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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU

É PROIBIDO?

João Gonçalves 19 Jun 10

O tom consensual e jubilatório em volta das exéquias oficiais de Saramago roça o obsceno patético. Não haverá ninguém que tenha a coragem - ou a oportunidade - de manifestar outra opinião sem ser votado ao ostracismo ou acusado de bruto? Ou é proibido não ser "fã" do escritor e do homem?

Adenda: Uma parvinha da RTP (a Felgueiras júnior) quer à viva força que Cavaco Silva apareça. E apareceram Céu Guerra e a tonta Roseta, para a secundar, a "mandar" Cavaco aparecer. Está tudo doido ou é mesmo assim?

Adenda2: Mas lá fora há direito a pensar de outra forma. «Foi um homem e um intelectual de nenhuma admissão metafísica, ancorado até ao final numa confiança arbitrária no materialismo histórico, aliás marxismo. (...) Colocado lucidamente entre o joio no evangélico campo de trigo, declara-se sem sono pelo pensamento das cruzadas ou da Inquisição, esquecendo a memória do ‘gulag’, das purgas, dos genocídios, dos ‘samizdat’ culturais e religiosos. (...) Relativamente à religião, atada como esteve sempre a sua mente por uma destabilizadora intenção de tornar banal o sagrado e por um materialismo libertário que quanto mais avançava nos anos mais se radicalizava, Saramago não se deixou nunca abandonar por uma incómoda simplicidade teológica.»

Adenda3: Para mim também. «Para mim, literatura é outra coisa. Ofício de palavras e não de ideologias. Com ou sem vírgulas, com ou sem parágrafos, com ou sem maísculas. Até porque muitas vezes o estilo, como bem disse o Mário Quintana, "é uma dificuldade de expressão".»

Vale a pena seguir as ligações indicadas pela Helena Matos e assim sucessivamente. É simples - ou , melhor, simplex - e constituem contributos para a desgraçada "história" de umas quantas esforçadas almas, umas com cara e olhos, outras cegas de profissão, que serviram (e servem) o "socratismo" praticamente de joelhos, agora que ele começa a "dar de si". As coisas - literalmente - são o que são e foram o que foram. Não adianta tentar reciclar estas.

UM PRESIDENTE METICULOSO

João Gonçalves 19 Jun 10


«Nem vale a pena falar daqueles que, à esquerda, convictos de que a presidência é a sua reserva natural, desde o primeiro dia se prepararam para tratar como intruso um presidente em quem não mandaram votar. Para eles, tudo nesta presid~encia foi "sabotagem" da governação ou indício de uma "agenda conservadora". Mas nem por isso as direitas foram capazes de mostrar-se satisfeitas. Há por esse lado quem não perdoe ao Presidente não ter combatido ou ganho as guerras que as próprias direitas não quiseram combater ou não souberam ganhar no tempo e no lugar certos. (...) Prometeram-nos em 2006 que o antigo primeiro-ministro não saberia ser presidente. Afinal, soube. Contra os devaneios de uma presidência executiva ou profética, respeitou a concepção institucionalista da função. Por convicção? Por feitio? Por cálculo? Não importa agora o motivo, mas o resultado. O seu mandato ficou definido pelo protesto contra o Estatuto Político-Administrativo dos Açores, em Julho de 2008, quando a constituição foi cinicamente pisada para servir os interesses eleitorais dos partidos. Nem a classe política nem a população, indiferentes a tudo o que não diga respeito ao poder e às suas benesses, o pareceram compreender. Pudemos então medir a ocasional solidão de um Presidente meticuloso. A exorbitância é uma das tendências dos nossos órgãos de soberania: proliferam, com sucesso, os juízes que se julgam justiceiros e os governantes com aspirações a demiurgos. Raramente um titular de cargo público admitiu não poder corrigir e salvar o mundo: era só ter os "recursos" necessários ou o apoio "suficiente". Contra a corrente, tivemos nestes anos um Presidente que, com mais ou menos felicidade, acabou por ser apenas o Presidente tal como estava previsto na constituição - nem o messias da pátria aflita, nem o vingador das oposições, nem o guarda-portão de um qualquer sectarismo. Saberemos perdoar-lhe esse escrúpulo?»

Rui Ramos, Expresso

O QUE VALE...

João Gonçalves 19 Jun 10

Um prémio Nobel da literatura? E «o que unirá estes (...) escritores? Leo Tolstoy; Fernando Pessoa; Jorge Luís Borges; [Thomas Mann]; Marguerite Duras; James Joyce; Iris Murdoch; Salman Rushdie; Ian McEwan; Jorge Amado; Rafael Alberti; Mario Vargas Llosa; Andrè Malraux; Marcel Proust; Ezra Pound; Vladimir Nabokov; August Strindberg; Henrik Ibsen; Émile Zola; Mark Twain; Anton Chekhov; Eugène Ionesco. Nenhum deles conseguiu ganhar o Prémio Nobel.»

DA MUTILAÇÃO

João Gonçalves 19 Jun 10


Isto nada tem a ver com Saramago porque, dizem, era um tipo do "futuro" e o país, a esta hora, está de cócoras a contemplar-se nesse "futuro". É antes do "avant-propos" do livro de um autor bem mais "modesto" e "desnobilizado", Jean Daniel. Daniel tem a bonita idade de 90 anos. E o livro recolhe cinquenta e um "retratos" de pessoas que conheceu, da mãe a Gide, Malraux, Mitterrand, Camus, Foucault, Barthes ou Derrida. É precedido de uma epígrafe de Apollinaire. «Rien n'est mort que ce qui n'existe pas encore/Près du passé luisant demain est incolore.» Reaccionário? Impossível. Daniel é um compagnon de route socialista. E Apollinaire, enfim, está permanentemente a ir e vir de e para outro planeta. No dito "avant-propos", Jean Daniel fala dos "seus" mortos como se poderá falar dos "nossos" vivos. «Tant que les amis demeurent, ils remplacent les enfants, mais dés que l'un d'entre eux disparait, c'est une mutilation qui souligne la solitude, la poussée des générations et l'épreuve de l'expulsion.» O tempo não é mais do que isto. Mutilação, solidão, expulsão.

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