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portugal dos pequeninos

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A VOZ DO PROFETA

João Gonçalves 14 Jan 10

Se V., leitor, fosse o dr. Mário Soares, estivesse no lugar do dr. Mário Soares e tivesse, sobretudo, a actual cabeça do dr. Mário Soares que acredita em profetas como Lula ou Chávez, também não condenava "as vozes do derrotismo"?

A PRÓXIMA BOLHA

João Gonçalves 14 Jan 10

«Como se tem visto desde o Verão de 2008, não há para esta crise nenhuma solução imediata que não agrave, a prazo, o problema. Ora, uma verdadeira solução não é a que adia o problema, é a que o elimina. E, até aqui, o que temos visto não é isso: a enorme dívida privada tornou-se numa imensa dívida pública, transformando os Estados nos prováveis agentes da próxima bolha, que se antecipa bem mais difícil de enfrentar do que a última.»

Manuel Maria Carrilho

O TGV

João Gonçalves 14 Jan 10


... é aparentemente uma mera questão de eliminação de barreiras psicológicas. Mendonça, o ministro, resume-se afinal a ter apenas bom aspecto e em ainda não ter ousado em francês. Em compensação, promete uma praia a Madrid.

16-25

João Gonçalves 14 Jan 10

O Príncipe Carlos de Inglaterra encomendou um estudo à Prince's Trust que chegou à conclusão de que a actual geração dos 16 aos 25 anos é uma "geração perdida". O epíteto é utilizado porque as pessoas que hoje estão nesse patamar etário, de um modo geral, ou não têm emprego ou têm um péssimo emprego a nível remuneratório. Em Portugal, o Eurostat fala num desemprego de 19% nessa geração, números a meio da tabela europeia. No entanto, e apesar de os valores de Espanha serem de 44%, aquilo que aqui ao lado é chamado de "geração mil euros", cá significam €500.
Sucede que não pertencer a um grupo de "perdidos" depende da educação e não somente da vida material. Ausência de salário ou um salário ridículo é a realidade da maior parte dos jovens e é sobre isso que tem de ser posta em prática a existência. Independentemente do dinheiro ser um factor essencial de alcance de dignidade, só depende do "jovem" ser estúpido ou não ser, ser humilde ou não ser, ser capaz ou não ser, ter amor próprio ou não ter e por aí em diante. A educação, no caso, significa poupança e prioridades. É que, ao mesmo tempo que estas realidades constroem o perfil maioritário, há pessoas da mesma idade, e não são dois ou três e sim um hábito cultural, a ganhar mais de €1500 e que assumem que a vida em casa dos Pais é para manter, os ipods para comprar, os carros bons para ter, as viagens para fazer. Estas coisas fazem-se quando podem fazer-se, não se fazem porque o básico está garantido pelo banco alimentar contra a emancipação. As pessoas querem tudo e tudo ao mesmo tempo, com certa ingenuidade e egoísmo, como se fosse assim que as coisas acontecem. É evidente que quem não tem estofo para aguentar certo tipo de contrariedades quando elas aparecem, só pode ser considerado "perdido". Deixar que as contrariedades cheguem o mais tarde possível também é uma grande burrice. Com efeito, uma vida austera moral e materialmente não faz mal a ninguém e é o caminho correcto para a conquista saborosa de todos os desejados prazeres, incluindo os materiais.

UM POEMA

João Gonçalves 14 Jan 10


Páramo

Na varanda sem paz eu vejo o mar
mas já não vejo junto desses olhos
que viam o mar amordaçar-me.
A varanda, todavia, ainda traz
na ondulação, nas maresias
a ilusão de um silêncio
em que tu pretendias: aqui,
nesta lei tão dura, senti
que nada mais terei do que ser de ti.
A varanda continua a sua conjura,
eu continuo o desgaste do mar
só que noutra jura a tua vida dura
e até o mar te deixou de esperar.

O vário vento que vem e que voa
sobre argolas com vasos de gerânios
que tombam vagarosos e rosas
sobre ruas ruidosas de Lisboa
toca ao de leve no copo por que bebo
esquecido e sozinho ali
onde dantes vinhas com o maior apego
ouvir ao fim da tarde eu olhar para ti.

Ao alto dessas ruas que Lisboa já não tem
havia um andar quase arruinado
com o estilhaço, a cólera, o fermento
de quem se resignava também
a que não valesse a pena nada.
No vagar desse desmoronamento
essa ruína foi tua e foi minha,
o seu reboco de cal, a pele refém,
a cisterna petrificada.
Amávamo-nos entre eléctricos que passavam
do nascer do dia até ao nascer do dia.

Não há nada que se peça que nos seja dado
mesmo quando gritamos alto por perdão.
Merecemos tudo o que ficou fragmentado
no pensamento que não sabe inebriar-se
quando os sentidos perderam o condão.

Essas ruas de Lisboa que findaram
como findaram os dedos que prenderam
o bordão de ternura
que tantos outros nos cortaram.

Tal qual o prédio caímos
e apenas o pó
desenha entre o que nem persigo
um resto que sabe que está só
porque nenhuma solidão vem ter consigo.



Joaquim Manuel Magalhães, Alta Noite em Alta Fraga
Lisboa, Relógio d'Água, 2001


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