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portugal dos pequeninos

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QUE VOS LEVE O DIABO

João Gonçalves 31 Dez 10




Votos para 2011? Uns, antigos, de Jorge de Sena. Estareis mais pobres em tudo. De espírito não conta porque é da Vossa natureza. Que vos leve o diabo.


Clip: Carta a Meus Filhos sobre os Fuzilamentos de Goya, dito por Mário Viegas

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FRACASSO, SAISON 2010-2011

João Gonçalves 31 Dez 10


«Não me lembro de um começo de ano tão escuro e perigoso como o de 2011. Mesmo 1975 não parecia (em Janeiro) assim tão mau. Não há precedentes para a ruína do país que se anuncia cada vez mais certa. O que não impediu Sócrates de fazer um discurso de Natal absurdo e folgazão. Nem o poeta Alegre e o dr. Cavaco de se entreterem num debate fútil, por uma honra vazia e um cargo sem verdadeira relevância. Como nos metemos neste sarilho sem fundo? A resposta é fácil. Imaginando, com o incurável provincianismo indígena, que podíamos ser como a Europa, esse modelo mítico que arrastou o liberalismo inteiro, a I República e, até certo ponto, o próprio Salazar, e que este nosso regime democrático seguiu, depois do PREC, com patético zelo e a incompetência do costume. Basta olhar e ver. Cavaco e Alegre, por exemplo, discutiram anteontem na televisão quem era ou quem não era a favor do Estado Social. Nenhum deles, evidentemente, se deu à excessiva franqueza de esclarecer o que entendia por "Estado Social". E nenhum deles achou útil explicar que espécie de "Estado Social" a economia portuguesa consegue hoje por si mesma sustentar. Para um e para outro, basta saber que "lá fora" o "Estado Social" existe (e deve, por consequência, existir cá dentro) e sobretudo que perde votos se for contra esse obrigatório aprimoramento do país. De quem paga (e do que não se paga) não se falou para não estragar o gozo desses devaneios da imaginação. Quem paga e o que não se paga é um capítulo à parte. Quase irrelevante. Infelizmente, os devaneios da imaginação acabam sempre por custar caro, agora que Portugal se tornou dependente do estrangeiro e já não ganha a vida a cavar batatas. Por uma estranha perversidade do destino a nossa perpétua "modernização", da "modernização" de 1820 (a que na altura se chamava "regeneração") à "modernização" de Sócrates, passando pela de Cavaco, nunca "modernizou" nada. Não enriqueceu o país; criou dívidas, licenciados, desemprego e miséria. Os pobres portugueses de 2011 vão comer restos de restaurantes, decorados com um doutoramento. Como os bacharéis do século XIX. O progresso é óbvio. E a confusão indescritível: o orçamento não se cumpre, os partidos não funcionam, o Presidente não manda nos partidos. Só falta o FMI. Mas por pouco tempo.»

Vasco Pulido Valente, Público

BURROS COM ORELHAS DE BURRO

João Gonçalves 31 Dez 10


Há dias andaram para aí todos babados com uma relatório do PISA/OCDE. Parecia que, num átomo, Portugal deixara de ser assustadoramente periférico e bruto e que as gerações futuras prometiam um paraíso de saber e ponderação capaz de, uma vez mais, "dar novos mundos ao mundo" nem que fosse a título meramente virtual. Sócrates, no Natal, louvou-se nisso, nas pás eólicas e consta que foi para São Bento movido a electricidade. Todavia, o seu próprio ministério da educação encarregou-se de desfazer o mito. A massa educanda é genericamente burra e não se comove com o facto. «Os alunos portugueses afinal estão ainda longe de conseguir desempenhar tarefas tão simples como, por exemplo, interpretar um texto poético, solucionar um exercício matemático com mais de duas etapas ou enfrentar um enunciado que não seja simples e curto.» Simples e curtos como eles, na realidade, são.

A VACINA E O CHOQUE

João Gonçalves 30 Dez 10


Até os melhores espíritos estão a ser inoculados com a "vacina BPN" para umas eleições presidenciais sem política dentro. Em 1991, num debate presidencial na tv, Basílio Horta (esse mesmo) chamou "padrinho" a Mário Soares e Soares murmurou qualquer coisa acerca de um "negócio" com bananas, puxando de uns papéis, precisamente porque as eleições não tinham política dentro. Dias depois, Soares era monumentalmente reconduzido em Belém apesar do "padrinho", das bananas e da ausência da política. A "vacina BPN" tenta juntar ambos ("padrinho" e bananas) numa espécie de retrocesso civilizacional em matéria de escolha directa do Chefe de Estado, uma das boas "conquistas de Abril", porque falhou a política (Alegre é irremediavelmente nulo). Às esquerdas custa-lhes perder, pela segunda vez, as presidenciais precisamente para aquele que, por complexos de superioridade moral, política e de classe, mais detestam. Daí a "vacina". Cuidado com o choque anafilático.

