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portugal dos pequeninos

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«TUDO QUANTO ACONTECE É SOLITÁRIO»

João Gonçalves 14 Dez 10






Venho do lançamento do livro ali à direita que reúne a obra poética édita de Sophia de Mello Breyner Andresen. Notável trabalho da Caminho/Leya. Não devemos gastar muitas palavras a falar de poesia. Por isso, para Sophia, bastam duas: austeridade e precisão. «Não procures verdade no que sabes/Nem destino procures nos teus gestos/Tudo quanto acontece é solitário/Fora de saber fora das leis/Dentro de um ritmo cego inumerável/Onde nunca foi dito nenhum nome.»

Clips: João César Monteiro, 1970: Sophia de Mello Breyner Andresen

HAJA QUEM ACREDITE

João Gonçalves 14 Dez 10


O cidadão em quem tenciono votar nas presidenciais de Janeiro próximo apresentou formalmente a sua candidatura. Só me resta desejar-lhe as maiores felicidades, poucos jogos florais com poetas medíocres e demais anacoretas profissionais e a menor abstenção possível. O que o espera depois de reeleito é bem pior do que o folclore das próximas semanas.E a nós também.

O SORRISO DAS LETRAS

João Gonçalves 14 Dez 10


Entre eles, nas cartas, falavam de um país «que se empequeneceu irremediavelmente». Amavam-no, porém, com o ódio do amor genuíno. O que não era pouco. O poema que se segue escreveu-o Sophia aquando da morte de Jorge de Sena. Trata-se de dois poetas maiores nascidos no mesmo ano. Este volume da Obra Poética da primeira, hoje apresentado, é um serviço a uma raridade em vias de extinção apelidada cultura (ou literatura, se quisermos ser mais imprecisos) portuguesa. E à poesia, esse sorriso das letras como lhe chamava Pessoa.

I
Não és navegador mas emigrante
Legítimo português de novecentos
Levaste contigo os teus e levaste
Sonhos fúrias trabalhos e saudade;
Moraste dia por dia a tua ausência
No mais profundo fundo das profundas
Cavernas altas onde o estar se esconde

II
E agora chega a notícia que morreste
E algo se desloca em nossa vida

III
Há muito estavas longe
Mas vinham cartas poemas e notícias
E pensávamos que sempre voltarias
Enquanto amigos teus aqui te esperassem -
E assim às vezes chegavas da terra estrangeira
Não como filho pródigo mas como irmão prudente
E ríamos e falávamos em redor da mesa
E tiniam talheres loiças e vidros
Como se tudo na chegada se alegrasse

Trazias contigo um certo ar de capitão de tempestades
- Grandioso vencedor e tão amargo vencido -
E havia avidez azáfama e pressa
No desejo de suprir anos de distância em horas de conversa
E havia uma veemente emoção em tua grave amizade
E em redor da mesa celebrávamos a festa
Do instante que brilhava entre frutos e rostos

IV
E agora chega a notícia que morreste
A morte vem como nenhuma carta

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