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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

"Somos morte"

João Gonçalves 27 Fev 14

Um tipo vai de hospital em hospital, onde é sistematicamente recusado por três, até ir morrer a um quarto. Outro está a cumprir uma pena de prisão e é violado na cadeia por ter sido enfiado numa cela com presos que foram transferidos de outro estabelecimento prisional por causa dos antecedentes comportamentais conhecidos do "sistema". Um  filho asfixia a mãe, primeiro, e a seguir atira-a pela janela de um oitavo andar porque "precisava" do dinheiro que ela não tinha, a saber, uma das generosas pensões a rondar os duzentos euros que, de acordo com o "sistema", são imaculadas e provam a "justeza social" dos cortes nas outras. Não somos "sociedade" nem "Estado mínimo". "Somos morte", nas duas tão breves quanto certeiras palavras de Bernardo Soares.

Antes de apagar as velinhas do bolo

João Gonçalves 27 Fev 14

Como na canção idiota de antes de apagar as velinhas do bolo, hoje "cantam as nossas almas". Portugal foi "ao mercado" e os "especialistas" não deixarão de "reconhecer" que foi um "sucesso". Foi? A palavra a Viriato Soromenho-Marques. «Como é que designaríamos o comportamento de um cidadão que, incapaz de honrar um crédito pessoal a uma taxa de 3,35%, prestes a atingir a maturidade, contraísse um novo empréstimo a uma taxa de 5,11% para pagar o primeiro ("troca de dívida")? Sem dúvida, tratar-se-ia de um comportamento pouco recomendável. E como seria classificado esse comportamento se o cidadão em causa utilizasse parte do novo empréstimo (de 11-02-2014) para antecipar, parcialmente, o pagamento em 19,5 meses do primeiro empréstimo, pagando 102,89 euros por cada 100 euros de dívida ("recompra")? Seria, certamente, uma atitude temerária, pois aumenta a despesa com juros para apenas empurrar a dívida para o futuro. Pois é isso que o Governo pretende fazer hoje. O leitor pode ir ao site eletrónico do IGCP. Abra o boletim mensal de Fevereiro sobre "Dívida Pública". Na p. 2, vê que o Estado vai ter de resolver até 2016 cerca de 39 mil milhões de euros de empréstimos. Esse imenso obstáculo tem sido o pretexto para a constituição de uma volumosa "almofada" financeira. Tudo indica que o IGCP quer recomprar, hoje, uma parte de uma série de dívida a dez anos, contraída a partir de Outubro de 2005 (ver p. 3). Se o fizer, às taxas mais recentes no mercado secundário, isso significa que, para o montante que for hoje amortizado, vamos pagar mais 3,53% de juros por ano até Outubro de 2015 do que antes das duas operações financeiras supracitadas. Será isto uma gestão prudente, ditada pelo interesse nacional, ou estará o Tesouro público em risco para alimentar uma ilusão pré-eleitoral de triunfo? Será esta uma almofada que alivia o País, ou uma pedra amarrada às pernas que o atira para o fundo? Temos direito a saber a lógica com que se joga o dinheiro sonegado aos salários e às pensões. Direito a uma explicação, ou a uma beliscadela que nos acorde deste pesadelo.»

A política da promessa acabou

João Gonçalves 27 Fev 14

 

«Nesta sociedade líquida, de eleitores relapsos a quaisquer baias ideológicas e frívolos no seu intocável individualismo, os partidos sentem-se cada vez menos motivados não só para grandes definições ideológicas, mas mesmo para a simples adopção de programas e projectos muito precisos, procurando antes adaptar-se à maleabilidade da própria sociedade, num círculo que se revela pesadamente vicioso. É nisto que, em todo o Ocidente, estamos. O paradoxo, contudo, permanece. E todos os estudos de opinião revelam que a maioria dos cidadãos pensa que pior que um regime político de partidos, só um regime político... sem eles. Das três dimensões dos partidos políticos, a clubista (que é a mais tribal), a pretoriana (que vive do e para o chefe) e a cidadã (que valoriza as ideias e a sua discussão), o caminho tem-se feito sempre em prejuízo desta última, e é isso que, com toda a evidência, se vê em congressos como o do PSD do último fim de semana. É todavia no sentido inverso que é preciso trabalhar, visando a qualificação interna dos partidos, uma qualificação que os torne capazes de retomarem a sua função de instituições capazes de promoverem a oferta política com ideias, propostas e projectos, desafiando assim a própria sociedade (...). Hoje é preciso trabalhar com menos hierarquias e apostando mais no saber e no conhecimento. Até porque esse é o único modo de os políticos travarem com sucesso o grande combate que se anuncia para os próximos tempos, e que será entre o populismo e a tecnocracia, que conta já hoje tanto ou mais do que a tradicional oposição direita/esquerda. A era da política da promessa acabou, já o escrevi há tempos. Precisamos agora de partidos e de políticos que pensem no médio/longo prazo, mas também saibam improvisar com competência. Que compreendam as grandes interdependências globais, mas também saibam aproveitar - ou mesmo criar - margens de manobra para os seus países. Que expliquem aos cidadãos o que fazem, mas também consigam exigir à sociedade uma verdadeira cumplicidade na descoberta de novas vias para o futuro.»

 

M. M. Carrilho, DN

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