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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

Um ano de Francisco

João Gonçalves 13 Mar 14

 

A escolha do antigo bispo de Buenos Aires não me entusiasmou particularmente. Porque começou muito cedo a "entusiasmar" gente a mais. Nunca, como católico, entendi a Igreja como qualquer coisa fashion. Ainda cardeal em Munique, Ratzinger já advertia a Igreja para se habituar a viver em minoria. Nas viagens apostólicas, rodeado de multidões, Bento XVI jamais cedeu nesta premissa. A Igreja - e com ela o Cristianismo católico - não seria a instituição milenar que sobreviveu às maiores contrariedades e perseguições se tivesse claudicado perante as contingências e o populismo. Ela acolhe os pecadores - os fiéis são fundamentalmente pecadores porque são pessoas com os defeitos e as qualidades de todo o ser humano - no perdão, na caridade e na fé. Francisco tem feito os possíveis para "agradar" mas, quando chegar ao fim, estará no ponto de partida fora uma ou outra alteração na intendência do Vaticano. O sucessor de Pedro não faz proselitismo como explicou Bento XVI repetidamente. «Em princípio, Francisco, como, antes dele, João Paulo II e Bento XVI, pode escolher um de dois caminhos. Pode escolher o caminho do compromisso, na esperança de reconduzir à Igreja alguns dos milhões que se afastaram ou estão à sua margem. Mas, fatalmente, a cada concessão, irá crescendo a ideia de uma mudança radical na Igreja, que a deixaria irreconhecível como, por exemplo, sucedeu ao Anglicanismo. O segundo caminho para o Papa Francisco é ficar em público pela retórica e, na substância, defender o que está. Esta estratégia, além de lhe ser pessoalmente nociva, aumentaria a desconfiança geral dos fiéis pela Igreja como hipócrita e fraudulenta. Apesar da sua imensa popularidade, e mesmo por causa dela, Francisco acabou numa velha armadilha, em que esbraceja em vão.» (Vasco Pulido Valente, Público).

Governado pela certeza

João Gonçalves 13 Mar 14

 

O  primeiro-ministro referiu-se depreciativamente às pessoas que subscreveram um manifesto favorável à reestruturação da dívida (e nunca ao seu "perdão", como uma "ideia" mentirosa das coisas insinuou pela voz dele e, hoje, do dr. Lima que falou em "tiros" como se estivesse montado no porta-aviões do seu mentor entretanto desaparecido) como "aquela gente". Não sendo íntimo nem tão pouco afim, política ou intelectualmente, de muitos dos subscritores, reconheço-me todavia no essencial do escrito e defendo, sem hesitações, o direito (que é, em democracia, também um dever cívico) a exprimirem opiniões distintas das que a correcção ilusionista manda que se exprimam. No fundo, o que sobressai é um medo dos nossos pequenos poderes, cuja autoridade moral diminui de dia para dia, perante interrogações que escapam à sua "visão" estreita e timorata dos problemas. Tudo, aliás, porque há Maio à vista. Com eleições e fim de programa de ajustamento que não significa qualquer melhoria na vida de ninguém. A austeridade continuará, reforçada e revivificada, através de "medidas" que muito "corajosamente" só serão conhecidas, ou entrarão plenamente em vigor, no segundo semestre, passado o confronto directo com o eleitorado. O primeiro-ministro não aprecia o cepticismo enquanto atitude cultural e política. Não admira. A interrogatividade não é o seu forte e os seus "explicadores" pelos vistos não o ajudam. Cada um tem o que merece.

