Sócrates, essa cansativa figura "sempre-em-pé", veio falar em "boas tradições da política portuguesa." Devia estar a pensar em Salazar e no "orgulhosamente sós" (ou nós, que é mais adequado à personagem e ao heterónimo Lula - oi! - com quem admite "diluir" esta foleira patriotice de circunstância) e na "popularidade" que rende a bandeirinha à janela. Era bom, ao invés desta cada vez mais insuportável tagarelice saloia, que esclarecesse se considera "normal" o défice de 95 milhões na "Estradas de Portugal" que é apenas uma "gota" nos dois mil milhões de euros perdidos até agora pelo Estado à conta das scuts inventadas num governo de que fez parte. Deixe-se, pois, de tretas.

O das artes poderia, até, ser um cretino. Mas a senhora dona consegue, com este comunicado imbecil, ser ainda mais do que ele. Se há coisa que já devia estar extinta, há muito tempo, era a direcção-geral das artes. E, pelo andar da carruagem Canavilhas, o ministério da cultura também. É isso. A senhora não presta.

«Penhoras a artistas em crise aumentaram 20 vezes em cinco anos», lê-se na última página do Expresso. Com o devido respeito, o título está errado. As penhoras não se dirigem a "artistas em crise" mas a contribuintes como eu, o leitor ou um pensionista que aufira, por exemplo, mais de quinhentos euros de pensão de aposentação ou reforma. Se este não pagar o seu imposto, a volumosa pensão é imediatamente penhorada dentro dos valores legais. O mesmo acontece ao vencimento de quem trabalha por conta de outro. O "artista" está tão em crise como qualquer outro contribuinte sem meios para chegar aos jornais ou às televisões para protestar. A mitologia dos "artistas independentes" - a outra face da mesma moeda - precisa ser desmontada. Por uma vez, Miguel Sousa Tavares pergunta bem. «Se os cortes do Estado nos apoios à cultura ameaçam os artistas independentes, por que lhes chamam independentes?»

Silva Pereira (quem?) acusa praticamente Passos Coelho de "traição à pátria" na 1ª página do Expresso. Porquê? Porque Passos estava em Madrid, onde repetiu a sua posição acerca das trapalhadas Estado/PT/Vivo, quando o governo de que Pereira faz parte puxou do comovente galão patrioteiro da golden share. Este Pereira, porém, é o mesmo Pereira de há menos de um ano atrás que pertencia a um governo que acusava de "serôdia" e de "provinciana" a antecessora de Passos no PSD por ela interrogar a utilidade do TGV português quando comparado com o espanhol. Por consequência, este Pereira (que, no dia em que Sócrates desaparecer, desaparecerá para o interior da sua insignificância com a mesma rapidez com que, de colega de curso do edil Costa a mero assessor jurídico de gabinete, apareceu ministro) só tem, do cão, a qualidade da lealdade. Faltam-lhe as outras todas.

O Expresso revela que o dr. Portas, em Fevereiro, na casa do prolixo Basílio Horta (uma espécie de Manuel Pinho em segunda mão), foi "aliciado" pelo admirável líder. Com o quê? Com o "brinquedo" que ele persegue há anos, o ministério dos negócios estrangeiros. Em troca de quê? Do apoio do CDS ao governo do admirável líder. O dr. Amado até estava disposto a ceder o lugar embora agora, suspeita-se, preferisse o do admirável líder no PS. Portas recusou. A emergência de Passos Coelho, porém, deixou-o a emitir ruídos, alternando entre a AR e as feiras, aos quais o país não parece dar demasiada atenção. E Passos conseguiu o impensável. "Deu a mão" a Sócrates sem custos para si próprio, a avaliar pelas sondagens. E, quando ganhar, pode sempre dar o "brinquedo" a Portas sem necessidade de usar garfos e facas. É sempre preferível um magnânimo a um hipócrita.