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"Os tempos são ligeiros e nós pesados porque nos sobram recordações". Agustina Bessa-Luís
João Gonçalves 18 Mar 14
Não posso dizer que tivesse ficado surpreendido quando, numa mensagem vinda das Áfricas longínquas e afinal tão próximas, o Nuno Santos me deu a conhecer a morte de José Medeiros Ferreira. No seu aniversário, a 20 de Fevereiro, tinha-lhe enviado uma mensagem que não obteve resposta. Falei-lhe em breves palavras dos dias por vir porque sempre entrevi no Medeiros futuro e liberdade. Foi com ele, aos 18 anos, que me aproximei da chamada política. Saía uma tarde do autocarro para as aulas do Instituto Britânico, ao Príncipe Real, e o Medeiros seguia à minha frente, com o filho Miguel pela mão, a caminho da papelaria perto da Cister. Interpelei-o por causa do Manifesto Reformador, apresentado uns dias antes, que reclamava a evolução do regime pela via referendária, mais liberdade e flexibilização na economia (os aprendizes de feiticeiro da "democratização da economia" do dr. Passos não só não inventaram nada como não sabem sequer do que falam) e uma liderança institucional do PR, na altura Ramalho Eanes que sempre nos foi comum. Levou-me de imediato à sua casa na Calçada Eng. Miguel Pais e deu-me uns quantos exemplares do Manifesto para divulgar. No final desse ano de 1979, celebrou um acordo com Francisco Sá Carneiro que permitiu a integração de candidatos independentes e reformadores nas listas da Aliança Democrática. Reuníamos entre a Silva Carvalho e a Gustavo de Matos Sequeira. Foi nesta que se aprovou outro manifesto, redigido no essencial por Francisco Sousa Tavares, de apoio a esses candidatos e à AD. Depois esse grupo separou-se à conta, sobretudo, das presidencias de 1980. Medeiros tinha assegurado a liberdade de accão dos futuros deputados reformadores no convénio com o PSD. Numa balaustrada de São Bento, na primavera de 1980, Medeiros disse-me que ia "desembraiar" o acordo, e alguns de nós seguimos Eanes e os outros ninguém ou Soares Carneiro. Não estive com ele na "aventura" do PRD nem tão pouco acompanhei o seu regresso ao PS onde, quer num lado quer no outro, o espírito livre e ironista sempre se sobrepôs às dependências circunstanciais dos rituais partidários. Medeiros lamentou que Guterres nunca o tivesse aproveitado. Num voo de Bruxelas, onde nos cruzámos por acaso, confessou-me que aceitaria um "convite" (e apenas esse) para ministro da administração interna. Sócrates nunca o interessou. Ponderava, como poucos, as funções de soberania no Estado moderno democrático e falava disso com vivacidade lúcida e sem os preconceitos de quem conhecia bem a história contemporânea portuguesa. Depois da academia no exílio suiço, empenhou-se na nossa universidade e no estudo dessa história preciosa para entender o presente e intuir o futuro. Era o seu espaço de liberdade, por excelência, como referiu na sessão em sua homenagem, na Nova, por ocasião da jubilação. Nos derradeiros anos encontrámo-nos para almoçar, para combinar o seu prefácio ao meu livro Portugal dos Pequeninos, para beber um copo ao final do dia no Pavilhão Chinês e no lançamento do livro Não há mapa-cor-de-rosa, um testemunho imprescindível no momento porventura mais decisivamente europeu - quando foi ele, em 1977, quem entregou o pedido de adesão do país à CEE - de um Portugal que assiste, resignado, ao que ele designou pelo regresso clandestino do escudo. Por alturas deste Natal, eu vagueava pela FNAC do Chiado quando vejo o Medeiros descer as escadas rolantes da livraria. Com uma boina escocesa para o proteger do frio, e umas luvas que descalçou para me apertar a mão, ali ficámos uns minutos junto a um escaparate a falar do passado, do presente e do futuro que era só o que lhe interessava. Recordámos a sua passagem pelo MNE, no primeiro governo de Soares, a ainda andámos mais para trás até ao VI, provisório, de Pinheiro de Azevedo onde foi secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros com Melo Antunes. Também lá passou, pelo então PPD, um tal de Machete sem deixar rasto. No meio de livros, Medeiros instou-me a escrever um ("desta vez não pode ser do blogue, tem de ser original e tem de o escrever") sobre a minha colaboração com XIX governo constitucional. Despedimo-nos com votos mútuos de boas festas e a promessa desse livro que agora terá, à cabeça, a querida memória de uma fraterna amizade. Enquanto o Medeiros espreitava os livros, já eu subia as escadas de saída desse encontro que se pressentia o último.
Primeiro tem de me explicar o que é isso do “desta...
obviamente nao é culpa do autor ter sido escolhi...
Estou de acordo. Há questões em que cada macaco se...
Fui soldado PE 2 turno de 1986, estive na recruta ...
Então António de Araújo foi afastado do Expresso p...