Ontem, à saída de uma reunião, e quando me preparava para cumprimentar uma das circunstantes, a senhora fugiu esbaforida e indignada porta fora clamando ser mulher de não sei quem. O que é que a referida senhora não teria feito se alguém tivesse escrito, com todas as letras, que o não sei quem com quem é casada é um "filho da ...." como esse não sei quem escreveu acerca de quem apenas a pretendeu cumprimentar. Há mãos que, afinal, embalaram berços que não serviram para nada. A jovem afogueada e catolicíssima senhora que me perdoe a sugestão - ando muito com ele agora - mas leia, se puder, o prefácio de Jorge de Sena ao seu livro de contos Os Grão-Capitães. Dizem-me, alguns amigos, que sou (ando) muito amargo e, outros, que ressumo crueldade e veneno. Pois bem. Sena afirmava cruéis os ditos contos. E continuava. «Diz-se às vezes que há muito amor do mal no evocá-lo e referi-lo. E que é disso que ele se perpetua. O mal não se perpetua senão ao pretender-se que não existe, ou que, excessivo para a nossa delicadeza, há que deixá-lo num discreto limbo. É no silêncio e no calculado esquecimento dos delicados que o mal se apura e afina - tanto assim é, que é tradicional o amor das tiranias pelo silêncio, e que as Inquisições sempre só trouxeram à luz do dia as suas vítimas, para assassiná-las exemplarmente. Por outro lado, o que parece amor do mal é uma infinita piedade de que os "bondosos" e os "puros" se cortaram: uma compreensão e um apelo em favor de que o amor do "bem" não alimente nem justifique a monstruosidade do mal, tanto mais monstruoso quanto mais, a idealização desse "bem" o confinou a ser. Assim, se estes contos são cruéis, a crueldade não é deles, nem de quem os escreveu, mas do que fizeram à vida. E esta só é monstruosa, não porque algo o seja em si, e sim porque o repouso egoísta, a ignorância, a falsa inocência, são sempre feitas de um crescente juro de monstruosidade (...). Num dos meus contos, de que mais gosto, Mar de Pedras, fiz que um sábio que era um santo dissesse, compreendendo-os e perdoando-lhes, a ladrões e assassinos: «Nunca vos falaram como a filhos, nunca vos pagaram como a homens, nunca vos trataram como a anjos.» E creio que isto basta, minha senhora.
Primeiro tem de me explicar o que é isso do “desta...
obviamente nao é culpa do autor ter sido escolhi...
Estou de acordo. Há questões em que cada macaco se...
Fui soldado PE 2 turno de 1986, estive na recruta ...
Então António de Araújo foi afastado do Expresso p...