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portugal dos pequeninos

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A APRENDIZAGEM

João Gonçalves 17 Jul 10


Por ocasião da reedição de um grande livro de Deleuze - o da foto - , a coincidência de tanto Proust em posts. Continue. «Il s'agit [na Recherche], non pas d'une exposition de la memóire involontaire, mais du récit d'un apprentissage. Plus précisément, apprentissage d'un homme de lettres

LÍNGUAS DE TRAPOS

João Gonçalves 17 Jul 10

Gabriela Canavilhas é daqueles ministros cujo "fervilhar" de "ideias," de "paixões" e de "entusiasmos" queima uma realidade que ela, manifestamente, não percepciona. Primeiro duvidou da rede de teatros municipais que Carrilho instituiu. Ontem, na posse do novo DGA - coitado, já terá falado com o colega do Orçamento que é quem verdadeiramente determina se ele pode fazer alguma coisa e não Canavilhas? - já o mencionou (a Carrilho) e na "dinamização" da rede de cine-teatros municipais. A cultura, como bem recordou Carrilho na belíssima Casa da Cerca em Almada (com uma vista ainda mais bonita para Lisboa), esta manhã, é um direito dos cidadãos antes de ser de mais alguém. E é igualmente um direito dos cidadãos serem poupados a línguas de trapos como Canavilhas. Já que ela também aprecia "mandar umas bocas" sobre a língua portuguesa e a sua "defesa" (da "lulização"?) quando, cada vez mais, de portuguesa menos tem.

NÃO PEÇA DESCULPA

João Gonçalves 17 Jul 10


Quando pessoas de bem são citadas aqui é porque normalmente estão erradas ou aquilo que dizem convém ao PS "socrático". Por que é que o PR não há-de ter o poder de demitir o 1º ministro? Não se trata de voltar atrás, aos "tempos do General Eanes" - tomara o país ter "mais" Generais Eanes e menos parasitas da "crise"! Trata-se de mudar de regime e de Constituição. Em França, no dia da sua tomada de posse, o presidente, se quiser, pode descer os Champs Élysées com um senhor ao lado que ninguém conhece que a seguir nomeia 1º ministro. E, no dia seguinte, se for caso, pode demiti-lo. Ou seja, o que Passos Coelho sugere ainda é timorato. Mas é um bom passo em frente. Desta vez não peça desculpa.

OS DONOS

João Gonçalves 17 Jul 10

O governo, mesmo ao sábado, manifestou o seu "total apoio e confiança" à administração da PT que aparentemente não se "rendeu" ao "inimigo" espanhol. A PT é um prolongamento, em versão empresarial, do regime. Isto nada tem a ver com o famoso "interesse nacional" que tanto crédulo, das esquerdas às direitas, chamou seu. Todavia, o governo limitou-se a defender o que é "seu". Seu, do Governo e do PS.

«SOBRE ESTA PRAIA ME INCLINO»

João Gonçalves 17 Jul 10



Durante uma fase da minha vida o Guincho foi longamente a minha praia. Com ou sem ventania, basta aquele pedaço da serra de Sintra ao fundo, basta aquela água agitada e fria para o mundo ficar de fora. Foi assim faz hoje uma semana. Ninguém, água razoavelmente fria e um secador automático vindo directamente do céu. Talvez daqui a pouco esteja assim. Ou ao contrário. Não importa. Está lá.

Sobre esta praia me inclino.
Praias sei;
Me deitei nelas, fitei nelas, amei nelas
com os olhos pelo menos os deitados corpos
nus côncavos da areia ou dentre as pedras
desnudos em mostrar-se ou consentir-se
ou em tombar-me intentos como o fogo
do sol em dardos que se chocam brilham
em lâminas faíscas de aço róseo e duro.
Do Atlântico ondas rebentavam plácidas
e o delas ruído às vezes tempestade
que em negras sombras recurvava as águas
me ouviram não dizer nem conversar
mais do que os gestos de tocar e ter
na tépida memória as flutuantes curvas
de ancas e torsos, negridão de pêlos,
olhos semicerrados, boca entreaberta,
pernas e braços se alongando em dedos.
Aqui é um outro oceano.
Um outro tempo.
Miro dois vultos na silente praia
pousada rente à escarpa recortada abrupta
que só trechos de areia lhes consente:
dois corpos lado a lado corno espadas frias.
Ainda que desça a perpassar recantos
onde se acolherão mais corpos nus,
é um outro oceano, um outro tempo em outro
diverso em gente organizado mundo.
Ambíguos corpos, sexos vacilantes,
um cheiro de cadáver, que ao amor não feito
concentra de tristeza e de um anseio
de matar ou ser morto sem prazer nem mágoa.
Aqui mesmo de olhar-se um qual pavor gelado
pinta de palidez o rosto que sorria,
o corpo que se adiante ao gesto desenhado.
E nem mesmo de outrora e de outros mares
se atrevem a deitar-se imagens soltas
que uma vez alegria acaso tenham sido.
Se aqui nasceram deuses, nada resta deles
senão a luz mortal de corpos como máquinas
de um sexo que se odeia no prazer que tenha
e mais é de ódio ao ver-se desejado


Jorge de Sena, Sobre esta praia... Oito meditações à beira do Pacífico, 1977, in Poesia III.


Clip (e a lembrança do Guincho) daqui.

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