Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]

portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

 

 

 

 

«Depois da derrota de Sócrates, nunca mais no PS se falou do que o partido e o seu primeiro-ministro tinham feito com a sua maioria absoluta. Não se falou da “obra”, nem do “programa” (admitindo que existia um), nem dos métodos do “animal selvagem”, que várias vezes roçaram o intolerável. O governo de Sócrates desapareceu do universo mental dos socialistas. Ninguém o criticou, quando ele era todo-poderoso, ninguém abriu a boca a seguir para lhe encontrar o menor defeito. Parece que Sócrates mostrara uma grande vontade “reformadora” e que a crise financeira fora exclusivamente provocada pela crise internacional. No homem, ele próprio, não se podia tocar, tanto mais que ele com a sua conhecida modéstia se recolhera a Paris para escrever uma tese sobre, calculem, filosofia política. O pretexto para esta extraordinária abstenção estava como sempre na necessidade de garantir a unidade do partido e de lhe conservar um resto de prestígio. Não se conhece um exame tranquilo e sério dos quatro anos de Sócrates. Tirando um ou outro comentário vaguíssimo na televisão, António Costa não disse nada, António José Seguro também não e as personagens menores ficaram caladas como lhes competia. Ou seja, os socialistas não “arrumaram” o passado, como pretenderam, mas mais trivialmente “esconderam” um passado, que os comprometia, do eleitorado e do país. Agora, com as querelas domésticas do PS prometem participar ao público o que na realidade pensam, confessando de caminho que durante anos não hesitaram em enganar toda a gente por interesses de facção. Isto merece um comentário. Se os políticos – do PS, do CDS ou do PSD – não vêem qualquer objecção moral em governar à revelia dos portugueses, para que serve o regime democrático por aí tão gabado? O cidadão comum soube da corrida para a bancarrota, que começou com Guterres (ou até com Cavaco)? Soube do extravagante crescimento da dívida (interna e externa, soberana e particular)? Soube da carga que inevitavelmente cairia sobre ele, quando chegasse a altura de “ajustar” as coisas? E percebe a irresponsabilidade com que o conduziam para um poço sem fundo? De maneira nenhuma: sem informação, distraído pelas zaragatas da “classe dirigente”, viveu tranquilamente a sua vida, como se a “festa” fosse durar sempre. E é esta mesma gente que, no PS e fora dele, nos pede agora confiança?»

 

 

Vasco Pulido Valente, Público

 

Adenda: Depois da frioleira dos "fundadores", há-de chegar o momento dos "intelectuais" (sempre atentos, venerandos e obrigados quando farejam poder ou proximidade ao dito), dos "sindicalistas", dos "empreendedores progressistas", dos "jovens", dos menos jovens e os da meia-idade. Porquê? Porque contrariamente a Seguro - que passou despercebido no último governo de Guterres -, Costa anda pelo poder executivo, central e autárquico, vai para 20 anos. Foi membro proeminente dos governos de Guterres e Sócrates. No da maioria absoluta de 2005, era o "número dois" com um estatuto majestático que exigiu para regressar de Bruxelas onde estava desde as europeias do ano anterior. Depois  fartou-se e já vai no terceiro mandato como presidente da CML. Pelo meio dirigiu a campanha presidencial de Sampaio, em 1995-1996, e foi líder parlamentar do PS com Ferro Rodrigues. Isto tudo somado gera um longo cortejo de dependências, de apascentados e de cumplicidades que emergem "naturalmente", dentro e fora do PS, ao lado de Costa. Este "aparelho" construído a partir do poder é infinitamente mais perverso e eficaz do que qualquer "aparelho" partidário em si mesmo. Seguro até pode "dominar" circunstancialmente o do partido mas não pode "competir" com os "donos" e com os "servos" do regime. Costa não se distingue de Seguro pelas "ideias": uns vagos dias antes das europeias que Seguro ganhou, falou abundantemente na convenção do PS na qual foi apresentado um "programa de governo". Aliás, até agora não murmurou uma fora dos lugares-comuns que debita semanalmente ao lado de Pacheco e Xavier. Só que isso não interessa nada como explica a crónica de Vasco Pulido Valente. "E é esta mesma gente que, no PS e fora dele, nos pede agora confiança?"

Pesquisar

Pesquisar no Blog

Últimos comentários

  • João Gonçalves

    Primeiro tem de me explicar o que é isso do “desta...

  • s o s

    obviamente nao é culpa do autor ter sido escolhi...

  • Anónimo

    Estou de acordo. Há questões em que cada macaco se...

  • Felgueiras

    Fui soldado PE 2 turno de 1986, estive na recruta ...

  • Octávio dos Santos

    Então António de Araújo foi afastado do Expresso p...

Os livros

Sobre o autor

foto do autor