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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

 

Sophia de Mello Breyner é, talvez, ao lado de Vitorino Nemésio (tão parcamente evocado como tal) e de Jorge de Sena um dos poetas fortes do século XX literário português. Se os outros dois fossem, um dia, transladados para o Panteão, acompanhavam-se perfeitamente uns aos outros. Se lá repousa o Junqueiro, essa meia-tijela intelectual nas palavras ácidas de Sena, por que é que aqueles não podem entrar em Santa Engrácia? Entre nós, estas "entradas" no Panteão, apesar de toda a devoção regimental, correm sempre o risco da sua própria caricatura contrariamente ao que que sucede em países como a França, mais dados a prestar à cultura e à história uma atenção que por aqui é quase sempre fruto do descaso. Da poesia de Sophia "falaram" bem alguns seus "confrades" e ensaístas como Óscar Lopes, Joaquim Manuel Magalhães, Eduardo Prado Coelho e, mais recentemente numa peça notável no Expresso, Pedro Mexia. Mas porventura por andar com ele na mão, é a Vasco Graça Moura (Discursos vários poéticos) que peço emprestadas as palavras do título e as seguintes. Porque há nos versos de Sophia um sentido de austeridade, de rigor e de autenticidade, que Graça Moura evoca e resume, um sentido de quem escreve «o poema como o boi lavra o campo/Sem que tropece no metro o pensamento/Sem que nada seja reduzido ou exilado/Sem que nada separe o homem do vivido».

 

«Ela surge, assim, outra vez, na sua nobre voz e no seu vulto frágil, num momento em que a cidade dos homens perdeu o norte e se tornou um pântano em que se respira tanto lixo, tanta porcaria e tanta abjecção. Nunca o que tinha a dizer-nos foi tão imperativamente necessário como agora. Nunca, como agora, precisámos tanto do banho lustral e purificador dos sons da sua lira de oiro e cristal, e dos fustes, dos frisos, das colunas, da justa proporção e da medida, do sonho e da água, do ar cor de safira e da luz que cintilam na sua palavra, atravessando-a e atravessando-nos para nos despoluírem a alma e para nos refundarem em dignidade.»

O estado de dissimulação

João Gonçalves 2 Jul 14

A pretexto da substituição de Vítor Gaspar, Paulo Portas apresentava há um ano um falso pedido de saída do governo. Falso porque não só ficou como, apesar de politicamente diminuído pelo primeiro-ministro - que lhe atribuiu a "coordenação económica" do executivo para ele poder andar lá fora a anunciar milhões,"colado" aos investidores privados, e colocar um "homem de palha" de sua confiança no lugar de Álvaro Santos Pereira -, "subiu" na hierarquia formal passando a vice PM. Na altura, naquele dia e até ao fim de semana seguinte no Hotel Tivoli, a pantomimice era "irrevogável" porque, nas suas palavras, "ficar no governo seria um acto de dissimulação" que não era "politicamente sustentável, nem pessoalmente exigível". Viu-se. Esta peripécia patética durou praticamente um mês até à posse do, na verdade, segundo governo de Passos Coelho. Pelo caminho subiram os juros da dívida e o PR hesitou em acabar com a farsa, como devia, antecipando eleições. À distância higiénica deles e de um ano, o "estado de dissmulação" em que o regime passou a viver acabou por "engolir" o seu autor material. Passos "obrigou" o seu vice a ver passar-lhe à frente, e a assinar de cruz, a mesmíssima "receita" que ele alegadamente recusava ver prosseguida com M. L. Albuquerque. Tal como o forçou a estatelarem-se juntos nas eleições europeias. Agora Portas pôe "condições" para renovar o "sucesso" de Maio último nas legislativas previstas para 2015. Está nas mãos de Passos Coelho manter o "estado" a que chegaram e aquele a que previsivelmente chegarão nesse momento. Não o invejo.

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