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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

"Combinados"

João Gonçalves 13 Jul 14

O Expresso oferecia-nos ontem um menu de "combinados políticos" para os próximos tempos. São treze - curioso número - e se Herculano fosse vivo com certeza lhe daria, de novo, "vontade de morrer". O PS, com Seguro ou com Costa, prodigaliza a maioria dos "combinados" (5 para cada um) e Passos só tem direito a três. De acordo com os autores do cardápio, o "preferido" de Cavaco é o tandem Costa/Rio o que pressupõe a remoção de Passos e de Seguro, este já daqui a dois meses e o primeiro em 2015. Passos, no entanto, pode surpreender e "ficar" com quem está ou "juntar-se" a Seguro ou a Costa, este com a "vantagem", segundo os jornalistas, de ter Miguel Relvas, seu "amigo", como alegada "ponte" para Passos. Portas e Costa também fazem um bonito "combinado" (o regime andou com ambos ao colo quando eram pequeninos) e a dupla Seguro/Portas não é absolutamente desdenhável porque Portas tem sempre pronta uma prova de vida da sua irrevogável "flexibilidade". O pior para Costa e para Seguro é a esquerda embora Costa trate Semedo por "tu". Aconteça o que acontecer no PS - e essa é a "moral" dos "combinados": não há maiorias absolutas para ninguém -, tudo aponta para o rápido encolher do punho esquerdo depois das primárias de Setembro, fique quem ficar no Rato. O dr. Passos tem pois motivos para sorrir baixinho com tanto "combinado" e "meia-dose". Porque, ironicamente, é o único em sérias condições de apresentar um "prato completo".

Ruínas sobre ruínas

João Gonçalves 13 Jul 14

Há perto de trinta anos, mais propriamente em 1983, Vasco Pulido Valente publicava no vespertino A Tarde o artigo da foto. Na altura, o país já tinha passado pelo PREC, pelos governos do dr. Soares, pelos de "iniciativa presidencial", brevemente por Sá Carneiro e pela iimprovável AD do dr. Balsemão. Sobreveio-lhe o "bloco central", com Soares e Mota Pinto, e ainda estavam por vir Cavaco, Guterres, as ADzinhas de Barroso, S. Lopes e Portas, Sócrates e esta coisa em que estamos. Hoje, no Público, Pulido Valente como que recupera e "actualiza" este texto escrito quando o "25 de Abril" era ainda uma criança (9 anos) e não o "quarentão" frustrado e indemne de 2014. «Para a minha geração, que vai agora morrendo, o “25 de Abril” chegou a tempo. Andávamos pelos 30 anos, com uma profissão e uma longa vida à nossa frente. Íamos finalmente mudar Portugal. Fazer um novo cinema, um novo teatro, uma nova literatura, uma universidade exemplar e um Estado democrático. Íamos varrer a miséria atávica do país, que manifestamente nos seguiria. Em vez disso, logo do princípio, apareceu o dr. Cunhal e o PREC, com que, no fundo, ninguém contava. Não vale a pena insistir nesse delírio sem sentido, que não durou muito: em Novembro de 1975, as coisas voltaram a uma relativa normalidade. Mas ficou o sentimento da fragilidade das coisas, que só se consolidaram em 1989-1990. Nessa altura, a grande esperança da “revolução” já desaparecera. Cada um tratou, e não mal, da sua vidinha. Da sua carreira e da sua bolsa. Os partidos tomaram conta da política, com uma irreprimível irresponsabilidade e uma corrupção congénita, contra as quais o cidadão comum era impotente. Cada um meteu-se na sua casca e tentou ignorar o que sucedia fora dela. De qualquer maneira, a aventura deixara algum dinheiro e um módico de liberdade: o que aos 50 anos bastava. Por sorte, na sua imperfeição, a nossa época fora como a “Regeneração” e o “fontismo”, uma época “civilizada”, sem guerras civis, sem “ditaduras”, com menos miséria. Infelizmente, a nossa “sorte” incluía também uma certa esterilidade pessoal e a amargura de uma colectiva desilusão. E à nossa volta sucessivos governos criavam as ruínas da nossa velhice.» Ruínas sobre ruínas.

 

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