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portugal dos pequeninos

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A PÁTRIA CHICA

João Gonçalves 29 Jun 10

Enquanto decorria o jogo que, felizmente, devolveu o país à realidade, li uns pequenos artigos de Jorge de Sena acerca de Espanha. Definiu-a bem - «tão cheia de pompa e circunstância para quem vai de Portugal é, para quem regressa da Europa, uma espécie de múmia coberta de jóias e ataduras podres, onde as moscas passeiam ao sol da eternidade.» Fora a primeira parte (o escrito é de 1957), de facto a Espanha de Zapatero mumificou-se em torno de uma pretensa modernidade que nem já a economia salva do tranquilo passeio das moscas e da desagregação regionalista. De resto, como escreveu Sena e acabou de provar-se, «foi perfeitamente justo que tudo acabasse em Alcácer Quibir e em Filipe de Espanha.» É que, «para a maioria dos espanhóis, Portugal ou não existe, ou é uma "pátria chica" que, mais ou menos como disse um famoso autor espanhol, "escolheu a sua própria mediocridade a participar da glória da Espanha".» Nem de propósito, apareceu logo o sr. Lacão a falar numa carta que o sr. Macedo lhe mandou e mais não sei quê. Querem melhor pátria chica do que esta?

Adenda: A "pátria chica" também mora no Monte da Caparica e em coisas como «quando o principal partido a zelar pelos princípios liberais de reserva de privacidade é o Partido Comunista Português; e quando toda a opinião pública se preocupa, essencialmente, com guerras regionais e defesas abstrusas de supostos regimes de excepção; quando tudo isto acontece, torna-se tristemente óbvia a debilidade mental da raça.»

MENOS QUE ZERO

João Gonçalves 29 Jun 10


Mariano Gago, um ministro que em ambas as legislaturas de distinguiu pela irrelevância, vem agora defender que os portugueses devem estudar mais. Gago ficará conhecido, enquanto ministro do ensino superior, apenas como alguém a quem mandaram encerrar estabelecimentos comerciais de má nota a que apelidavam de universidades. De resto, entrou mudo e sairá calado do consulado socrático, com balanço menos que zero. Esta tirada era, por isso, dispensável. Tem tanta autoridade para mandar estudar os outros como eu.

MARIA VAI COM AS OUTRAS

João Gonçalves 29 Jun 10

Oficialmente hoje não há acontecimentos. Não há fait-divers. Seria o dia indicado para "introduzir" as portagens nas scut, para promulgar diplomas, para aprovar leis que acentuam a passividade pátria, para levar caixas multibanco para casa, para forjar diplomas nos liceus e nas universidades, para, em suma, exercitar a arte de ser português. Hoje é dia de "maria vai com as outras" que, verdadeiramente, é todos os dias. Por falar nas scut, faz dó observar aqueles obedientes cidadãos - que devem tocar vuvuzela através do buraco errado - que correram aos Correios para adquirir o kit scuteiro mesmo desconhecendo se aquilo ia entrar em vigor. É com estas "maria vai com as outras" que Sócrates conta. Espremam-se por favor.

Adenda: Por exemplo, isto já é assim uma redacção "a atirar" para o 5º ou 6.º ano da escolaridade obrigatória e com direito a medalha de bronze no meio de outras acerca da vaca, do cão e do papel higiénico. «Anteontem, depois do Brasil- -Portugal, ao ver milhares de portugueses dos mais diferentes cantos do mundo, brancos, pretos, castanhos, muçulmanos, cristãos, hindus, a falar português ou outra língua qualquer, senti que faço parte de qualquer coisa especial. Dum mundo multiétnico, com muitas religiões, muitas cores e, sobretudo, com muita história: o nosso mundo, o mundo português. Obrigado futebol.» Coitadinho e bem haja.

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GRANDES VOZES

João Gonçalves 29 Jun 10



Montserrat Caballé - "De España Vengo", da zarzuela "El Niño Judío", de Pablo Luna. 1975

PANERO

João Gonçalves 29 Jun 10

Un étranger

Produce cierta melancolía,
una tristeza decadente -literaria sin duda-
como algunas canciones de entreguerras
o páginas perdidas de Drieu La Rochelle,
ver a un hombre solo, apartado y distante,
en la barra de un bar con decorado internacional.
En esa imprecisa edad, tan imprecisa como la luz del ambiente,
en que ya no es joven ni viejo todavía
pero lleva en sus ojos marcada su derrota
cuando con estudiado gesto enciende un cigarrillo.
Las muchas canas y las muchas camas,
un indudable estómago que la camisa inglesa apenas disimula,
el temblor, no demasiado visible, de su mano en un vaso,
son parte del naufragio, resaca de la vida.
Un hombre que espera ¿quién sabe qué?
y aspirando el humo, mira con declarada indiferencia
las botellas enfrente, los rostros que un espejo refleja,
todo con la especial irrealidad de una fotografía.
y es aún, algo más triste, un hondo suspiro reprimido,
ver al fondo del vaso -caleidoscopio mágico-
que ese hombre eres tú irremediablemente.
No queda entonces sino una sonrisa: escéptica y lejana,
-aprendida muy pronto y útil años después-
de un largo trago acabar la bebida,
pagar la cuenta mientras pides un taxi
y decirte adiós con palabras banales.

"Antes que llegue la noche", 1985

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