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"Os tempos são ligeiros e nós pesados porque nos sobram recordações". Agustina Bessa-Luís
João Gonçalves 11 Fev 14
Fechada a emissão a 10 anos, os juros ficaram a 5.1. A Irlanda pagou 4.1 aquando da derradeira emissão de dívida, com idêntica maturidade, e com a troika em casa. Como diria o alto comissário para os refugiados, é só fazer as contas.
João Gonçalves 11 Fev 14
«1. Inculca culpa na tua vítima. Convence-a de que é responsável pelo que lhe está a acontecer. Se o fizeres, a tua tarefa estará facilitada. Lembra-te: se aqui vítima há, és tu, cujas intenções são “incompreendidas” pelos “ingratos e invejosos”.
2. Usa palavras mágicas: pátria, empreendedorismo, sacrifício, futuro, reformas, construir, acreditar, inovação. Baralha-as numa Bimby e faz bimbices. Se conseguires dizer sem te rires algo como “Pensar e preparar o futuro do nosso país é proporcionar às gerações que nos irão suceder as ferramentas adequadas para construir um Portugal diferente, num quadro de qualidade, responsabilidade e inovação”, tens um lugar assegurado.
3. Diz que compreendes a insatisfação dos prejudicados e concordas que, sim, têm razão, mas agora não pode ser nada. Justifica-te com a burocracia, a qual és o primeiro a combater. Pede para adiarem o seu protesto, que tu próprio reconheces como justo, “houve de facto erros, a corrigir no futuro”, mas que em breve tudo se resolverá, se as pessoas tiverem “calma e paciência” e souberem “aguardar discretamente”.
4. Desvia as atenções. A forma mais prática de aliviar uma afta é martelar um dedo. Estudo de caso: há anos, um governo estava em crise com uma sucessão de demissões. Um ministro de génio (para estas coisas) marcou uma conferência de imprensa a anunciar a construção da terceira ponte lisboeta sobre o Tejo. Todos os jornalistas caíram no engodo – por malícia, naiveté ou pura cumplicidade. Aplica estes e os outros preceitos e terás a vida facilitada.
5. Usa factos. Não importa quais. E números. Muitos números. Mostra gráficos. Sê firme, mesmo que não saibas o que estás a dizer. Não te preocupes, com sorte o teu interlocutor não terá informação ou coragem para te confrontar, e o risco de seres apanhado é inferior a 1,6% (número que acabo de inventar, aliás). Quando te apresentarem factos contrários, responde que “são casos isolados”. Simplifica ao absurdo mas, se necessário, foge na direcção contrária, e diz que “a questão é demasiado complexa” para ser tratada “daquela maneira” na praça pública.
6. Chora lágrimas de crocodilo. Se não tiveres de crocodilo, chora lágrimas de raposa, de hiena, de lobo com pele de cordeiro, de rato de sacristia, de coelho à caçadora, de abutre, ou, na pior das hipóteses, de “intensa e enorme emoção”, porque tu, “pessoa razoável e pragmática”, raramente “cedes à emoção”, mas quando cedes ela é sempre intensa e enorme, porque tu és assim e “assumes” com plenitude a plenitude da plenitude.
7. Sabes que a crise tem unicamente por função baixar “o custo do trabalho”. Corrijo: também servirá para vender alguns anéis públicos, e os dedos que a eles vierem colados. Só que baixar o custo do trabalho é a prioridade. Infelizmente, não o podemos dizer desta maneira. Então mostra compaixão, geme, condói-te, solidariza-te, “compreende”. Etc. Faz como te digo e vais ver que tudo corre bem.
8. Defende e respeita a tradição. Porque a tradição é “a alma dum povo”. Lembra que, em contrapartida, para progredir é preciso “proceder a reformas necessárias”. E são sempre necessárias, essas reformas, ainda que “dolorosas”. Tu compreendes que são dolorosas, só que necessárias. Em simultâneo, tenta respeitar “as bonitas tradições do nosso povo e de nossos pais”. E nenhuma é tão bonita como o futebol.
9. Escolhe bem os funerais a que vais. Lembra-te: o morto é o menos importante, a pedra na sopa da pedra. Se te candidatas a herdeiro do trono, sê “discreto e humilde”, mas vai para a frente na fotografia. Lembra-te: quando foi confrontativo, Ronaldo perdeu; quando foi humilde, Cristiano ganhou.
10. Ignora aqueles que dizem: não mates o mensageiro. Matar a quem, senão ao mensageiro? Ignora aqueles que dizem que não se bate nos mais fracos: bater em quem, senão nos mais fracos? Nos mais fortes? Só os idiotas batem nos mais fortes. Não te armes em corajoso. Se quiseres mostrar coragem (até para desviar as atenções), empurra um bêbado ou humilha um criado.
Cumpre estas leis e poderás, pela calada, desobedecer a todas as outras. Ámen.»
Rui Zink, Público
João Gonçalves 11 Fev 14
À memória de Luís Seabra Duque
Faz hoje precisamente um ano que o agora Papa Emérito Bento XVI anunciou a sua resignação. O deplorável espectáculo do mundo entretanto agravou-se. Raztinger não ficará na história como um Papa banal nem tão-pouco como o profeta das trevas que muitos teimavam ver representado nele. Há décadas que vinha avisando a Igreja para se preparar a viver em ambiente minoritário e liberta espiritualmente do imperativo categórico da "correcção" contemporânea. Sabe que a sua sobrevivência, nestes tempos levianos e superficiais de efeito fácil, depende muito da intransigência em manter-se um olhar céptico e realista para dentro da própria Igreja, para a "condição humana" da Igreja - homens e mulheres dela, e leigos, já que ninguém é obrigado a ser cristão, muito menos católico. Como escreveu em A Luz do Mundo, «o Mal pertencerá sempre ao mistério da Igreja. Se olharmos para tudo o que os homens, e nomeadamente o clero, fizeram na Igreja, temos aí verdadeiramente uma prova de que Ele fundou a Igreja e a sustém. Se ela apenas dependesse dos homens, há muito que já teria perecido.» O Papa Emérito continua a ser, na nobre solidão do seu silêncio, uma das personagens internacionais mais estimulantes deste precário século XXI tão parco delas.
Primeiro tem de me explicar o que é isso do “desta...
obviamente nao é culpa do autor ter sido escolhi...
Estou de acordo. Há questões em que cada macaco se...
Fui soldado PE 2 turno de 1986, estive na recruta ...
Então António de Araújo foi afastado do Expresso p...