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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

Como uma barra de ferro

João Gonçalves 30 Jun 14

 

"O governo está coeso e sólido como sempre esteve", disse o dr. Lima da Economia. O que sempre esteve e está no "estado" aludido pelo ministro, só necessitaria desta "confirmação" se não estivesse. A menos que Lima seja dado à ironia enquanto arte de pôr em causa tal como a definia a filosofia antiga. Não tem todavia cara (nem cabeça) para para estas subtilezas.

 

 

 

 

«Depois da derrota de Sócrates, nunca mais no PS se falou do que o partido e o seu primeiro-ministro tinham feito com a sua maioria absoluta. Não se falou da “obra”, nem do “programa” (admitindo que existia um), nem dos métodos do “animal selvagem”, que várias vezes roçaram o intolerável. O governo de Sócrates desapareceu do universo mental dos socialistas. Ninguém o criticou, quando ele era todo-poderoso, ninguém abriu a boca a seguir para lhe encontrar o menor defeito. Parece que Sócrates mostrara uma grande vontade “reformadora” e que a crise financeira fora exclusivamente provocada pela crise internacional. No homem, ele próprio, não se podia tocar, tanto mais que ele com a sua conhecida modéstia se recolhera a Paris para escrever uma tese sobre, calculem, filosofia política. O pretexto para esta extraordinária abstenção estava como sempre na necessidade de garantir a unidade do partido e de lhe conservar um resto de prestígio. Não se conhece um exame tranquilo e sério dos quatro anos de Sócrates. Tirando um ou outro comentário vaguíssimo na televisão, António Costa não disse nada, António José Seguro também não e as personagens menores ficaram caladas como lhes competia. Ou seja, os socialistas não “arrumaram” o passado, como pretenderam, mas mais trivialmente “esconderam” um passado, que os comprometia, do eleitorado e do país. Agora, com as querelas domésticas do PS prometem participar ao público o que na realidade pensam, confessando de caminho que durante anos não hesitaram em enganar toda a gente por interesses de facção. Isto merece um comentário. Se os políticos – do PS, do CDS ou do PSD – não vêem qualquer objecção moral em governar à revelia dos portugueses, para que serve o regime democrático por aí tão gabado? O cidadão comum soube da corrida para a bancarrota, que começou com Guterres (ou até com Cavaco)? Soube do extravagante crescimento da dívida (interna e externa, soberana e particular)? Soube da carga que inevitavelmente cairia sobre ele, quando chegasse a altura de “ajustar” as coisas? E percebe a irresponsabilidade com que o conduziam para um poço sem fundo? De maneira nenhuma: sem informação, distraído pelas zaragatas da “classe dirigente”, viveu tranquilamente a sua vida, como se a “festa” fosse durar sempre. E é esta mesma gente que, no PS e fora dele, nos pede agora confiança?»

 

 

Vasco Pulido Valente, Público

 

Adenda: Depois da frioleira dos "fundadores", há-de chegar o momento dos "intelectuais" (sempre atentos, venerandos e obrigados quando farejam poder ou proximidade ao dito), dos "sindicalistas", dos "empreendedores progressistas", dos "jovens", dos menos jovens e os da meia-idade. Porquê? Porque contrariamente a Seguro - que passou despercebido no último governo de Guterres -, Costa anda pelo poder executivo, central e autárquico, vai para 20 anos. Foi membro proeminente dos governos de Guterres e Sócrates. No da maioria absoluta de 2005, era o "número dois" com um estatuto majestático que exigiu para regressar de Bruxelas onde estava desde as europeias do ano anterior. Depois  fartou-se e já vai no terceiro mandato como presidente da CML. Pelo meio dirigiu a campanha presidencial de Sampaio, em 1995-1996, e foi líder parlamentar do PS com Ferro Rodrigues. Isto tudo somado gera um longo cortejo de dependências, de apascentados e de cumplicidades que emergem "naturalmente", dentro e fora do PS, ao lado de Costa. Este "aparelho" construído a partir do poder é infinitamente mais perverso e eficaz do que qualquer "aparelho" partidário em si mesmo. Seguro até pode "dominar" circunstancialmente o do partido mas não pode "competir" com os "donos" e com os "servos" do regime. Costa não se distingue de Seguro pelas "ideias": uns vagos dias antes das europeias que Seguro ganhou, falou abundantemente na convenção do PS na qual foi apresentado um "programa de governo". Aliás, até agora não murmurou uma fora dos lugares-comuns que debita semanalmente ao lado de Pacheco e Xavier. Só que isso não interessa nada como explica a crónica de Vasco Pulido Valente. "E é esta mesma gente que, no PS e fora dele, nos pede agora confiança?"

