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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

Na véspera da assinatura do acordo entre o PSD e o CDS para as eleições europeias, o senhor vice PM apareceu, rodeado por três estimáveis pessoas, para anunciar novo "sucesso". O décimo primeiro, para ser mais preciso, correspondente à penúltima avaliação da troika. Fora alguns aspectos de recorte puramente carnavalesco, o que fica do não dito é bem mais relevante do que foi falado sem o conhecimento prévio dos parlamentares da maioria (que, até ao momento em que escrevo, não reagiram). E o não dito - e apenas aflorado pela ministra das finanças que, por natureza, não é dada a "números" a não ser os propriamente ditos - é que só nas vascas das ditas eleições europeias, entre Abril e Maio, se conhecerão as contrapartidas austeritárias (para o ano corrente e seguintes) do décimo primeiro "sucesso". Por mais que tentem o contrário, Paulo Rangel e os candidatos do PSD e do CDS vão emergir  como os "homens de palha", os rostos a sufrágio em Maio, deste "sucesso" celebrado pelo talentoso dr. Portas que engoliu em seco, ao lado de Maria Luís Albuquerque, a previsível não redução de impostos, com ou sem "comissão" do IRS. As coisas são o que são.

«A despedida»

João Gonçalves 28 Fev 14

 

«Eduardo Lourenço disse que o congresso do PSD lhe parecia uma espécie de missa cantada. A mim, que sei pouco de missas, o que me pareceu o congresso foi uma festa de despedida. Acredito piamente que Marcelo Rebelo de Sousa resolveu lá ir por razões sentimentais, como o resto das criaturas que dirigiram aquela extraordinária agremiação desde 1985. Tanto os “chefes” como os “militantes” sentiram, e com razão, que não se tornariam a encontrar tão cedo naquele ritual. E talvez nunca mais. Vieram de certa maneira ao enterro de uma história, para eles gloriosa, que não voltará. Depois de Passos Coelho, depois de Cavaco, depois desta maioria (embora com CDS) ninguém no seu juízo pensa que o PSD pode ter genuinamente a esperança de recuperar a confiança do país. Não são só estes quatro anos de “austeridade” e a incompetência política com que o Governo executou o programa da troika. É a singular esterilidade de quase tudo quanto fez. O grande partido “reformista” não reformou coisa nenhuma. Na essência, Portugal está como estava antes, com menos dinheiro. O primeiro-ministro transformou, ou deixou transformar, o debate político numa interminável conversa em calão económico, que ninguém percebe e porque verdadeiramente ninguém se interessa. O mortal comum olha para o “ajustamento” com desespero e com medo. E, por mais que Seguro o desconsole, quer outra coisa, seja ela qual for. Não há truque, não há manha, não há justificação ou argumento que alterem este facto básico. No Coliseu, a gente do PSD encontrou entre si algum conforto. Cá fora, o país assistiu ao espectáculo com desdém. A eleição para o Parlamento Europeu e, a seguir, as legislativas irão mostrar a fraqueza do partido. É um mistério como Passos Coelho e a sua corte conseguem imaginar que “empobrecer” os portugueses, liquidar uma boa parte da classe média e tirar o futuro às gerações que tão iludidamente se “qualificaram” é uma política esquecível e perdoável. Era necessário? Acredito. Mas para cada um de nós a necessidade não aliviou nada. Sócrates não compreendeu ainda que morreu em 2010. O actual primeiro-ministro já suspeita que vai morrer em 2014 ou 2015, principalmente quando o país descobrir, com espanto e com terror, que a “austeridade” irá durar mais quinze ou vinte anos. A despedida do PSD chegou na altura certa.»

