiu Bachmann como uma luz dos afundadores, e também atraiu Philip. Havia um problema com as pronúncias. Temos tido excelentes actores alemães que falam inglês com acento alemão. A opinião geral, não necessariamente de forma muito sensata, era de que Philip também deveria fazer o mesmo. Após os primeiros minutos a ouvi-lo, pensei “credo”. Nenhum alemão que eu conhecesse falava inglês daquela maneira. Fazia uma coisa com boca, uma espécie de beicinho. Parecia que estava a beijar as suas falas, e não tanto a dizê-las. Depois, de forma gradual, fez aquilo que só os grandes actores conseguem fazer. Fez da sua voz a única voz autêntica, a solitária, a estranha, aquela de que dependíamos no meio de todas as outras. E de cada vez que ela deixava o cenário, como acontecia com aquele grande actor, ficávamos à espera do seu regresso com impaciência e crescente desconforto. Vamos ter que esperar muito tempo até surgir um novo Philip.»

A vida é tramada

João Gonçalves 7 Ago 14

 

O dr. Lima abandonou por uns instantes o remanso estival - e aquele que tem caracterizado o seu papel como ministro da economia - para zurzir de viva voz nos "inexplicáveis" comportamentos dos "Beses" e dos "PTs". Os termos são dele que, em relação à PT, até "perdeu as ilusões". Lima intuiu, ou alguém por ele, que estes velhos donos do regime (entre outros que, por sua vez, usam alguma da "elite" político-partidária do "arco" como intermediária a título de vulgares moços de recados avençados) já prejudicam mais do que ajudam a desgraçada economia nacional. O incessante festival "cada cavadela sua minhoca", de facto, não contribui para "tirar" isto do austeritarismo em que vegetamos, contentes da vida por aqui ou ali engordar umas décimas ou diminui-las como no caso do desemprego. Estas ainda tão recentemente respeitáveis visitas dos corredores do poder, fosse ele qual fosse, não são agora bem vindas. A vida é tramada.

Um novo regime de moralidade

João Gonçalves 7 Ago 14

«O clamor de indignação que tem percorrido o País com o caso BES/GES é um clamor que nasce de um sentimento de justificada injustiça provocado pela crescente percepção da desigualdade com que se trata o povo e os seus aflitivos problemas, por um lado, e as elites financeiras e as suas delinquentes astúcias, por outro lado. Esta indignação decorre do imperativo de igualdade, que é o grande mote político da nossa época (...). O problema hoje complica-se porque, ao contrário da igualdade, o igualitarismo se tornou nos nossos dias, e de um modo tão subtil como eficaz, um dos melhores cúmplices do financismo reinante. São ambos sintomas de uma decomposição que alastra no Ocidente, que vive sob o império de uma ideologia nova, que combina as ilusões do igualitarismo com os excessos do financismo, como se de um novo regime de moralidade se tratasse, marcado pela polarização exclusiva do presente e por uma prioridade total dos interesses privados sobre o bem comum.»

 

Manuel Maria Carrilho, DN

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