As escadas de Costa

João Gonçalves 27 Jun 14

 

Não entendo por que é que António José Seguro insiste em trazer António Costa a debates. Não porque a coisa, os debates, não fossem eventualmente mais interessantes que uns empurrões, uns mails ou o fatal César. Não. Costa recusa-se a debates uma vez que o seu lance napoleónico-cartesiano assenta precisamente numa espécie de "tomada de assalto", sem direito a contraditório, com base no primado da primeira pessoa. Apesar de encher a boca de "ética republicana", Costa não passa prudentemente daí, de encher a boca. Por outro lado, com os media generalistas e não generalistas e os comentadores por natureza generalistas ao seu serviço, ao edil lisboeta basta-lhe aparecer no seu "espaço" de comentário televisivo semanal. E, mesmo aí, pode estar calado porque os outros dois debitam por ele. Se levasse a "ética republicana" a sério, Costa aceitava os debates e suspendia a sua participação na sicn. Mas, como dizia a outra, quem tem ética passa fome. Pelos vistos as escadas, para Costa, não têm degraus.

A bater bolas

João Gonçalves 27 Jun 14

 

Por esta hora, os "carregadores" dos "sonhos e da esperança" dos portugueses estão a fazer os malotes. O "melhor jogador do mundo" - também conhecido pelos penteados originais, pelas contas-poupança, pelos champôs e pela griffe em cuecas - não foi além da marcação de um golo no Brasil. As conferências de imprensa dos jogadores, dos médicos, do treinador e dos "federadores" retrataram melhor o país do que cem debates sobre o "estado da nação" ou as infinitas sessões comentadeiras de cá para lá perpetradas pelos tagarelas do costume: aquilo era, de facto, o "estado da nação". Talvez para não acabar tão abruptamente com os referidos "sonhos e esperanças", o senhor Presidente da República decidiu continuar a "bater bolas" convocando um Conselho de Estado irrelevante para presumivelmente discutir a "clara noite do nada" (Heidegger) em que consiste o presente e o futuro desta traquitana absurda chamada Portugal. Como se isto não bastasse, o dr. Passos andou pelo "cemitério dos portugueses", em França, a carpir os mortos domésticos da Guerra 14-18. O gesto é inequivocamente bonito e patrioteiro mesmo que a história subjacente não seja a mais edificante. No dia 9 de Abril de 1918, o mítico Corpo Expedicionário Português, quase todo enfiado no dito cemitério, foi literalmente dizimado pela ofensiva alemã chefiada por Ludendorff depois da debandada dos britânicos em cujo exército o CEP estava integrado. Os pobres dos portugueses ficaram, como sempre estiveram, entregues à sua má sorte e à sua irremediável iliteracia: não sabiam inglês e não perceberam a tempo que tinham pura e simplesmente de fugir. Ironia das ironias, tudo aconteceu no dia em que os ingleses se preparavam para render os esfarrapados militares do CEP em La Lys. Esse local acabou por se tornar famoso e por tornar famosos aqueles mortos heróicos, os únicos que temos para apresentar nos "teatros de guerra" em que participámos no século passado. Porque a má consciência, o temor reverencial e o "fardo" de Kipling impedem-nos de nomear os "heróis" da "guerra colonial". Os de La Lys foram simplesmente abandonados ao seu esforço inglório e à sua dramática ignorância. Passaram cem anos e continuamos a não ser exemplo para ninguém em lado algum.

O futuro não se recomenda

João Gonçalves 27 Jun 14

 

«O governo de Sócrates, ajudando entusiasticamente à bancarrota, e o de Passos Coelho, que andou sempre a tropeçar em contradições, mudanças de estratégia, polémicas sem sentido e reformas falsas, tiraram ao executivo o vago prestígio com que saíra de um pequeno período de prosperidade, inteiramente devido aos subsídios da “Europa” e, a seguir, ao euro. Hoje ninguém confia em nenhum ministro, a começar pelo primeiro-ministro. Sofremos, por impotência e por desespero, uma anarquia mansa de que ninguém vê o fim e a que muita gente se resignou. O Presidente da República, ansioso por evitar sarilhos no último ano do seu mandato, prega docemente aos peixes, sem se importar que o ouçam ou não ouçam e, de facto, a generalidade dos políticos não o ouve. Quase não vale a pena falar da extrema-esquerda. O ódio fraternal entre os vários grupinhos, que em conjunto a formam, não tem diluição ou concerto, como se viu em 25 de Maio. Os chefes são personagens de comédia ou aventureiros sem vergonha. Para ajudar à história, o PS resolveu cometer em público um suicídio longo e degradante, que o deixará dividido por muito tempo. Nem Costa, nem Seguro devem pensar que, lavada a roupa suja (que aparentemente é inesgotável), as coisas voltarão à ordem e tranquilidade do passado. Não voltarão. Cada um se ilude a seu gosto. Mas também Coelho e Portas aceitam ainda o absurdo postulado de que o PSD e CDS resistirão a quatro anos de “austeridade”. Erro deles. Seja como for, a República está presa por arames. E o futuro não se recomenda.»

