Por razões de evidente insuspeita, estou à vontade para não concordar com o Presidente da República quando afirma que a aprovação do orçamento foi "um passo importante". Daqui a um punhado de meses veremos a verdadeira importância do passo.

Com o senhor da biografia da foto, o partido dele jamais passaria pelo vexame de ver o seu principal opositor no governo a dizer, com indisfarçável gozo, "finalmente fui ouvido".

A não perder, na tvi, à hora do telejornal, mais um "momento O Inevitável" patrocinado, pela activa, pelo PS, e pela passiva, pelo PSD. Anima a dra. Cunha e Sá.

Este OE é o que o país precisa e é inevitável. Parece que foi mais ou menos isto que a dra. Ferreira Leite disse no Parlamento. Há dias, sobre o mesmo OE, sugeria praticamente o degredo para os seus autores. Dra. Ferreira Leite, repito-lhe, a única coisa inevitável é a morte. Tudo o mais que procede do entendimento humano, mesmo do pior dele, é sempre evitável. O dr. Pacheco, que é de filosofia, explica-lhe a coisa melhor do que eu jamais poderia fazê-lo.

Calhou ouvir, num programa sobre os 75 anos da rádio pública, a voz do então ministro do Ultramar, Adriano Moreira, em 1961 à chegada a Moçambique. Entre outras exaltadas tiradas de defesa da então nação pluricontinental, Moreira manifestou-se, por entre fartas palmas e vivas, contra, e passo a citar, "o partido racista da ONU". Passaram quase cinquenta anos sobre isto e não sei, porque não leio, se os "manuais" escolares do prof. Moreira ou os seus artiguinhos de jornal ainda tratam a inócua ONU nestes termos. Suspeito que não e que, pelo contrário, a ONU seja hoje para o distinto mestre uma prestigiadíssima organização internacional e não o "partido racista" de outros tempos. Nem vale a pena citar o famoso verso do prestigiado zarolho acerca da "mudança". Todavia, é bem certo que «afora este mudar-se cada dia,/outra mudança faz de mor espanto:/que não se muda já como soía.»