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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

O ESTRANHO CASO DE D. JOSÉ

João Gonçalves 26 Dez 10

D. José Policarpo, o chefe da Igreja Católica em Portugal, esteve particularmente activo nos últimos dias. Ouvi-o na rádio, li-o nos jornais. Salvo o devido respeito, é um politiqueiro. Basta ver a entrevista no Diário de Notícias de domingo. Parece um tudólogo e não um cardeal patriarca. É complacente com Sócrates como nunca foi com o seu "amigo" Cavaco aquando de um não veto circunstancial. Parece que não aprecia a ideia de poder vir a ser substituído pelo Bispo do Porto, D. Manuel Clemente, ou pelo Auxilar de Lisboa, D. Carlos Azevedo, dois dos mais notáveis prelados da Igreja portuguesa. Policarpo representa uma Igreja pusilânime e cortesã que, certamente, escapa ao múnus de Joseph Ratzinger. Não foi por acaso que, aquando da visita dos Bispos lusos ao Vaticano, foram forçados a ouvir muita coisa de que não gostaram. Designadamente que olhavam demasiado para si próprios. Ora D. José Policarpo é, nesta matéria, um epígono exímio. Sente-se confortável no regime e o regime sente-se confortável com ele. A Igreja é deste mundo mas representa outra coisa. Não conviria abusar.

UM PAÍS CHEIO DE PROSPERIDADES

João Gonçalves 26 Dez 10


«O Natal acabou, o que este ano não deixa de ser um alívio. Os lisboetas, pelo menos, não pareceram dar pela crise. A julgar pelo trânsito e pelas multidões que enchiam o Colombo e congéneres, continuamos manifestamente a pensar que Portugal é um país próspero, "europeu", "modernizado" e rico e nada nos tira isso da cabeça. Claro que andam pela televisão e pelo jornais meia dúzia de indivíduos (má gente) a resmungar contra a pobreza, o défice e a dívida. E que o Presidente da República resolveu declarar - não se percebe porquê - a nossa bela situação "insustentável". Mas sem grande efeito. A classe média, carregada de embrulhos ou à espera do próximo avião para mais verdes pastagens, não se comoveu. O que será, será - e, por enquanto, o que é, é suportável. Há de resto nisto tudo um lado prazenteiro. Cavaco e o Governo fizeram uma reuniãozinha, muito bem postos, para se dar mutuamente boas-festas. E o admirável Sócrates veio mesmo num carro a electricidade, certamente com o propósito de exibir o espantoso progresso de Portugal. Também os srs. ministros esqueceram o aperto financeiro e as várias desgraças de outra espécie de que por aí se fala, para sossegar a populaça com um sorrisinho de beatitude. Cavaco e Sócrates, como lhes compete, juraram lealdade, fidelidade, responsabilidade e amor, enquanto presumivelmente afiavam as facas com doçura. A hipocrisia é de graça e consta que promove a confiança dos mercados. Só faltou ao quadro Teixeira dos Santos, que anda por aí à procura de um tostão perdido. E as celebrações não ficaram por aqui. Um jornal benévolo revelou o que tencionam comer (ou já comeram) os cinco (ou talvez nove) patriotas que temerariamente se candidatam a Belém: bacalhau cozido, peru recheado, cabrito, capão, bolo-rei e arroz-doce. Infelizmente, Cavaco não nos confessou como se esperava consolar. Mas, de qualquer maneira, não se pode dizer que esta importante parte da nação se alimenta mal. Nem que ande muito angustiada com o seu futuro. O Presidente conta continuar Presidente e o primeiro-ministro primeiro-ministro. E os que, entretanto, escorregarem na indiferença do país têm sempre o gozo do tal quarto de hora de celebridade, que amacia o ego e adoça a insignificância por um tempo. Os portugueses sabem sempre aproveitar.»

Vasco Pulido Valente, Público

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