 

Vasco Pulido Valente, Público

O pantanoso consenso

João Gonçalves 26 Jun 14

 

«Com Juncker ou com Schulz, a Europa está de facto sem qualquer estratégia: quer mais integração, mas não sabe como. Quer mais crescimento, mas não sabe onde ir buscá-lo. Quer mais legitimidade, mas entrincheira-se nas burocracias mais desmotivadoras. Quer proteger os seus cidadãos da globalização, mas torna-se cada vez mais num dos seus mais dóceis instrumentos. O último truque para fazer a economia crescer - ou melhor, o PIB, o que não é bem a mesma coisa - é revelador desta situação: se a economia normal não cresce, junta-se-lhe a economia paralela, o contrabando, o tráfico de droga e a prostituição, o que vai acontecer já a partir de Setembro. Convenhamos que, comparada com a esfuziante criatividade de que tem dado provas a indústria financeira, isto não é nada. Mas sempre são, segundo um estudo de P. Schneider sobre a matéria, The Shadow Economy in Europe, cerca de dois biliões de euros. Em Itália a economia paralela vale 21,6% do PIB, em Portugal 19,4%, enquanto na Bulgária ultrapassa os 30%. Vamos, finalmente, crescer! Este expediente mostra como a crise continua, e como ela é bem mais profunda do que se tem dito e procurado fazer crer. As litanias da "saída da crise" não passam, na verdade, de tretas rituais de uma terapêutica aos tropeções. No último número do Le Nouvel Observateur, Marcel Gauchet, num vivo debate com um singular economista, Frédéric Lordon, dizia-o de um modo tão claro como dramático, ao afirmar que "o efeito da alternância se esgotou. São todos igualmente impotentes, não há nada a esperar do pessoal dirigente." Mas M. Gauchet , um dos pensadores mais incisivos da Europa de hoje, vai bem mais longe do que o que poderia parecer uma banal diabolização da classe política. O que ele diz é que, para o futuro da Europa, mais do que passar o tempo a atirar a bola e as culpas de um campo para o outro, entre a esquerda e a direita tradicionais - que, precisamente, fizeram esta Europa -, o que importa é perceber bem em que é que tem consistido, e continua a consistir, o pantanoso consenso entre os dois campos, porque é aí que têm nascido os principais problemas e todos os impasses que hoje enfrentamos.»

 

M. M. Carrilho, DN

Bem feito

João Gonçalves 25 Jun 14

O eng. Bava é uma pessoa amável que tive o prazer de conhecer noutra encarnação. Até foi condecorado, a título de vivo, no último 10 de Junho. Mas a "sua" PT sempre beneficiou da complacência geral do regime, independentemente do governo. Agora o Estado - ou seja, os contribuintes - tem uma multa pesada para pagar em Bruxelas à conta desse porreirismo político-corporativol. «A máxima instância judicial europeia condena Portugal a pagar um total de três milhões de euros e uma multa coerciva de 10.000 euros por dia do atraso por não ter executado uma sentença anterior, de 2010», ou seja, por ter escolhido «a Portugal Telecom (PT) para fornecedor de serviços universal sem respeitar o procedimento legal comunitário, ou seja, sem concurso.» Bem feito.

Bate certo

João Gonçalves 25 Jun 14

A qualificação das pessoas e, por tabela, do território começa nos bancos da antiga escola primária. Crato vai fechar 311 escolas do chamado 1º ciclo. Os mais prejudicados por isto são os que estão mais afastados do litoral. O país cada vez mais se parece com um barco tombado. A "divisão" há muito que não passa pela diferença entre o norte e o sul. Sai-se de Lisboa, sobe-se ou desce-se um pouco e, depois, segue-se o deserto ou o "interior" como é conhecido nas estatísticas e na vulgata política. A boçalidade economicista não quer saber disto para nada. Metem-se as crianças num autocarro, andam de um lado para o outro, e a coisa fica "resolvida" mesmo que as excursões roubem tempo e disponibilidade para aprender. O resto está resolvido por natureza: pela natureza da chamada "evolução natural" e do "progresso". Onde não existe ninguém, ou tende a não existir, não é preciso qualificar. E é de pequenino que se começa a perceber a merda de país em que se nasceu. Bate certo como a matemática medíocre de Crato.

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