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portugal dos pequeninos

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Ferro forjado

João Gonçalves 19 Jun 14

«"É, de facto, um bocado extraordinário como o Partido Socialista, que acabou de obter uma significativa vitória nas eleições europeias, passou em poucos dias para as primeiras páginas dos jornais, não pela vitória, mas pelas disputas internas em torno da liderança. Deve ser um caso único no mundo, este, em que o partido ganha umas eleições com o maior resultado de sempre do regime em vigor e, o respectivo líder é imediatamente defrontado com uma série de candidaturas para disputarem o lugar que ocupa. Não sei quantos casos semelhantes existirão no mundo. Mas manda a verdade dizer que, na opinião dos outros dirigentes do PS, ou por causa de Sousa Franco, ou, porventura, pensarão ainda noutra hipótese, que eles ainda teriam conseguido um melhor resultado. Com franqueza, qualquer dos pensamentos é muito contestável e o último será, pelo menos, pretensioso. Não estou com isto a defender Ferro Rodrigues, mas nenhum ser humano medianamente esclarecido, e razoavelmente sensato, terá dúvidas de que o que seria normal era ver Ferro Rodrigues a ser louvado, a ser apoiado, ver o seu trabalho reconhecido e não o contrário. Há quem diga que há mais pessoas a candidatarem-se à liderança do partido, por pensarem que o partido pode ganhar as próximas eleições legislativas, ou outras, e, por isso mesmo, querem ter o poder. Bem, mas isso é o que se passa em qualquer força partidária que tenha essas circunstâncias, ou que tenha boas intenções de voto nas sondagens, ou que tenha razões para pensar que pode ter uma vitória eleitoral próxima. Mas quando assim é, quando uma força partidária está nesse estado, ninguém se atreve a contestar o líder. E, no Partido Socialista, está a cometer-se de facto esta proeza fantástica: acabaram de ganhar as eleições, mas já não querem o líder que as ganhou."

 

Fez ontem dez anos que este artigo foi escrito, cinco dias depois das eleições europeias de 2004. Algumas pessoas, que têm bons arquivos, tiveram a amabilidade de me lembrar esse texto e as similitudes daquilo que o seu conteúdo descreve pela situação actual. Tem semelhanças, sem dúvidas. Mas, na altura, Ferro Rodrigues conseguiu 44% dos votos com uma diferença de 11 pontos para a coligação PSD/CDS e, mesmo assim, foi muito contestado, acabando por se demitir quando Jorge Sampaio recusou dissolver a Assembleia e me nomeou primeiro-ministro. Como não haveria António José Seguro de ser contestado se ganhou com 3 pontos de avanço em tempo de crise muito mais profunda? Ferro Rodrigues, na altura, saiu contra a decisão do então Presidente da República. Curiosamente, o próprio anunciou esta semana que defende a saída de um líder - ou apoia quem o quer substituir -, que também ganhou nas eleições europeias. Insólito? Lógico? Coisas da política? Cada um responderá como preferir.»

 

Pedro Santana Lopes, Jornal de Negócios

A nuance fundamental

João Gonçalves 19 Jun 14

 

Não se forja um ministro adjunto, com as responsabilidades políticas inerentes, de um dia para o outro. Trabalhei com um e sempre lhe recomendei que vestisse mais o "fato" de ministro adjunto e menos o de Miguel Relvas. Miguel Poiares Maduro, que substituiu o citado, nem sequer o métier de Relvas possuía. Vinha de fora - mal acabou o curso de direito, saiu daqui e prosseguiu a sua carreira académica sobretudo noutras paragens -, desconhecia o Estado e a adminsitração pública sob as suas diversas formas e não estava nem partidaria nem politicamente calibrado para as funções que lhe atribuíram. Quando ontem  elaborou sobre o pagamento de subsídios e o Tribunal Constitucional. não percebeu que ninguém esperava dele um comentário de dissimulada cortesia jurídica mas, sim, político. E o comentário político seria sempre a conclusão a que aparentemente o governo chegou hoje. As pessoas não querem saber do dia 30 ou 31, do mês de Janeiro ou de Junho. Uma vez fixada a decisão jurídica, esperam do poder executivo uma resposta que denote sobretudo bom senso político e que garanta um módico de segurança e de certeza jurídico-económica às suas vidas. Poiares Maduro não entendeu esta nuance fundamental. Já não vai a tempo de aprender.

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