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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

OS SENHORES "9 DE SETEMBRO"

João Gonçalves 8 Set 10

Mas que dizer das figuras ridículas dos líderes da pretensa direita portuguesa, drs. Passos e Portas, um a subir e a descer de tractores, e o outro com um chapéu de palha de aba larga, colocado vagamente de lado, com o dizer "nós semeamos"? Depois admirem-se que o outro leve a legislatura até ao fim. Pobre país.

ELE BASTA-SE

João Gonçalves 8 Set 10

Sócrates apareceu nas escolas. Ao lado do Magalhães e da escritora Alçada. E sempre, consistentemente, do lado da propaganda. Qualquer dia deixará de haver conselhos de ministros. A Sócrates, Sócrates basta. Os outros vão-se apagando até não restar ninguém.

FASCÍCULO DA SÉRIE "O QUE É A VERDADE?"

João Gonçalves 8 Set 10


«Let the jury consider their verdict,' the King said, for about the twentieth time that day.`No, no!' said the Queen. `Sentence first - verdict afterwards.'`Stuff and nonsense!' said Alice loudly. `The idea of having the sentence first!'`Hold your tongue!' said the Queen, turning purple.`I won't!' said Alice.`Off with her head!' the Queen shouted at the top of her voice. Nobody moved.» O excerto precedente pertence ao capítulo XII do livro de Lewis Carroll, Alice in Wonderland. Só menciono isto não fosse alguém pensar tratar-se de algum diálogo travado no "campus" da justiça portuguesa, à Expo. Porque, cinco dias depois de proferidas determinadas condenações em 1ª instância, a realidade imitou a arte como sugeria Oscar Wilde. Duplamente: «sentence first - verdict afterwards» e «off with [their] head[s]. E não me venham, de novo, com perfunctórias certezas. Wittgenstein chamava à certeza "coisa animal", como que íntima. Mas, tipicamente, nestas matérias não há lugar a intimações ou a estados de alma. Ou talvez haja, digo-o com freudiana mania da dúvida. Cito Pedro Lomba, no Público de ontem: «o mundo é apenas, como no título de um livro, a casa do amor e da morte.»

Adenda: Dito isto - e porque percebi isso num lcd, à hora de almoço, que passava a RTP -, parece-me excessiva a presença de Carlos Cruz na televisão, desta vez, e amanhã, na "grande entrevista" da D. Judite. Teria interesse o "debate" que ele mencionou com um dos assistentes do "processo Casa Pia" que "deu a cara". O mais, presumo, é do mesmo, arrisca a banalização e dá razão à facilidade do "somos todos iguais mas há uns mais iguais do que outros". Já chega de perfume de descrédito.

NADA

João Gonçalves 8 Set 10

Mais do que de Queiroz - que assistiu à coisa provavelmente como eu: sorrindo de ironia e cansaço - ou dos pobres dos jogadores, a derrota da selecção nacional na Noruega (considero sempre excelentes estas derrotas por causa do famigerado "ego" nacional) é sobretudo a derrota de um tipo famoso de lixo representado, na circunstância, pelos Laurentinos, pelos Madaíl e pelos Carvalhos secos. É uma derrota política porque fizeram do futebol política e da política futebol como se pode ver todos os dias nas televisões, nos jornais ou nos blogues. Quando tudo é futebol, então nada é futebol. Foi o que aconteceu. Nada.

QUANDO TUDO É CULTURA

João Gonçalves 8 Set 10


«Parece-me que há duas questões distintas a considerar: a primeira é a de saber se há ou não uma mudança de paradigma no tocante à cultura e, muito em especial, no tocante à criação cultural e às artes; a segunda é a de saber se os apoios do Estado à dita criação cultural ávida de subsídios se justificam nessa precisa medida.Quanto à primeira, parece-me evidente que, a haver uma mudança de paradigma, ela vai buscar a sua fundamentação à inépcia, à incapacidade criadora, à ignorância, à facilidade, à permissividade e ao oportunismo. É mais ou menos como na escola. A uma aprendizagem escolar que não vale nada não pode seguir-se uma criação cultural que valha seja o que for. Acontece mais nas artes plásticas e nas ditas "performativas", embora aconteça menos na música, porque esta, pelo menos, obriga a uns aninhos de solfejo… Não vale a pena retomar a questão da nudez do rei (que vai efectivamente em pêlo, tal como veio ao mundo), nem a do coro crítico que a aplaude e legitima pelas mais variadas razões dentro do círculo vicioso de chantagens recíprocas que envolve a crítica e algum jornalismo cultural de amena parceria com artistas, galerias, leiloeiras, museus, investidores e coleccionadores, tornando a criação que se pretende subsidiada uma forma privilegiada de parasitação do Estado para maior glória de todos os comparsas intervenientes. De resto, no tocante às artes plásticas, as grandes crises internacionais têm mostrado bem o desfasamento mais completo entre o valor nominal das grandes colecções que abrilhantam ou caucionam operações financeiras e o seu reduzidíssimo valor real… O que é fundamental situa-se noutro plano: com a pretensa mudança de paradigma e com a legitimação genérica e indiscriminada da proposta soi-disant criativa e artística de todo o bicho careta, a noção de património cultural, seja ele material ou imaterial, tende a esbater-se cada vez mais, até desaparecer por completo. Se todos podem fazer o que lhes der na real gana e assim "geram" património cultural, isso quer dizer que património é tudo. E se património é tudo, isso quer dizer que património não é rigorosamente nada! Ora, passando à segunda questão, o Estado não precisa de se opor a essas bizarras concepções, nem deve fazê-lo. Deve, sim, ignorá-las para efeitos práticos e criar parâmetros de actuação para salvaguarda, valorização e promoção absolutamente prioritárias do património cultural. Quanto a este, o tempo e a consciência colectiva funcionam como filtros imprescindíveis. Trata-se de uma realidade muito complexa e muito rica cujo paradigma, felizmente, ainda não mudou à velocidade e nos termos desejados pelo número infindável dos que estão na fila da sopinha dos pobres. É isso: as políticas da cultura não podem redundar na sopinha dos pobres.»
Vasco Graça Moura, DN

Adenda: Acerca deste "debate" (onde o termo "paradigma" é abusado constantemente), este post em forma de debate. Também Manuel Maria Carrilho - não houve outro ministro da cultura depois dele nem haverá tão cedo por muito que alguns andem no "explicador" - o afirmou recentemente: quando tudo é cultura, então nada é cultura.

Adenda2 (do Carlos Vidal):«Não terei muito tempo para um debate a sério deste texto, infinitamente mais inteligente do que o de Pacheco Pereira. Primeiro, uma questão. E só uma pessoa que conhece o "terreno" da criação a faria; VGM: "Parece-me que há duas questões distintas a considerar: a primeira é a de saber se há ou não uma mudança de paradigma no tocante à cultura e, muito em especial, no tocante à criação cultural e às artes (...)". Boa pergunta, resposta ao mesmo tempo fácil e complexa: há um novo paradigma, ou, se preferir, um novo universo aberto com o grande problema colocado na arte do século XX pelo readymade duchampiano (e suas consequências muito além das artes plásticas, seu berço). Resposta simples, tema complexo - precisamente o do readymade. Mas, tratá-lo com a leviandade de Pacheco, nunca. Faço-lhe notar que VGM e eu, cada um a seu modo, partilhamos relações com certos artistas: por exemplo, Jorge Pinheiro, sobre quem escrevi um livro (Ed Caminho) e VGM poemas e dele é amigo. Em síntese, respeito VGM; não respeito PPereira.»

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