 

Vasco Pulido Valente, Público

 

Foto: Sol

Um virtuoso

João Gonçalves 28 Fev 14

Pedro Lomba, ajudante de Poiares Maduro, concede uma entrevista ao Sol. Não é completamente má  - para ele e para o governo - apesar de Lomba não enxergar um átomo do que se passa cá fora. Claro que insiste no "compromisso", vulgo "consenso", com o PS como se tal "convergência" fosse verosímil em plena praça eleitoral que só termina nas presidenciais de 2016 - esta insistência papagaia, não séria (pelo caminho Lomba deixa cair que afinal o PS "uma vez diz uma coisa, outra vez diz outra" mas mesmo assim quer "convergir") e não sinalagmática, francamente já enjoa. Passos Coelho acreditam no poder, tantas vezes parodiante, da linguagem. E, neste lastro de paródia política autocomplacente, há coisas como "hoje em dia, do ponto de vista da eficácia e da coordenação do discurso político, da capacidade de chegar às pessoas, as melhorias são evidentes", ou "acho que o Governo está a comunicar melhor" ou ainda a criação, "já nesta legislatura", de vistos para imigrantes de elevado potencial, os chamados "vistos talento". Com os nossos "talentosos" a fugir disto, Lomba recorre ao seu melhor talento político-intelectual para defender a "situação". Faz de Cálicles, mas aqui ao serviço do pathos da dupla Passos-Portas. Um virtuoso, o nosso Pedro.

"Somos morte"

João Gonçalves 27 Fev 14

Um tipo vai de hospital em hospital, onde é sistematicamente recusado por três, até ir morrer a um quarto. Outro está a cumprir uma pena de prisão e é violado na cadeia por ter sido enfiado numa cela com presos que foram transferidos de outro estabelecimento prisional por causa dos antecedentes comportamentais conhecidos do "sistema". Um  filho asfixia a mãe, primeiro, e a seguir atira-a pela janela de um oitavo andar porque "precisava" do dinheiro que ela não tinha, a saber, uma das generosas pensões a rondar os duzentos euros que, de acordo com o "sistema", são imaculadas e provam a "justeza social" dos cortes nas outras. Não somos "sociedade" nem "Estado mínimo". "Somos morte", nas duas tão breves quanto certeiras palavras de Bernardo Soares.

Antes de apagar as velinhas do bolo

João Gonçalves 27 Fev 14

Como na canção idiota de antes de apagar as velinhas do bolo, hoje "cantam as nossas almas". Portugal foi "ao mercado" e os "especialistas" não deixarão de "reconhecer" que foi um "sucesso". Foi? A palavra a Viriato Soromenho-Marques. «Como é que designaríamos o comportamento de um cidadão que, incapaz de honrar um crédito pessoal a uma taxa de 3,35%, prestes a atingir a maturidade, contraísse um novo empréstimo a uma taxa de 5,11% para pagar o primeiro ("troca de dívida")? Sem dúvida, tratar-se-ia de um comportamento pouco recomendável. E como seria classificado esse comportamento se o cidadão em causa utilizasse parte do novo empréstimo (de 11-02-2014) para antecipar, parcialmente, o pagamento em 19,5 meses do primeiro empréstimo, pagando 102,89 euros por cada 100 euros de dívida ("recompra")? Seria, certamente, uma atitude temerária, pois aumenta a despesa com juros para apenas empurrar a dívida para o futuro. Pois é isso que o Governo pretende fazer hoje. O leitor pode ir ao site eletrónico do IGCP. Abra o boletim mensal de Fevereiro sobre "Dívida Pública". Na p. 2, vê que o Estado vai ter de resolver até 2016 cerca de 39 mil milhões de euros de empréstimos. Esse imenso obstáculo tem sido o pretexto para a constituição de uma volumosa "almofada" financeira. Tudo indica que o IGCP quer recomprar, hoje, uma parte de uma série de dívida a dez anos, contraída a partir de Outubro de 2005 (ver p. 3). Se o fizer, às taxas mais recentes no mercado secundário, isso significa que, para o montante que for hoje amortizado, vamos pagar mais 3,53% de juros por ano até Outubro de 2015 do que antes das duas operações financeiras supracitadas. Será isto uma gestão prudente, ditada pelo interesse nacional, ou estará o Tesouro público em risco para alimentar uma ilusão pré-eleitoral de triunfo? Será esta uma almofada que alivia o País, ou uma pedra amarrada às pernas que o atira para o fundo? Temos direito a saber a lógica com que se joga o dinheiro sonegado aos salários e às pensões. Direito a uma explicação, ou a uma beliscadela que nos acorde deste pesadelo.»

