
«Para acontecerem os tumultos gregos, mais que descontentamento ocasional, são necessários dois elementos principais. O primeiro é uma desilusão profunda e recalcada, desconfiança latente e generalizada, raiva surda e intensa. Se ouvirmos as conversas de café e comentários de blogs parece que tal estado de espírito já domina em Portugal. Muito disso é a tradicional resmunguice nacional. Mas algo começa a despontar. O início foi o sonho guterrista de uma prosperidade sem custos. Lançou-se então o endividamento nacional e a bola de neve orçamental que já fez fugir dois primeiros-ministros, cair um terceiro e oprime o actual. Os protestos de professores e os medos dos jovens, bem como as esperanças de PCP e BE, clivagens no PS, crise do PSD e oportunismo do PP nascem daqui. Mas é crucial notar as diferenças entre a tempestade lusitana e o furacão helénico. Na Grécia a desilusão, desconfiança e raiva são muito mais antigas e profundas, num país muito mais difícil de governar. Teríamos de descer alguns degraus de decadência para chegar a esse estado, que atingimos em 1580, 1839, 1908 e 1925. O segundo elemento, indispensável para passar dos sentimentos e palavras aos actos, é uma liderança clara. O que começa espontaneamente só permanece se for planeado. Tal orientação, conseguida na Grécia pelo antigo e poderoso movimento anarquista, ainda falta por cá. Em Portugal até os extremistas são boas pessoas.»
João César das Neves, Diário de Notícias
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