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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

OLIVEIRINHAS

João Gonçalves 29 Nov 10

No programa Fatinha Campos Ferreira, Daniel Oliveira representa o regime e a sua língua de pau. Podia ser ele ou outro tagarela qualquer da "direita" (não é o caso do Miguel Morgado mesmo quando absurdamente concorda um bocadinho com o Oliveira) que o efeito era exactamente o mesmo. O medinho do FMI e o elogio às qualidades pátrias para nos safarem - até agora essas "qualidades" não nos safaram de coisa alguma - são deveras comoventes e Oliveira já merece uma "medalha Sócrates" que, aliás. poderá recolher junto da candidatura presidencial que apoia juntamente com aquele. Medina Carreira até agora não deixou de ter razão. É um catastrofista? Não me parece. Melhor catástrofe do que a em vigor não se conhece.

A FESTA PRIVADA DO CHIBO

João Gonçalves 29 Nov 10


"Ofereci-me" A Festa do Chibo, de Vargas Llosa, recentemente editado em livro de bolso. Pareceu-me um título (não o conteúdo, evidentemente) adequado a um "balanço" pessoal. Mas vamos já regressar ao "I am not my own subject". No Porto, o prof. Cavaco apresentou a sua comissão de honra. Fiz parte de três ou quatro, respectivamente, entre os meus 19 e 40 anos. De Eanes, de Soares e de Sampaio aquando da recandidatura de 2001 (sim, sim, podem vergastar-me à vontade). Nas de Cavaco, ironicamente, nunca estive sendo o meu voto mais fidelizado, de 85 até, espero, 2011. Mas Cavaco não precisa para nada da presença de quem o "acompanha" - no voto e não só - há um quarto de século em coisas como comissões de bonzos disto ou daquilo. Os que nunca lá estiveram (nem nas comissões, nem nos votos, nem na lealdade) é que são necessários pela "renovação". Trazem, por assim dizer, um "novo" eleitorado. Eu já dobrei décadas suficientes e, em princípio, garanto o voto sem precisar curvar-me em demasia ou exibir-me de "cristão-novo", velho ou recém-nascido.. E, para além disso, tenho o Chibo à espera.

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AOS CINQUENTA ANOS

João Gonçalves 29 Nov 10


Aos cinquenta anos sou um ser perplexo,
não como aos vinte, aos trinta, ou aos quarenta,
mas radicalmente perplexo. Não sei
se amo a vida ou a detesto. Se desejo
ou não desejo continuar vivendo.
Se amo ou não amo aqueles que amo,
se odeio ou não odeio os que detesto.
Se me quero patriarca, pai de família, como acabei sendo,
ou se me quero livre pelas ruas nocturnas
como quando não acabei de descobri-las
em décadas de andá-las, perseguindo
sequer o amor mas corpos, corpos, corpos.
Sou de Europa ou de América? De Portugal
ou Brasil? Desejo que toda a humanidade
seja feliz como queira, ou quero que ela morra
do cogumelo atómico prometido e possível?
Não sei. Definitivamente, não sei.
Julgas que estou deitado num leito de rosas?
— perguntava ao companheiro de tortura Cuauhtemoc(1).
Mas, mesmo destituído, preso e torturado,
ele era o Imperador, descendente dos deuses.
Eu não descendo dos deuses. O corpo dói-me,
que envelhece. O espírito dói-me de um cansaço físico.
As belezas de alma, seja de quem forem, deixaram de interessar-me.
Resta a poesia que me enoja nos outros
a não ser antigos, limpos agora do esterco
de terem vivido. E eu vivi tanto
que me parece tão pouco. E hei-de morrer
desesperado por não ter vivido. Aos 50 anos
nem sequer a raiva dos outros ainda me sustenta
o gosto e a paciência de estar vivo.
Outros que tentem e descubram:
que digam ou não digam é-me indiferente.


(1) Cuauhtemoc tornou-se, em 1520, no 11º e último imperador dos Astecas, após a morte do sucessor de Montezuma II. Ambos simbolizam o fim de uma civilização, em virtude das conquistas expansionistas castelhanas de que Hernán Cortés foi um dos agentes, ao aprisioná-los.

Jorge de Sena

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