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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

Coisas que se pagam

João Gonçalves 31 Jan 14

Marco António Costa, que se revelou um competente secretário de Estado da Segurança Social, foi substituído por uma criatura improvável de apelido Branquinho, uma espécie de homem dos sete instrumentos da canção do Godinho. O que o homem afirmou numa comissão parlamentar compromete o governo todo a menos que o governo - o ministro e o PM - se "descomprometam" do homem. Porque a leviandade politiqueira com que abordou um assunto como as pensões - e o novo "imposto" que vai cair sobre elas só depois de "resolvido" um alegado "problemazinho" informático - seria cómica se não fosse trágica. Mas parece que entrámos em período eleitoral (o "dilema" do cautelar também entra no pacote com a complacência do PS, como explicou Manuela Ferrreira Leite) a culminar só em 2016 com a "eleição" do supra Almirante Américo Tomás do dr. Passos. Tudo coisas que, mais tarde ou mais cedo, se pagam.

Um ponto fulminante no escuro

João Gonçalves 31 Jan 14

 

«Com uma das mais importantes e válidas poesias que o século XX português conseguiu produzir, Jorge de Sena constitui um momento cimeiro numa linha nem sempre ascendente, ou motivante — “A poesia portuguesa é pobre de poetas”, disse em Da Poesia Portuguesa (1959). Numa luta permanente contra o óbvio e o marasmo, contra a ignorância e a pequenez, a sua obra ergueu, por entre a indiferença e a perfídia, um dos monumentos mais perduráveis da cultura portuguesa — “Se a miséria e a pobreza/ fossem o vómito que deviam ser postos em palavras,/ a imaginação possuída e vomitada que deviam ser,/ viria a liberdade por acréscimo,/ sem palavras, sem gestos, sem delíquios.” (p. 501) Uma obra que se afirma como um ponto fulminante no escuro que domina tanta da cultura portuguesa: pela sua novidade (abalo de estruturas retóricas convencionais, poderio imagético, servido pelo afinco da disciplina formal), pela força irreprimível de uma inteligência que era nervo. Cultura e vida raramente estiveram tão unidas, e não é raro que Sena se refira aos seus poemas como “vividos”. Estava tão consciente das tensões (se não das contradições) circulantes na sua obra — “Tão acusado de intelectualismo, tão adversário da chamada ‘inspiração’, nada escrevi que de uma vez não escrevesse e não considerasse escrito de uma vez para sempre” (p. 728) —, como da coesão que a sustentava — foi o próprio quem notou a “grande continuidade de inspiração, ainda que de evolutivo estilo, naturalmente, desde Perseguição a Fidelidade” (p. 735).»

 

Hugo Pinto Santos, ípsilon

O primado da primeira pessoa

João Gonçalves 31 Jan 14

 

Estive a ler a entrevista do presidente da RTP a Nuno Azinheira, publicada no suplemento televisivo do JN e do DN. Enquanto adjunto do então ministro da tutela, assisti à "ascensão" de Alberto da Ponte ao lugar de Guilherme Costa em Setembro de 2012. Depois de uma reunião sui generis em 28 de Novembro desse ano, na presença do ministro e com o Conselho de Administração da RTP, decidi solicitar ao primeiro que deixasse de acompanhar o "dossiê RTP" o que foi prontamente aceite. Nesse período, com a ajuda dos consultores jurídicos e financeiros contratados pela RTP, procurou-se uma solução que passasse por um novo modelo de gestão da casa. Guilherme Costa tinha pedido a demissão por fundamentalmente discordar da "ideia" da concessão da exploração a privados de activos da RTP. Nunca se opusera a que, por exemplo, fosse privatizado um deles e a administração chegou a trabalhar nesse cenário. Pelo contrário, Alberto da Ponte declarou-se, no mesmo período, amplamente favorável ao cenário da concessão que era o mais bem "visto" pelo gabinete do PM. Foi então que, em finais de Outubro, perante o aparente "avanço" desse cenário, o dr. Portas decidiu "intervir" directamente no "dossiê" RTP e "parar" quaisquer alterações ao modelo de gestão. Apesar de só se ter demitido a 4 de Abril de 2013, Miguel Relvas na prática "perdeu" a tutela da televisão pública nessa reunião em São Bento nos idos de Outubro de 2012. Pouco depois dá-se o "episódio Nuno Santos". Começou com o pedido de demissão do então director de informação a que se seguiu um "inquérito" interno, algumas intervenções públicas mais exaltadas de ambas as partes e um processo disciplinar com vista a despedimento com "base" em delito de opinião. O "acordo" a que a RTP e Nuno Santos chegaram no âmbito do processo judicial movido pelo segundo contra a empresa por causa do dito despedimento, impediu que, para já, se possa contar a "história" completa dessas horas, dias e meses. O mais que Alberto da Ponte refere na entrevista é que «há um tempo para falar e um tempo para o silêncio» e que «este é o tempo do silêncio», embora «a decisão tomada em Março [fosse] a decisão certa», ou seja, o despedimento sem justa causa do jornalista. Mas o acordo, continua, é a decisão certa agora. Já que ficámos (plural majestático, evidentemente) sem conhecer a "história", defendo que pelo menos se possa oportunamente conhecer os termos da transacção, quer em valores "materiais", quer "imateriais", dado que a RTP não mudou de natureza jurídico-financeira e integra o perímetro do orçamento do Estado mesmo sem indemnização compensatória. O "tom" geral da entrevista é o do primado da primeira pessoa - o do presidente da RTP mesmo face à actual tutela - de desconfiança pelas propostas desta quanto ao modelo de gestão "administrativa" dita independente que um "conselho geral" assegurará, de total desfasamento em matéria de conteúdos de serviço público (alguém sabe o que é a "portugalidade global" fora a gloriosamente representada pela fatídica bola?), de desconfiança publicamente explicitada em relação ao exercício do controlo interno que, aliás, compete em primeira linha à administração como um qualquer gestor sabe de antemão e, por consequência, um monumental silêncio sobre uma função nuclear chamada direcção geral de conteúdos. Não desesperemos. Talvez o prof. Maduro e nós devamos esperar ainda alguma coisa do homem que passou «com distinção no famoso teste da CReSAP [Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública]. E que "ficou muito contente com isso".

O não-protagonista

João Gonçalves 31 Jan 14

Se «o Presidente deve comportar-se mais como um árbitro ou moderador, movendo-se no respeito pelo papel dos partidos mas acima do plano dos partidos, evitando tornar-se numa espécie de protagonista catalisador de qualquer conjunto de contrapoderes ou num catavento de opiniões erráticas em função da mera mediatização gerada em torno do fenómeno político», então as coisas começam a estar facilitadas. Quer no que concerne ao não-protagonista desejado, quer quanto às "opiniões" que esse futuro não-protagonista deve exibir: certinhas, arrumadinhas, nada "erráticas" e escritas numa língua de pau reconhecível e aceitável no "meio" e pelos "nossos". Em suma, uma confirmação, uma obrigação e uma missão. E uma pena. Porque há mais marés que marinheiros.

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