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portugal dos pequeninos

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Portugal, o fardo do homem preto

João Gonçalves 6 Jul 14

 

O jornal Público traz este domingo um interessante dossiê sobre a pequena (no sentido de rasca) história da "adesão" da Guiné Equatorial à CPLP. A CPLP sempre me pareceu um resquício ornamental da nossa mal resolvida relação com países que foram Portugal. Escudada na defesa da língua (nem isso conseguiram por causa do imbecil "acordo ortográfico" que é rejeitado por quem efectivamente "manda" na pobre CPLP) e de mais meia dúzia de trivialidades democrático-saudosistas, a "comunidade" não passa de um pretexto frívolo e inconsequente para o Portugal "actual" lavar alguma eventual má consciência "colonialista" que possa ter sobrado dos idos de 70 do século passado. Mesmo que essa má consciência inexista, alguns dos parceiros da "comunidade" estão permanentemente dispostos a recordá-la quando lhes convém. Foi agora o caso com a chegada da ditadura do sr. Obiang à CPLP. A figura pusilânime de Portugal neste processo, agachado diante dos seus "parceiros", dá uma imagem eloquente do "Portugal contemporâneo": um lugar tomado pelo negocismo, pelos interesses e pela irrelevância política que aqueles se encarregam em colocar ao seu serviço. O MNE, fora as "recepções" e os croquetes, foi substituído no seu funcionamento político-institucional pelas consultoras, pelos videirinhos e pelos escritórios da advocacia de negócios "especializados" em África e Brasil. De vez em quando aparece a AICEP, com o inocente Frasquilho à frente, para a coisa não parecer tão descarada. Alguns ex-MNE's, como Martins da Cruz, António Monteiro ou Luís Amado, participam alegremente nestas "actividades circum escolares" da "comunidade" e raramente pelo lado do país do qual foram chefes da respectiva diplomacia. Aliás, Amado ou Portas, para nomear apenas os MNE's mais recentes (Machete é mero corpo presente, não conta nada), bastam nesta edificante peripécia política que conduzirá o glorioso Teodoro ao convívio da "comunidade" por causa do temor reverencial do regime perante as antigas colónias, da América latina e África a, imagine-se, Timor que tanta honesta lágrima fez derramar a tanto crédulo. E, fatalmente, por causa do instinto rapace de sobrevivência próprio de periféricos sem vergonha na cara. Como escreve Miguel Sousa Tavares no Expresso, «foram, de facto, décadas de política externa que consolidaram uma prática que faz com que a nossa diplomacia não seja respeitada em quase lugar algum», culminando desta vez com «a adesão do Estado criminal da Guiné Equatorial à CPLP em troca de umas vagas promessas de negócios com petróleo e dinheiro para o Banif», «sem que alguém do Governo se preocupe em justificar o que quer que seja, sem que o Presidente da República levante qualquer objecção que se conheça e sem que a oposição faça disto um escândalo nacional.» 

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