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portugal dos pequeninos

Um blog de João Gonçalves MENU
Ontem e anteontem decorreram eleições no PSD para os delegados ao congresso extraordinário, não electivo, de Mafra. Passos Coelho elegeu praticamente 70% deles através de listas que lhe foram afectas. Os "kims" começaram mais ou menos assim. Cuidado.

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ARMISTÍCIO MORAL?

João Gonçalves 3 Mar 10

Li este poema de Jorge de Sena no livro ali à direita, "um violento poema de Lisboa", como o designa Sena em carta a Sophia, de 1971. Passaram quase quarenta anos. Há liberdade hoje? Há, mas como acentuou há pouco o José Adelino Maltez na SICN, sem ética (não a da estúpida comissão parlamentar) a liberdade é pó. Chamou-lhe, bela expressão, armistício moral. Porém, isto, quarenta anos depois, persiste mais ou menos isto. E não é só, ou sobretudo, de política que falo. É liberdade esta coisa tagarela tomada por Portugal? É possível algum armistício moral que brote do puro esterco em que tudo se conformou?


Que esperar daqui? O que esta gente
não espera porque espera sem esperar?
0 que só vida e morte
informes consentidas
em todos se devora e lhes devora as vidas?
O que quais de baratas e a baratas
é o pó de raiva com que se envenenam ?
Emigram-se uns para as Europas
e voltam como se eram só mais ricos.
Outros se ficam envergando as opas
de lágrimas de gozo e sarapicos.


Nas serras nuas, nos baldios campos,
nas artes e mesteres que se esvaziam,
resta um relento de lampeiros lampos
espanejando as caudas com que se ataviam.


Que Portugal se espera em Portugal?
Que gente ainda há-de erguer-se desta gente?
Pagam-se impérios como o bem e o mal
— mas com que há-de pagar-se quem se agacha e
[mente?


Chatins engravatados, pelenguentas fúfias
passam de trombas de automóvel caro.
Soldados, prostitutas, tanto rapaz sem braços
ou sem as pernas — e como cães sem faro
os pilhas poetas se versejam trúfias.


Velhos e novos, moribundos mortos
se arrastam todos para o nada nulo.
Uns cantam, outros choram, mas tão tortos
que a mesquinhez tresanda ao mais singelo pulo.


Chicote? Bomba? Creolina? A liberdade?
É tarde, e estão contentes de tristeza,
sentados em seu mijo, alimentados
dos ossos e do sangue de quem não se vende.


(Na tarde que anoitece o entardecer nos prende).

FIM AO CIRCO

João Gonçalves 3 Mar 10


A prova de que a Comissão de Ética criada agora é inútil é precisamente o facto de estar lá sentada esta tarde, a dizer o que disse e bem, Manuela Moura Guedes. Se aquilo servisse para alguma coisa e não só para masturbar gratuitamente a merda que é este país, arranjava-se maneira de Guedes não estar. A jornalista faz muito bem em deitar tudo cá para fora mas, depois disto, chega de circo porque nem ela nem os senhores que avaliam merecem tanta atenção.

O SUPRA-GUTERRES

João Gonçalves 3 Mar 10


Nos bocadinhos que vi, o Paulo Rangel pareceu-me um pouco pálido para o costume. Politicamente pálido. E o que lhe sobra em gramática, falta a Passos Coelho o que é algo que impressiona muito o "zé militante" pouco dado a sofisticações retóricas. Nada, porém, que não se burile como uma vulgar toponímia capilar. Talvez esta seja mesmo uma possível leitura da coisa. Passos quer ser o "bonzinho" do PSD quinze anos depois do bonzinho Guterres no PS. Guterres "pegou" porque a opinião que então se publicava e ouvia (sensivelmente a mesma ecologia malsã de hoje) sugeriu fartura de crispação e o fim de um "ismo", "razão e coração". E o país aceitou o delíquio e a ilusão como a rapariga da Tabacaria de Álvaro de Campos comia chocolates sem mais metafísica. Se calhar, por interposto Passos, a coisa ainda se repete à direita. Eu só quero Cavaco reeleito.

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NÃO CHEGA

João Gonçalves 3 Mar 10


No Correio da Manhã, Maurício do Vale elogia a ministra da cultura por ter incluído num conselho qualquer de "cultura" a chamada "cultura taurina", vulgo as touradas. Tenho asco a touradas e só aprecio as chocas porque é o mais próximo que conheço da raça lusa no seu estado actual. Considero um primitivismo os touros de morte e, se possível, ainda mais primitivo andar ali às rodas a picar os animais em danças que têm mais de efeminadas do que de másculas. Só se perdem, por isso, as marradas dadas nas barreiras. Dito isto, Maurício tem razão. O que Canavilhas permite que se esteja a fazer do São Carlos releva mais da "cultura taurina" - que ela aparentemente protege - do que do teatro lírico tal como sempre foi entendido lá fora e cá até ao presente descalabro pornográfico. Ser apenas bonita não chega.

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