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portugal dos pequeninos

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"Teses" para o Coliseu dos Recreios

João Gonçalves 21 Fev 14

 

Começa mais um, o 35º, congresso do PSD. Passa-se no Coliseu de Lisboa e, em princípio, servirá para jubilar o actual presidente do partido, o "sucesso" das suas políticas governamentais e a "nova normalidade" que mais não é do que a institucionalização definitiva da "tanga" de 2002 do venerando dr. Barroso. Em vez de Relvas, há Marco António, e mais um ou outro moço obscuro, para a intendência das pseudo "tendências" e dos lugares. Alguns ministros estão intimados a derramar sobre o "futuro", com base no extravagante passado próximo, porventura com a obrigação de mostrar a Bruxelas e ao FMI a "superioridade moral" do friso governativo doméstico presumivelmente encimado pelo fatal Crato. A cabeça, menos estimulante do que há cinco anos, do dr. Paulo Rangel será consagrada para a improvável lista conjunta das eleições europeias e decerto brindará os congressistas com uma lancinante exposição acerca das virtualidades burocráticas da política "europeia" para a paróquia. Se a social-democracia pairasse no Coliseu, a conversa seria outra. Por exemplo, Paulo Trigo Pereira aponta algumas "teses" que um congresso social-democrata (e não um rendez-vous de línguas de pau irrelevantes e reverenciais) devia discutir nesta altura:

 

«Os nossos dois problemas essenciais não estão resolvidos. O fardo da dívida pública está a aumentar e o crescimento neste ano será ainda fraco. Em 2014, o peso da dívida pública bruta no PIB deverá chegar aos 137% do PIB, (embora haverá 8,7% em depósitos), quando em em 2010 era de 94%. O défice em 2013 foi ainda excessivo.»

 

«As famílias definitivamente não saíram da crise. Em 2010 os pedidos à DECO relacionados com sobre-endividamento eram 11960 e têm vindo sempre a crescer, quase triplicando em 2013 (29214). Porém, os processos em que a DECO consegue abrir processos para renegociar a dívida junto dos bancos, cresceu até 2012, mas reduziu-se em 2013, não porque as famílias não necessitem, mas porque já não têm rendimentos suficientes para renegociar essa dívida.»  

 

«Não existe governação económica nem na UE nem na zona euro. Aquilo a que se chama 'governação económica', não são mais de um conjunto de regras e procedimentos praticamente iguais para todos os países  - o “six pack” o “two pack” ou o tratado orçamental.»

 

«A União bancária é muito importante e está avançar, mas não com a velocidade desejável. Vão ser concluídos, espera-se, dois pilares fundamentais – a supervisão e regulação europeia e os mecanismos de resolução bancária – mas faltará um muito importante, a garantia de depósitos. Este é essencial para evitar novas crises e o pânico dos agentes económicos em situações de perca de confiança, mas muito dificilmente a mutualização dos riscos dos depósitos passará  em alguns países.»

 

Como escreve Vasco Pulido Valente no Público, «nunca como hoje houve uma tão larga indiferença pelo nosso destino colectivo, ou seja, pela história e pela cultura, que nos trouxeram onde trouxeram. As causas da desgraça em que vivemos e do esquálido futuro que aí vem são vagamente distribuídas por erros que toda a gente cometeu, pela intrínseca perversidade da política ou pela maléfica influência do estrangeiro. Sobre aquilo em que Portugal se tornou no fim do século XIX e no século XX nem uma palavra. É como se o país só existisse desde 2010, a partir do fracasso da democracia e da iminência da bancarrota (...). Agora, ninguém se importa com a natureza de Portugal.» Ninguém. Muito menos os congressistas do Coliseu.

 

Adenda: Depois de escrito este post, deparo com uma entrevista do Luís Montenegro com este extraordinário oxímoro político no título: «a vida das pessoas não está melhor mas o país está muito melhor.» Das duas, uma. Ou o Luís ignora o país em que vive, ou ignora as pessoas que vivem no país. Qualquer das hipóteses é má de mais para ser verdadeira.

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