A política da promessa acabou

João Gonçalves 27 Fev 14

 

«Nesta sociedade líquida, de eleitores relapsos a quaisquer baias ideológicas e frívolos no seu intocável individualismo, os partidos sentem-se cada vez menos motivados não só para grandes definições ideológicas, mas mesmo para a simples adopção de programas e projectos muito precisos, procurando antes adaptar-se à maleabilidade da própria sociedade, num círculo que se revela pesadamente vicioso. É nisto que, em todo o Ocidente, estamos. O paradoxo, contudo, permanece. E todos os estudos de opinião revelam que a maioria dos cidadãos pensa que pior que um regime político de partidos, só um regime político... sem eles. Das três dimensões dos partidos políticos, a clubista (que é a mais tribal), a pretoriana (que vive do e para o chefe) e a cidadã (que valoriza as ideias e a sua discussão), o caminho tem-se feito sempre em prejuízo desta última, e é isso que, com toda a evidência, se vê em congressos como o do PSD do último fim de semana. É todavia no sentido inverso que é preciso trabalhar, visando a qualificação interna dos partidos, uma qualificação que os torne capazes de retomarem a sua função de instituições capazes de promoverem a oferta política com ideias, propostas e projectos, desafiando assim a própria sociedade (...). Hoje é preciso trabalhar com menos hierarquias e apostando mais no saber e no conhecimento. Até porque esse é o único modo de os políticos travarem com sucesso o grande combate que se anuncia para os próximos tempos, e que será entre o populismo e a tecnocracia, que conta já hoje tanto ou mais do que a tradicional oposição direita/esquerda. A era da política da promessa acabou, já o escrevi há tempos. Precisamos agora de partidos e de políticos que pensem no médio/longo prazo, mas também saibam improvisar com competência. Que compreendam as grandes interdependências globais, mas também saibam aproveitar - ou mesmo criar - margens de manobra para os seus países. Que expliquem aos cidadãos o que fazem, mas também consigam exigir à sociedade uma verdadeira cumplicidade na descoberta de novas vias para o futuro.»

 

M. M. Carrilho, DN

Nunca interrompas

João Gonçalves 26 Fev 14

 

Este antigo chefe militar não avisou o PR e o Governo do seu pedido de passagem à reforma quando ainda era CEMGFA, em 2013. Fez ele muito bem. Prova que assimilou perfeitamente os ensinamentos do Corso: «nunca interrompas o teu inimigo enquanto estiver a cometer um erro.»

As melhoras

João Gonçalves 25 Fev 14

 

O senhor vice PM, reputado "reformador do Estado" e estimável navegador de porta-aviões, tem salientado, e bem, que as exportações não nos têm faltado neste caminho de glória e de sucesso percorrido pelo "país melhor". A execução orçamental também revela que há outra coisa que nunca nos falta nesta salvífica aventura: o IRS. Sempre a subir como convém à nova e original "normalidade" que distingue o "país melhor" (o da mercearia contabilística) das "pessoas melhores" (que frequentam as mercearias). As melhoras.

Grandeza

João Gonçalves 25 Fev 14

 

«Pourquoi m'interrogez-vous "à present" sur Paul Éluard? Sa vraie mobilité, sa course glorieuse, durant laquelle, rare et merveilleux poète, il va enfin pouvoir distancer par le seul verbe ses bons frères de partout, vient de commencer depuis ce matin neuf heures. Nous ne pouvons plus rien pour lui et il pourra encore beaucoup pour nous. Mais il ne peut plus rien contre les dieux libres de son berceau revenus et le visage en flamme de son amour. Durant des dizaines d'années nous nous sommes rencontrés presque chaque jour avec le même impatient entrain. Puis nous avons cessé de nous retrouver. Nous nous adressions dérisoirement des livres, comme d'anciens jumeaux fendus, mais qui s'estiment, savent et communiquent doucement... Misère!»

 

"À la mort d'Éluard", René Char (1952)

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