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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

 

Não me recordo de ter ido ao São Carlos nesta "temporada". Aliás, não me recordo de o São Carlos ter tido sequer uma "temporada". Ou desde quando, nos derradeiros tempos, teve ou deixou de ter uma "temporada" digna dessa designação. De repente, ocorrem-me duas ou três óperas em versão de concerto que vi anunciadas nos corredores do Metro,fruto da "consultadoria" de Paolo Pinamonti. Estamos em Julho e, enquanto lá fora as programações estão de há muito anunciadas e calendarizadas, aqui, no único teatro lírico português, nada. Nada a não ser concertos avulsos e uma coisa chamada "Festival ao Largo" que nunca frequentei. Ora o São Carlos não nasceu para isto e, decididamente, não cabe nem na propaganda palonça do Mercado da Ribeira, nem no impasse Barreto Xavier à Ajuda. Como escreveu Jorge Calado no Expresso (suplemento Actual), «houve um fogacho de esperança com a inteligente, bem sucedida e elencada programação de Paolo Pinamonti, mas agora tudo se esvai. A temporada 2014/2015, que devia ter sido anunciada há meses, continua no segredo dos deuses. Creio que é o único Teatro ocidental com programa por definir. Parece que não há dinheiro. Mas arranjou-se para o Festival ao Largo (FAL). Dizem-me que este financiamento é à parte (Opart?), mas quem dá para este peditório dificilmente abrirá novamente a bolsa para assegurar uma temporada decente. Entretanto, ressuscitam-se fantasmas do passado e esbanjam-se energias que deviam estar focadas no desenvolvimento - incluindo a atracção de apoio mecenático - de próxima temporada. Será que a Opart não percebe que um FAL e outras actividades extra e intramuros só fazem sentido como projecção de uma temporada regular e significativa? É o sexto FAL, mas o Teatro apresenta temporadas regulares de ópera desde 1946 - há 68 anos! É aqui que está o "bife" (pão), como diria o outro. O circo do FAL mereceu textos barrocamente empolados da parte dos responsáveis (que parece não saberem que Elisabete Matos cantou a "Tosca" no São Carlos em 2008). Não vi o mesmo empenho em relação à programação de Fevereiro a Junho. Quanto à ideia decantada de novos públicos, há estudos que mostram que não é assim que eles se formam. Quem apanha espectáculos de borla fica à espera de novos espectáculos à borla. Sim, serve para animar Lisboa à noite; já ém no Verão, a capital do barulho. Mas será essa a missão e função (principal) do Teatro? Há organismos autárquicos com essa vocação, e, se o presidente da CML se presta a todos os beija-mãos da brigada da cultura, então que pague extravagâncias como o FAL.»

Os novos devoristas

João Gonçalves 20 Jul 14

«A aristocracia liberal não foi um substituto decente para a aristocracia histórica, que lutara por D. Miguel. Quase toda de origem militar, passou quinze anos a organizar “revoluções”, golpes de Estado e pronunciamentos. Era geralmente pobre, vivia mal e, fora um ou outro caso, não se distinguia nem pela educação, nem pela inteligência. Claro que havia meia dúzia de excepções entre a gente que se atropelava por um lugar no governo ou por um comando de prestígio. Mas vinha quase sempre de trás: Terceira, Palmela, Fronteira e o irmão, o conde de Vila Real e mais meia dúzia. Um pequeno grupo que não chegava para “civilizar” a corte ou exercer qualquer influência sobre uma sociedade brutal e beata; e que ele mesmo se sentia deslocado nos novos tempos de agitação e mudança. À medida que o regime da Carta se estabilizou (principalmente depois de 1851) apareceu uma aristocracia de “conselheiros”, com títulos mais do que recentes, que se aguentou até à República. O ódio visceral que Eça lhe tinha, aliás partilhado por Portugal inteiro, acabou por se tornar um lugar-comum da visão ortodoxa do século XIX. Os representantes por excelência desta pouco saborosa raça não deixaram nada que merecesse ficar na memória dos portugueses. E a parte principal acabou em escândalos financeiros, desde a “falência” do marquês da Foz, que financiava o Partido Progressista, aos sucessivos roubos do Crédito Predial, que envolviam os chefes dos dois partidos do “rotativismo” e lhes criaram uma tristíssima reputação. O que é de certa maneira injusto. O liberalismo roubava, mas roubava pouco. Na República, apesar da retórica oficial, ainda se roubou mais. E, durante a Ditadura, se, como é óbvio, Salazar não roubava, deixava roubar. De qualquer maneira, nenhuma das centenas de criaturas que nos pastorearam do século XVIII ao século XXI serviu de exemplo ou educou o gosto da classe média ou da alta burguesia indígena. É este o mistério de Ricardo Salgado. Segundo consta, andava de Mercedes, passava as férias na Comporta com Marcelo Rebelo de Sousa, talvez fosse de quando em quando a Nova Iorque e a Paris, mas não se lhe conhece a menor extravagância ou o menor vício. Os vinte anos de glória do “Dono disto tudo” são anos de funcionário, que se consolava com a ideia imaginária do poder. Para quê, então, os riscos sem nome que tomou? Para quê a arrogância vácua que ele pessoalmente gostava de exibir? Suspeito porque, no fundo, ele não tinha mais nada na cabeça.»

 

Vasco Pulido Valente, Público

Auto-retrato de um canastrão da política

João Gonçalves 20 Jul 14

Da entrevista do dr. António Costa ao Público, retive duas "ideias". Uma, auto-define-o adequadamente como um dos mais duráveis e persistentes "donos" do regime: «devo ser das pessoas que há mais anos consecutivos exerço funções executivas», passe o mau português original. Então vem agora para "mobiilizar" e "mudar" o quê? O chefe do PS? O presidente da CML? A outra, que reforça a primeira, tem a ver com outro partido. Segundo Costa, «se o PSD tiver uma nova direcção, isso é um contributo político da maior importância para a vida democrática». Resumindo, Costa não faz a coisa por menos. Quer, na verdade, ser o novo "dono disto tudo". Força.

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