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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

DIZ O ROTO AO NU

João Gonçalves 14 Jul 10

Canavilhas foi ao parlamento "explicar" os cortes e o reverso dos cortes. Não "explicou" nem uma coisa nem a outra, remetendo tudo para "as finanças". Provou que não serve mesmo para nada. Mas Canavilhas foi interrogada, entre outros, pela deputada CDS Teresa Caeiro, a "Teggy" para os íntimos. A bravata da "Teggy", contudo, não faz esquecer que partilhou com outra pessoa uma secretaria de Estado da Cultura entre 2004 e 2005. Também, se bem me lembro, não serviu para grande coisa. Um regime em que o roto fala permanentemente com o nu não nos leva a lado algum.

VERSAILLES EM PAIO PIRES

João Gonçalves 14 Jul 10


Por que é que insisto na pobreza de espírito dos nossos monárquicos? Porque os nossos monárquicos ignoram duas evidências. A primeira é que devemos ao 14 de Julho de 1789 a monarquia constitucional que foi, até hoje, o único regime verdadeiramente liberal que conhecemos. A segunda consiste em devermos aos antepassados próximos daqueles pobres monárquicos - que sonham com Versailles em Paio Pires e com uma monarquia ancien régime - a conspiração conjunta com os republicanos que liquidaram, a tiro, a dita monarquia constitucional e liberal, no Terreiro do Paço, em 1908. Maria de Fátima Bonifácio, que não é uma historiadora pequenina como o Tavares do Bloco, acabou de explicar isto mesmo, com meridiana clareza, na tvi24.

O ÓDIO À IMAGINAÇÃO

João Gonçalves 14 Jul 10



O analfabetismo literário traduzido neste post é revelador dos lugares-comuns que vagueiam na cabeça de muito pobre monárquico português. Donatien Alphonse François, mais conhecido por Marquês de Sade, passou a maior parte da vida atrás de grades, vítima da inveja do costume, de inimigos pessoais e de ódios políticos. "Morou" anos a fio na Bastilha, onde, aliás, se encontrava encarcerado (e não "enjaulado" como sugere o subtil autor do post) na data que hoje se comemora em França. Dias antes do "prec" local invadir a prisão, Donatien lançou da janela da Bastilha uns panfletos escritos à mão onde descrevia as degradantes condições a que estava sujeito. Depois dirigiu-se à multidão recorrendo a uma espécie de megafone artesanal. Após ter sido solto, escolheram-no como "presidente" da respectiva "junta de freguesia", dando início a uma campanha anti-religiosa que ajudou a radicalizar a Revolução. Todavia, opôs-se ao "Terror". Quando os seus sogros, responsáveis por muitos dos anos que passou na prisão, foram condenados à morte como contra-revolucionários, Donatien impediu a sua execução. Esta fraqueza custou-lhe, de novo, a liberdade. A jacobinagem mais boçal prendeu-o - era um perigoso "moderado" - e condenou-o à pena máxima. Esperou um ano pela guilhotina. Entretanto acabou libertado com o fim do "Terror" e, daí em diante, viveu na mais horrível das pobrezas. Quando veio Napoleão, Sade não resistiu a escrever uma sátira sobre o corso. Novo azar. Foi condenado a passar o resto da vida num asilo para doentes mentais. D. A. F. de Sade é um grande escritor em qualquer parte ou tempo do mundo. Tout le bonheur des hommes est dans l'imagination, dizia. Tudo o que a maior parte das pessoas, tipicamente, não tem.

SÓCRATES DO OUTRO LADO DO ESPELHO

João Gonçalves 14 Jul 10


Duvido que Sócrates tivesse alguma vez lido Lewis Carroll. Ou que saiba, sequer, de quem se trata. Talvez o termo "país das maravilhas" lhe mova uma sinapse. Todavia, a entrevista ao Financial Times pode ler-se como se fosse Humpty Dumpty a falar. Ora reparem:

«I don't know what you mean by “glory”», Alice said. Humpty Dumpty smiled contemptously. “Of course you don’t – till I tell you. I meant “there´s a nice knock-down argument for you!” “But “glory” doesn't mean “a nice knock-down argument,” Alice objected. “When I use a word, “Humpty Dumpty said, in rather a scornful tone, “it means just what I choose it to mean” – neither more nor less.” “The question is, “said Alice,”whether you can make words mean so many different things.” “The question is,” said Humpty Dumpty, “which is to be master – that's all.”»

Nem mais nem menos.

DO ESTADO E DA NAÇÃO

João Gonçalves 14 Jul 10


O Correio da Manhã prestaria serviço público se se desse ao trabalho de colocar em livro a repugnante "novela" das escutas que envolvem figuras das presentes elites pátrias (ou párias, não tenho bem a certeza). A repugnância, evidentemente, não resultaria do livro em si mas da evidenciação do "nível" dos envolvidos. Aquilo é o verdadeiro "estado da nação". Por outro lado, sempre se poderia cotejar com o livro da foto. Cerejeira e Salazar foram dois portugueses dos mais ilustres do século passado. Amigos em Coimbra, aquando dos estudos, uma vez chegados ao poder - um na Igreja, o outro na política - separaram-se. O caloroso cardeal encontrou pela frente um homem frio devotado ao exercício do dito poder e, como Cerejeira terá confessado a Alçada Baptista, desprovido de amor ao próximo, uma beatitude que só existe para nos maçar. Salazar, tipicamente, definiu-o: «o Cardeal Patriarca é uma excelente pessoa mas é um fraco que pune a seu modo, como ele diz, para significar que não pune ninguém.» Ao contrário dos parvenus concupiscentes que o CM nos serve em doses diárias, estes dois homens, católicos, foram verdadeiros estadistas. Em 46, por exemplo, Salazar não participou ostensivamente nas cerimónias da "consagração de Portugal ao Imaculado Coração de Maria", em Fátima. E em 59, na inauguração do monumento ao Cristo-Rei, foi o último a chegar depois do PR e com um eloquente atraso. Mas talvez esta noção de Estado - com letra grande em vez desse patético "estado da nação" que apenas celebra a progressiva decrepitude da mesma - se tivesse elevado aquando da Concordata que não incluiu, como pretendiam a Igreja e Cerejeira, quaisquer indemnizações ou restituições de património eclesial usurpado pela Lei da Separação vinda da ditadura antecedente, a republicana de Afonso Costa. No final das negociações, numa nota dirigida a Salazar, Cerejeira queixa-se, com ironia, ao Presidente do Conselho. «O Estado Português quase pode dizer que fez uma Concordata sem dar. (...) A maior parte dos artigos da Concordata são já, explícita ou implicitamente, lei portuguesa.» Salazar respondeu secamente: «porque já se deu!».

TENTATIVA E ERRO

João Gonçalves 14 Jul 10


«Getting people right is not what living is all about anyway. It's getting them wrong that is living, getting them wrong and wrong and wrong and then, on careful reconsideration, getting them wrong again. That's how we know we're alive: we're wrong. Maybe the best thing would be to forget being right or wrong about people and just go along for the ride. But if you can do that - well, lucky you.»

Philip Roth, American Pastoral (via Rui Passos Rocha, A Douta Ignorância)

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