O JULGADOR

João Gonçalves 30 Dez 10


Um ministro da presidência decretou "criminosas" pessoas sobre as quais ainda não passou qualquer trânsito em julgado na competente sede. Uma dessas pessoas esteve detida, não para cumprir uma condenação judicial, mas em virtude de uma medida de coacção que, quando terminou, terminou. O tal ministro é português. Não é venezuelano, do Uganda ou da Cuba "profunda". Mas revela uma densidade democrática anã. Se calhar não podia demonstrar outra.

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O IMPERATIVO DE UMA NOVA REPÚBLICA

João Gonçalves 30 Dez 10


Ao contrário do autor, não penso que 2011 dê início a qualquer novo ciclo político interno «mais realista e mais construtivo, em que os problemas do País terão de ser equacionados com honestidade, rigor e sentido de futuro, cortando com a cultura powerpoint e com a doentia manipulação das estatísticas com que tantos imaginam proteger-se da realidade.» Nem a qualquer «outra atitude». O ano encerra com as mesmíssimas retóricas com que começou e o debate presidencial, até agora, é decepcionante porque as resume a todas. Temo que daqui a uns meses, Carrilho possa voltar a escrever que se foi «consolidando em vez de se ultrapassar o impasse português.» Todavia, ele é dos poucos políticos com que um qualquer novo ciclo e uma Nova República, sua feliz expressão explicada num livro que foi do ano, devem contar. Para além de ter sido (e ser) dos poucos que pensa nas coisas, a pública incluída, sem preocupações curto-termistas. Carrilho ajuda a não nos "abstermos". Nessa matéria bate qualquer candidato a Belém. É o melhor elogio que lhe posso fazer.
O senhor conselheiro Pinto Monteiro fez aquela coisa tipicamente portuguesa que consiste em "passar a bola" para baixo. Responsável máximo pela PGR - por aquilo que ela é e por aquilo a que ela chegou nos últimos anos -, o senhor conselheiro entendeu perseguir disciplinarmente procuradores que, alegadamente, o teriam colocado em causa através de um despacho proferido nuns autos conhecidos. Na realidade, o despacho é uma desgraça mas é uma desgraça que se limita a evidenciar a desgraça maior (o atoleiro) em que caiu a PGR dirigida pelo "ofendido". Por tudo isto e por tudo o mais, é estranho que nenhum candidato presidencial não tivesse anunciado já o óbvio no meio de tanta bagatela. Que promoverá, junto do governo e com a legitimidade eleitoral fresca, a substituição do PGR. Aliás, foi a pergunta que ninguém fez a Cavaco - o senhor confia neste PGR e tenciona continuar a não mexer uma palha a seu respeito?

DA PULHICE TROLHA

João Gonçalves 29 Dez 10


Ignorava que O Cachimbo de Magritte acolitava pulhas. Agradeço ao André Azevedo Alves tê-lo demonstrado. Já há uns tempos o referido pulha tinha revelado a sua exaltada ignorância ao sugerir o meu quase "fascismo" por apreciar Ezra Pound. Como disse na altura, tratava-se de um trolha literário. Lembraram-se dele para a "comissão de honra" por causa da mencionada trolhice, disfarçada de académica, ou disto? Enfim, seja lá o que for, um trolha é um trolha que é um trolha que é um trolha. Até pulha, um trolha com pretensões sofisticadas, consegue ser.

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O MIÚDO E O ADULTO

João Gonçalves 29 Dez 10

Vamos ver se o debate entre Cavaco e Alegre consegue, pelo menos, mais um espectador do que os anteriores. Mesmo assim, não é caso para isto por muito que o bardo se esprema. Há fenómenos crónicos em que se puxa mas não dá mais. Já dizia o Doutor Salazar.

Adenda: Depois da coisa, respira-se de alívio pelo fim destes debates absurdos. Penso ter ficado claro, de uma vez para sempre, que apenas depende de Sócrates e das nomenclaturas partidárias a manutenção desta legislatura até ao seu derradeiro dia. E que Alegre olhará, com nostalgia, para o milhão de votos que obteve em 2006. Jamais o repetirá.

NÃO VALE A PENA

João Gonçalves 29 Dez 10


A ASAE do sr. Nunes foi criada há cinco anos. A coisa foi pensada, à semelhança de muitas outras antes desta, como algo destinado a "purificar" o indígena e a incentivar a emergência do tão constantemente renovado quanto adiado "novo homem português". Em vez do homem médio da unha grande do dedo mindinho, da mariconera, do palito depois do almoço, das baforadas no meio das refeições, apreciador de galheteiros de azeite esconso e de vinhos competentemente martelados, a ASAE prometia o paraíso, multando, encerrando e expondo ao opróbrio público a malícia e o "risco" de um pratinho mal lavado, de uma ginja tragada em copos cambados, de um avental com nódoas de gordura, a frequência de tascas de reputação duvidosa e de restaurantes assemelháveis a prostíbulos. A ASAE vinha, em suma, corrigir o prazer e obrigá-lo aos regulamentos, trivializando tudo. Aos poucos, porém, o governo percebeu que ganhava mais em não revelar continuamente as façanhas policiais da seita e permitiu que, aqui ou ali, os anti-corpos fizessem o seu caminho natural sob pena de se matar a sociedade de tanta cura. Apesar da ASAE, persistimos feios, porcos e maus. Não vale a pena.

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