
Era muito novo e demasiado "adulto" para a idade. Nesse dia de Janeiro de 1986, meti-me cedo num comboio para o Porto e a meio da tarde estava sentado numa sala da sua casa a "entrevistar" Manoel de Oliveira. O João Amaral e o Semanário de Cunha Rego "mandaram-me" lá. Ia aparecer o Soulier de Satin, baseado na obra homónima de Claudel. Falámos longamente, rodeados pelas fotografias da família. Encontrámo-nos, de novo, num outro comboio, cerca de três anos depois. Eu vinha de Guimarães e ele entrou em Gaia. Recordei-lhe a entrevista. Estávamos praticamente sozinhos na carruagem de 1ª classe da CP pré-Alfa Pendular. Jovial, amável, conversador, sem tiques de celebridade como o ressequido Saramago. De lá para cá, envelheci muito mais do que ele jamais envelhecerá. Citado por Eduardo Prado Coelho em A Mecânica dos Fluídos, Oliveira descreve a imagem. «Como sabem, a gama de cor é enorme e o que é visível é muito pequeno. Para a nossa vista o que está aquém dos raios vermelhos já não se vê e o que está para além dos raios violetas também já se não vê. Se nós tivéssemos uma visão total, talvez que pudéssemos ver a alma...» É a isso que o cinema tantas vezes incompreendido de Oliveira nos leva. A "ver a alma" das suas "desalmadas" personagens. Os brutos acham-no "parado". Como ele, na juventude e na ironia do seu centenário, se deve rir deles. Parabéns, Manoel.
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