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portugal dos pequeninos

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Este país, afinal, é para quem?

João Gonçalves 30 Jan 14

 

O jornalista Mário Crespo recebeu no seu Jornal da 9 o secretário de Estado dos Assuntos Europeus, Bruno Maçães. Quando Maçães apareceu no novo governo de Passos Coelho, procurei "resumi-lo". Reconheci tratar-se de uma das melhores cabeças da sua geração universitária, um ironista e um experimentalista promissor que, entre outras coisas em que participou (fez aliás questão de frisar a Crespo essa "participação"), se encontra a "tentativa TSU" de Setembro de 2012 que tanto sucesso trouxe ao Governo de então onde ele era ainda apenas assessor "ideológico" do primeiro-ministro. Confrontado pelo jornalista com a "realidade" da consolidação orçamental e dos seus resultados - sobretudo com a violência dos cortes selectivos sobre determinados grupos sociais e laborais, com a canga fiscal que, só sobre as pessoas, aumentou em um ano 35,5% ou com o esbulhar "solidário" e progressivo das pensões -, quando subsistem segmentos inexplicáveis de despesa pública "interna" e "paralela" por atacar, Maçães falou, e passo a citar, de uma "revolução tranquila" prosseguida pelo dr. Passos que terá encontrado lastro em exemplos de "nova normalidade" como a Coreia do Sul, a Indonésia e a América Latina. Crespo bem tentou que o governante descodificasse tamanha "revolução" e a opacidade com que ela costuma ser descrita pelos seus plumitivos, mas Maçães vive "muito adiante" deste país que, afinal, não se sabe bem de quem ou para quem é. E não se trata de uma pergunta ou afirmação retóricas. No mesmo dia soube-se que o governo tenciona, acolitado na falácia do "mérito" (entre nós, há muito que o "mérito" quer normalmente dizer carreirismo subserviente), promover a avaliação do desempenho a primeiro critério para despedir e extinguir postos de trabalho. É a "revolução tranquila" de Maçães, um homem que confessou ter beneficado de uma coisa "boa" como a bolsa da FCT que o ajudou a estudar ciência política em Harvard. Contrariamente ao que sugere um título de um livro "politicamente correcto" lançado agora por dois estimáveis "camaradas" da Voz do Povo dos idos de 75 que se converteram ao originalíssimo "liberalismo" português (afinal com inspirações sul-coreanas e latino-americanas mais do que provenientes do adorado norte europeu), este país não será  para novos mas não é de todo para velhos ou a caminhar para lá. Como me interessa sobremaneira o presente que contém, como sempre conteve, passado e futuro nele senão não existia (e por mais que o Mário Crespo, e outros, faça as perguntas certas a pessoas que estão deliberadamente erradas), este país, afinal, é para quem?

«Como há dias dizia Marcel Gauchet, parece que a classe política europeia "renunciou a pensar o que acontece e lhe acontece. Não lêem um livro há 30 anos, tem-se a impressão de que o que hoje existe é uma direita de imbecis face a uma esquerda de idiotas."»

 

M. M. Carrilho, DN

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