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João Gonçalves 13 Mar 14

«Como se fosse uma lista de baixas numa guerra, ficámos a saber que o PIB do país recuou ao nível do ano 2000 e o emprego tombou até ao ano de 1996. Em dois anos e meio foram destruídos 328 mil empregos. Tudo isto para combater uma dívida pública bruta excessiva, que, no mesmo período, subiu de 94% para quase 130% (ultrapassando em 15% as precisões da troika)! (...) No século xix, dois grandes europeus, Antero de Quental e Nietzsche escreveram, ao mesmo tempo, quase a mesma coisa: o que separa os homens é a maior ou menor capacidade que têm de "suportar" a verdade de que depende a dignidade da vida. A verdade dói, mas a mentira mata

 

Viriato Soromenho-Marques, DN

 

«Rosanvallon sustenta por isso, e bem, que viver em sociedade é antes do mais, para cada um, ver a sua existência apreendida na sua realidade e reconhecida na sua verdade quotidianas. De resto, é a invisibilidade de tudo isto que nos nossos dias estimula a inflação da linguagem política tal como ela se pratica cada vez mais, isto é, saturada de abstracções e sem ligação com o real, alimentando por isso todos os tipos de decepções com a política e de rejeições dos seus discursos. A "conversa de treta" das últimas semanas sobre a saída - limpa ou suja!...- do programa de ajustamento em que Portugal tem vivido é um bom exemplo desta desconexão, que só atordoa os cidadãos.»

 

Manuel Maria Carrilho, idem

 

«Confesso que vejo com alguma dificuldade que Adriano Moreira seja masoquista. Ou Bagão Félix. Ou Alberto Ramalheira. Ou António Saraiva. Ou Diogo Freitas do Amaral. Ou Fausto Quadros. Ou João Vieira Lopes. Ou José Silva Lopes. Ou Luís Braga da Cruz. Ou Manuel Porto. Ou Manuela Ferreira Leite. Ou Miguel Cadilhe, que não assinou mas publicou um artigo concordando no essencial com ele [o manifesto pela reestruturação da dívida] e lembrando que há mais de dois anos defende uma renegociação "honrada" da dívida. Ou Vítor Martins e Sevinate Pinto. Eu confesso que vejo com alguma dificuldade que no Governo tenham existido pessoas que, por estes critérios, podem ser consideradas masoquistas, como Vítor Gaspar, que conseguiu estender os prazos de pagamento da dívida e descer as taxas de juro aplicadas. Eu confesso que vejo com alguma dificuldade que o Conselho das Finanças Públicas, presidido por Teodora Cardoso, seja um ninho de masoquistas, já que mesmo com números superiores aos apresentados pelo primeiro-ministro (excedente primário de 2,5% e crescimento nominal de 3,5% contra 1,8% e 3% defendidos por Passos) isso só permitirá reduzir a dívida para 84,7% do PIB em 2035. Eu confesso que vejo com alguma dificuldade que a Comissão Europeia seja constituída por um grupo de masoquistas, já que mandatou um grupo de peritos para apresentar propostas para a criação de um fundo europeu para a amortização da dívida antes das próximas eleições para o Parlamento Europeu, que são já a 25 de Maio. Eu confesso que vejo com alguma dificuldade como é que este grupo de masoquistas não se vai alargar exponencialmente, dentro e fora de portas, quando em Setembro entrarem em vigor as novas regras de contabilização da dívida pública definidas pelo Eurostat e que vão levar a que a nossa dívida pública aumente em cerca de 10 pontos percentuais, aproximando-se dos 140%.»

 

Nicolau Santos, Expresso

«Não importa tanto saber como vamos sair deste período da troika, interessa sobretudo perceber como vamos iniciar e prosseguir o período pós-troika. A questão fundamental não é a de saber se teremos uma saída mais ou menos limpa, ou mais ou menos condicionada. A questão é outra: é a de sabermos como poderemos conciliar preocupações sérias em matéria de consolidação das finanças públicas com objectivos imperiosos de crescimento económico e manutenção de um Estado-providência de elevada qualidade. Já se constatou que nenhum entendimento é possível em torno de uma política de austeridade patológica que apenas conduz ao empobrecimento, à perpetuação de atrasos e à acentuação de desigualdades. Precisamos urgentemente de conceber outro tipo de entendimentos em torno de políticas de natureza diferente.»
Francisco Assis, Público

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