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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

 

Há vinte e cinco anos, neste dia, Herbert von Karajan recebia uns empresários japoneses na sua casa na Áustria. Viram-no morrer com um ataque cardíaco fulminante. Afirmá-lo como "um dos maiores dirigentes de orquestra de tal e tal" seria uma grosseria imperdoável. Karajan ainda viveu o suficiente na era que transforma burgessos em génios, e génios em burgessos, pelo que deve evitar-se qualquer confusão. Tal como para Cioran Deus seria sempre uma entidade de terceira categoria se não tivesse existido Bach, a música do século XX (e vindoura) não teria sido a mesma - isto é, os compositores e os seus intérpretes - se não tivesse existido Karajan. Intransigente, despótico e autoritário, como lhe competia, traçou a bissectriz ideal entre o pathos e o bathos das suas interpretações. Arrancou às orquestras, e aos intérpretes que dirigiu, sonoridades e fulgurâncias que a maior parte das suas gravações, audio e audiovisuais, preserva. "Manipulou", com uma inteligência musical única, as partituras até ao limite, razão pela qual alguns "puristas" o detestavam e a ele preferiam, por exemplo, um Böhm supostamente mais "certinho". As "integrais" das sinfonias de Beethoven são caprichosamente distintas: não é o mesmo ouvi-lo com a Philharmonia Orchestra ou com a Filarmónica de Berlim nos anos 50, 60 ou 80. Também por causa de uma ainda menina "imposta" como solista a esta Orquestra - Anne Sophie Mutter -, os músicos da BPO e Karajan romperam uma jornada gloriosa de afortunada cumplicidade aparentemente só retomada quase no fim. De Salzburgo a Viena, de Berlim à América, de Beethoven a Brahms, de Dvorak a Holst, de Verdi a Puccini, de Mozart a Donizetti, de Wagner a Strauss, Karajan deixou nos palcos e nos estúdios um legado indisputável, sem epígonos. Músico completo e perfeccionista, cedo absorveu o poder da imagem como demonstrou recentemente um documentário do canal ARTE . Fisicamente baixo, com uma voz roufenha, amante de castelos, aviões, carros e de mulheres mais jovens, o Maestro não era sobretudo "demasiado humano". Uma coisa é certa. Estava para além do bem e do mal e não se confunde com a enxovia generalizada em que tudo se tornou. Quem se habitou a amá-lo desde cedo, não pode escolher melhor companhia. A obsessão feliz pela imagem passava por querer "perpetuar-se" como parte dessa lux aeterna que ilumina a noite do mundo das nossas vidas. Teve todo o direito.

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