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portugal dos pequeninos

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Aprenda, dr. Passos

João Gonçalves 12 Mar 14

 

 

Em menos de 24 horas, o primeiro-ministro reagiu da pior forma (e, da primeira delas, num local tão apropriado como as novas instalações da PJ perante uma audiência incrédula que não devia fazer a menor ideia do que é que ele estava a falar) a este manifesto. Depois, esteve numa coisa do Jornal de Negócios onde derramou o jargão habitual e acusou as pessoas que se atreveram a pensar diferentemente dele de "deitarem fora" estes últimos três gloriosos anos com as suas propostas "irrealistas". Isto bastou para Passos Coelho - que podia aproveitar o regresso de Relvas para ter pelo menos um cheirinho de mundo, algo que ele não tem e que o outro, por dever de ofício, conhece um pouco melhor nas suas luzes e sombras - demonstrar o afecto que, afinal, lhe desperta o "consenso" e a conversa democrática: nenhum. Prefere comportar-se como o preboste atilado do "programa de ajustamento", e respectivas sequelas austeritárias, mesmo quando os números agigantados da dívida lhe entram diariamente pelos cantos da casa como uma praga incontrolável. Persiste em usar salários e pensões como os únicos bodes expiatórios da "realidade" à qual tudo se deve submeter menos a sua cabeça. Valoriza (sem saber sequer o quer dizer a palavra "valor" na tradição filosófica e política que foi a nossa) abstracções e despreza, como obstáculos "inadequados", as pessoas. À frente da "aliança" politicamente medíocre para as europeias, Rangel, mais "passista" agora do que Passos, declara "inoportuna" a promoção deste debate com um temor reverencial provinciano perante os "credores" como se os ditos não soubessem mais das vicissitudes das dívidas soberanas do que ele. E Maduro, essa extravagância importada à pressa, veio a correr falar em "irresponsabilidade" como se conhecesse o "estado da arte" nacional desde pequenino. Como diz Bagão Félix, um conhecido e perigoso agitador mundial de "massas", «se não podemos falar sobre os nossos problemas, então teremos perdido a nossa independência. É uma espécie de censura não política, a submissão ao pensamento único dos mercados. Nós não queremos pôr em causa as nossas responsabilidades. Mas para ter ganhos, no contexto europeu, é preciso sermos activos. E o que é ser-se irrealista? Pensar que se pode cumprir o Tratado Orçamental não é também ser-se irrealista?» A cultura democrática é discussão, interrogação, risco e proposição adversarial. Não são imensos blocos imóveis de gelo ou de cimento sobre os quais, uma vez por festa, se prodigalizam umas ténues marteladas. Aprenda, dr. Passos.

 

Adenda: «Neste país em diminutivo, juizinho é que é preciso.» (Alexandre O'Neill). Ao exonerar dois dos seus consultores por alegado delito de opinião, o Senhor PR, mais do que reduzir a liberdade de opinião deles (e a um consultor exige-se isso ou então põe-se lá uma jarra), acabou por limitar a sua liberdade de acção como Chefe de Estado que pede "consensos". Não se transige com a liberdade.

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